Caridade, justiça e encarceramento em massa: como visitar os presos me transformou

Algumas coisas não me surpreenderam durante minha primeira visita a uma instalação correcional estadual em 2011. Quando me envolvi com o Partakers, um programa de mentoria do documentário College Behind Bars, que reúne voluntários com homens e mulheres encarcerados trabalhando por um diploma universitário, o coordenador do programa me deu muitos conselhos: deixe suas jóias em casa — você não vai gostar da aparência dos armários. Use sutiã esportivo – os detectores de metal são muito bons e, se eles dispararem, você vai para casa. E não programe nada para o resto do dia — as linhas se movem em passos de caracol.

Outros aspectos da minha visita desafiaram as expectativas. Hollywood me fez acreditar que eu conheceria Tom, a quem eu me apresentei via carta, em uma cabine para visitas com uma partição de vidro separando nós dois e que ele estaria usando um macacão laranja. Ao invés disso, todos os visitantes foram reunidos em uma sala larga e aberta, onde fomos recebidos por homens vestindo jeans e camisetas brancas. Tom me cumprimentou com um aperto de mão caloroso e firme, o que foi uma outra surpresa. Eu não achei que contato físico seria permitido, por isso não antecipei as mensagens transmitidas silenciosamente na pegada confiante, mas gentil, de Tom.

Embora eu não me lembre o que esperava exatamente do Tom, eu claramente me lembro da pontada de auto censura quando fui surpreendida por seu aperto de mão. Que vergonha por ter noções preconcebidas de uma pessoa que eu não conhecia, meramente por ele estar encarcerado. Esse foi o primeiro de muitos momentos em que fui sacudida e cresci no meu relacionamento com o Tom.

Momentos de encontro com o outro podem ser pessoalmente transformadores, e isso é uma das maiores graças de pôr as Obras Corporais de Misericórdia — sete instruções baseadas nos ensinamentos de Jesus — em ação. Essas obras oferecem um caminho claro para honrar a dignidade de todas as pessoas, e nos abrem para experimentar nossa humanidade compartilhada com os famintos, os que têm sede, os doentes, os marginalizados, vulneráveis e irmãos e irmãs encarcerados.

Como todas as obras de misericórdia, existem muitas maneiras de pôr em ação a visita aos presos. Aqui vão algumas:

Visite alguém na prisão

Numerosas organizações coordenam relações entre voluntários e as pessoas atrás das celas. Pen América e Prison Fellowship são dois exemplos, mas uma busca rápida pelo Google mostrará outras em sua área. Ou descubra se sua paróquia ou diocese tem um ministério de visita às pessoas encarceradas. Alternativamente, considere suas próprias redes sociais: você conhece alguém, ou conhece alguém que conhece alguém, que está preso? Se você tem receio de sua visita não ser bem-vinda, envie uma carta primeiro para obter mais informações.

Torne-se um amigo por correspondência

Se visitar não for possível, considere desenvolver uma amizade por correspondência. Muitas pessoas na prisão, especialmente aqueles no corredor da morte, têm um contato mínimo com o mundo lá fora, e as cartas servem tanto para dar notícias quanto para dar uma conexão humana. Como uma visita, você pode começar escrevendo para alguém em sua rede social. Antes de escrever, visite o site da prisão para ler suas regras e procedimentos, e também verifique a folha de dicas de Mary Catherine Johnson para escrever cartas. Embora Johnson escreva sobre sua experiência de correspondência com alguém do corredor da morte da Geórgia, ela inclui excelentes conselhos gerais que são universalmente úteis.

Faça parte da reforma da justiça criminal

Eu ouvi dizer que caridade e justiça são os dois pilares do amor em ação: obras de caridade respondem às necessidades imediatas e a justiça social aborda as causas sistêmicas e raízes dos problemas. Eu diria que a caridade e a justiça são a lagarta e a borboleta da vivência da mensagem do Evangelho. Encontrar-se com o “outro” através das Obras Corporais de Misericórdia faz nascer uma transformação pessoal e uma renovada fome por justiça. O desejo de viver caridosamente me levou até Tom, e por sua vez, Tom me levou a ser desafiada e transformada. Embora eu não visite mais Tom – ele se formou no programa e eu me mudei – eu sei que sua formatura não o levou à sua liberdade condicional. Meu cuidado por Tom e pelos outros 2,2 milhões que sofrem sob o peso da encarceração em massa impacta minhas orações, minhas decisões na urna de voto, como eu converso com as pessoas atrás das grades, e minhas escolhas acerca de doações de caridade. Nosso encontro fez nascer em mim a convicção que eu devo desempenhar um papel no trabalho pela justiça por todos os membros de nossa humanidade compartilhada.

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Autor: Teresa Coda

Teresa Coda trabalha como diretora de formação de fé em uma Igreja católica. Ela tem mestrado em Divindade pela Harvard Divinity School, onde estudou teologia, cuidado pastoral e acompanhamento. Ela mora em Providence, Rhode Island, com o marido.

Fonte: BustedHalo 

Traduzido por Guilherme Guimarães de Miranda – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação

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