Nós, agora, voltamos a nossa atenção à “última” Pessoa da Santíssima Trindade – o Espírito Santo, que é chamado “Conselheiro” (Jo 14,16) e nos permite clamar “Abba, Pai” (Rm 8,15).
Desde as primeiras páginas da Sagrada Escritura, lemos sobre o “Espírito de Deus” misteriosamente “movendo-se sobre a face das águas” no início da criação (Gn 1,2). Como os profetas posteriores, o patriarca José estava tão cheio do “Espírito de Deus” que até o faraó ficou surpreso com sua capacidade de interpretar sonhos (ver Gn 41,38). Foi profetizado que a era do Messias seria marcada pela inspiração vinda do Espírito de Deus:
“Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões.” (Jl 3,1)
E o próprio Messias seria ungido pelo Espírito:
“E o Espírito do Senhor repousará sobre Ele… O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para trazer boas novas aos aflitos…” (Is 11,2; 61,1)
O Espírito Revelado
De fato, o Espírito Santo esteve ativo durante toda a Antiga Aliança na vida do povo de Israel (cf. At 1,16). Numerosas imagens foram dadas ao Espírito de Deus no Antigo Testamento, que é descrito de várias maneiras, como a unção de Deus, um fogo purificador, uma nuvem misteriosa que torna Deus presente enquanto também O esconde dos olhos mortais, e o dedo de Deus ativo no mundo, entre outros. No entanto, durante este período da história da salvação, antes da chegada da plenitude dos tempos em Cristo, a personalidade distinta do Espírito Santo permaneceu oculta. A compreensão das pessoas sobre o “Espírito do Senhor” permaneceu vaga. Talvez essa frase se refira ao próprio Deus, que é espírito (cf. Jo 4,24), ou ao poder de Deus ativo no mundo, semelhante à sua “Sabedoria”, que é frequentemente descrita em termos pessoais (cf. Pv 8; Sb 6 – 9; Eclo 1,1-10, 4, 11-19, 24,1-22; etc.). Para a humanidade saber que o Espírito Santo é uma Pessoa divina distinta – de fato, que Deus é uma Trindade – isso precisava ser revelado por Cristo. Assim como Cristo revelou o Pai e o Filho, também revelou a Pessoa do Espírito Santo, que é enviada aos renascidos pela graça.
Batizado no Espírito Santo
Desde os seus primeiros dias, a Igreja teve consciência da divindade do Espírito Santo, fato particularmente atestado pelo sacramento do Batismo. Sob a autoridade do próprio Jesus, todas as nações devem ser batizadas “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,20). João Batista profetizou que o batismo daquele que viria depois dele, o Messias, é algo novo — um batismo “no Espírito Santo” (Mt 3,11). E no Evangelho de João, Jesus conecta o batismo e o novo nascimento no e através do Espírito:
“Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3,5; ver 7,38–39)
Preenchido pelo Espírito
Embora toda a Trindade estivesse em ação na história da salvação desde a criação do mundo, o momento poderoso da vinda do Espírito Santo ocorreu na encarnação de Cristo, quando o Espírito envolveu Maria e o “Verbo se fez carne” (cf. Lucas 1,35). Em Pentecostes, cinquenta dias após a ressurreição de Jesus, o envio do Espírito sobre os discípulos foi tão profundo que se poderia dizer, em certo sentido, que o Espírito “ainda não havia sido dado” (Jo 7,39). Concedido, após sua ressurreição, Jesus soprou sobre seus apóstolos, dando-lhes o Espírito Santo para que pudessem perdoar os pecados (cf. Jo 20,22). O dom completo do Espírito, no entanto, foi dado em Pentecostes, vindo em rajadas de vento como línguas de fogo. Ora, falando nas várias línguas dos presentes em Jerusalém pelo poder do Espírito, os apóstolos pregavam o Evangelho:
“Todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a palavra de Deus”. (At 5,31)
A totalidade dos Atos dos Apóstolos é um testemunho em nome da grande verdade da fé de que o Espírito Santo é Deus.
Entendendo o Espírito Santo
No entanto, a Igreja primitiva procurou cuidadosamente explicar esse dogma com mais clareza, contra aqueles que negavam o que havia sido revelado a respeito do Espírito Santo. Obras importantes, escritas por santos como Atanásio (c. 296–373), Basílio de Cesareia (330–379), Gregório de Nissa (c. 335–c. 395) e Gregório de Nazianzo (c. 329–390) defender a divindade de Cristo também abordou a divina Personalidade do Espírito. Esses foram os importantes santos que defenderam a divindade e a pessoa distinta de Cristo e do Espírito Santo. Os dois primeiros concílios ecumênicos, Nicéia I (325) e Constantinopla I (381) definiram esse dogma, primeiro proclamando a fé no Espírito Santo e expandindo o Credo para dizer:
“Creio no Espírito Santo, o Senhor, o doador da vida, que procede do Pai; que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, que falou pelos profetas”.
A procissão do Espírito Santo
Uma questão final precisa ser enfrentada em relação às três Pessoas divinas: o que significa dizer, como católicos romanos (e alguns católicos orientais) fazem no Credo na Missa, que o Espírito Santo procede “do Pai e do Filho”? Diferenças de linguagem e ênfase levaram o Oriente bizantino e o Ocidente latino a caminhos diferentes em relação a essa questão. Eventualmente, juntamente com outras questões, ocasionou uma divisão entre a Igreja Católica e a Ortodoxia Oriental no século XI. Hoje, concorda-se que ambos os entendimentos podem viver juntos, em paz, porque enfatizam dois aspectos do mesmo mistério. A prática oriental (que também é normativa nas Igrejas Católicas Orientais de Rito Bizantino) enfatiza que o Pai é a primeira Pessoa, da qual procedem as outras duas Pessoas divinas – o Pai envia o Espírito, que pode ser corretamente chamado de “Espírito do Pai” (Mt 10,20). A ênfase católica ocidental está na distinção entre o Filho e o Espírito e que o Espírito é o “Espírito do Filho” (Gl 4,20). Para unificar esses dois pontos de ênfase, os teólogos sugeriram a seguinte abordagem: o Espírito Santo procede do Pai, através do Filho.
A importância do Espírito Santo
Toda moralidade e oração católicas estão enraizadas no ensinamento dogmático da Igreja sobre a Trindade. Isso se torna óbvio quando pensamos no papel do Espírito em nos tornar novos por meio do batismo. Assim como o Espírito veio sobre Jesus em seu batismo (cf. Lc 4,1 e 4,18), também todos os batizados devem ser guiados pelo Espírito e se tornar filhos e filhas de Deus (cf. Rm 8,14). À medida que desenvolvemos nossa salvação pela graça, somos libertos da escravidão de nossas paixões e do pecado. Isto é o que São Paulo quer dizer quando contrasta “a carne” e “o espírito”:
Porque nós mesmos éramos outrora insensatos, desobedientes, desviados, escravos de várias paixões e prazeres… sua própria misericórdia, pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou abundantemente sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, para que pela sua graça fôssemos justificados e nos tornássemos herdeiros na esperança da vida eterna. (Tt 3,3–7)
Em outras palavras, os ensinamentos da Igreja sobre Jesus Cristo e o Espírito Santo são vitais para nossa compreensão de que fomos “divinamente remodelados” por um relacionamento pessoal com o Espírito, que nos refaz à imagem de Cristo para sermos verdadeiros filhos e filhas do Pai. Na verdade, nossa nova vida moral dá testemunho do fato de que permanecemos em Deus e Ele em nós (cf. 1 Jo 2–4). Como católicos, porém, vemos que esse relacionamento pessoal com Cristo não é um relacionamento “privado”. Renascemos em Cristo como membros da Igreja, que é seu Corpo Místico, formado por nosso renascimento no Espírito (cf. Rm 12,4–5; 1 Cor 12; Ef 5,24–33). Em seguida, o Catecismo volta sua atenção para a Igreja, e chegamos a uma compreensão mais profunda do papel que o Espírito Santo pensa para sua vida.
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Autor: Dr. Matthew Minerd
Professor de filosofia e teologia moral no Seminário Católico Bizantino dos Santos Cirilo e Metódio em Pittsburgh.
Fonte: Ascension Press
Traduzido por Isabel Caminada – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação, Tradução e Revisão, além de, atualmente, participante da coordenação do Grupo de Estudo de Teologia do Corpo, em Brasília – DF.