Como ler como os santos

Nos meus primeiros anos de vida adulta, eu gostava de ficar em grandes livrarias, bebericando uma xícara de café enquanto folheava as páginas de algum livro aleatório. Um dos livros que peguei arbitrariamente foi “Confissões” de Santo Agostinho. Eu nasci e fui criado como católico, mas, até aquele dia, eu estava apenas agindo mecanicamente e não levava minha fé a sério. Mas depois de terminar uma xícara cheia de café e ler a metade de “Confissões”, parei e pensei comigo mesmo: “Uau! Isso é alucinante”. No fundo, eu ecoava Santo Agostinho: “Ó beleza tão antiga e tão nova, tarde demais te conheci, tarde demais te amei”. “Confissões” despertou minha fé naquele dia e deu um impulso para minha jornada espiritual voltar aos trilhos.

Mas quanto mais entrei na vida adulta, mais ocupado me tornei. Ultimamente, encontrar tempo para passear em uma livraria, tomar uma xícara de café e me perder em um bom livro é uma luta. Além disso, é muito fácil gastar meu tempo de lazer navegando nas mídias sociais em vez de praticar uma leitura espiritual profunda. Mas eu anseio pela transformação que vem da leitura profunda. Há algo em imergir em uma história, entrar numa jornada com heróis espirituais como Santo Agostinho, mergulhar fundo em suas percepções e compartilhar suas lutas, bem como seus triunfos. A leitura profunda me dá a oportunidade de discernir como a vida dos santos se aplica à minha vida hoje. E precisamos recorrer aos santos para obter sabedoria sobre como praticar esse tipo de leitura profunda. Aqui estão três maneiras que aprendi a ler como os santos (a fim de trabalhar para viver mais como um deles).

Leia para crescimento espiritual

Embora a história de Santo Agostinho seja de 1.600 anos atrás, eu me identifiquei com ela. Ele estava vivendo uma vida agitada longe de Deus, até que um dia ouviu uma voz chamá-lo dizendo: “Pegue e leia”. Ele fez exatamente isso, pegou a Bíblia e leu a Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 13,13-34, para ser exato). Sua vida mudou a partir daquele momento. Depois dessa leitura fatídica, Agostinho entregou seu coração ao Senhor e foi batizado na fé, servindo como sacerdote e depois como bispo.

Pode ter parecido aleatório e não ouvi uma voz me chamar, mas acredito que foi providencial eu pegar “Confissões” naquele dia na livraria porque, semelhante à história de conversão de Agostinho, pegar seu livro mudou minha vida também. Ler suas idéias abriu meus próprios olhos para a beleza da fé católica. Comecei a ir à missa todos os domingos, às vezes até a missa diária. Comecei a servir em diferentes pastorais na minha paróquia e, provavelmente nem é preciso dizer, fiquei viciado em ler mais livros espirituais.

Leia para obter conhecimento

Edith Stein (que hoje conhecemos como Santa Teresa Benedita da Cruz) estava sozinha esperando, na casa de uma amiga, quando pegou um livro sobre Santa Teresa de Ávila. Quando terminou de ler, fechou-o e disse: “Esta é a verdade!”. Isso marcou o início de uma vida de convicção, juntando-se à Igreja Católica, encontrando um lar em um mosteiro carmelita e, eventualmente, tornando-se mártir por causa de suas crenças. Quando leio hoje os escritos de Santa Teresa de Ávila, também me pego dizendo: “Esta é a verdade!”. Quero aprender tudo o que puder sobre o caminho da perfeição e viajar pelo meu próprio castelo interior, a alma, por meio da oração e da atenção plena à presença de Deus em minha vida.

Leia para se inspirar

Quando Santo Inácio de Loyola estava no hospital se recuperando dos ferimentos de batalha, ele leu as obras dos santos Francisco e Domingos. Santo Inácio ficou tão inspirado por suas histórias que mudou sua vida e passou de um mulherengo egoísta e vaidoso a alguém que modelou sua vida nos santos Francisco e Domingos. Quando estou esperando no consultório médico, tenho a tendência de pegar meu telefone e percorrer meu feed de notícias sem pensar, como uma diversão. E posso ser inspirado por postagens de amigos sobre qual restaurante jantar, mas ainda assim, provavelmente é melhor aproveitar essa oportunidade para ler sobre a vida dos santos, encontrando inspiração em suas ações sagradas e trabalhando para tornar minha vida mais parecida com a deles.

Hoje, é preciso um esforço consciente para priorizar o tipo de leitura que reacende a mente e a alma. O verão é uma estação amigável para fazer esse esforço, religar nossas conexões cerebrais e reacender os neurônios para uma leitura profunda. Estou ansioso para encontrar um lugar na natureza para relaxar, desconectar e me perder em um bom livro, especialmente algum sobre um santo. Quando reservo um tempo para mergulhar profundamente na vida e no aprendizado dos santos, muitas vezes descubro que também sou guiado a aprofundar meu próprio relacionamento com Deus. Como disse o escritor francês Marcel Proust: “O fim da sabedoria de um livro nos parece apenas o começo da nossa”. Que o fim da sabedoria dos santos seja o começo da nossa.


Autor: B. J. Gonzalvo

B.J. Gonzalvo, Ph.D., é pesquisador em psicologia e consultor de local de trabalho. Ele reflete e escreve, do belo noroeste do Pacífico, sobre questões de fé, psicologia e trabalho. Seus textos foram publicados na “Mind & Spirit Magazine” e na “Northwest Catholic”. 

Fonte: Busted Halo

Traduzido por seu Angela de Oliveira Mito – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Tradução e Revisão, além de atualmente participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.

5 1 votar
O que você achou?
Assinar
Notifição de
0 Comentários
Mais antigo
Mais recentes Mais Votada
Feedbacks online
Ver todos os comentários
0
Deixe seu comentário no post!x
Este site utiliza cookies para lhe oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar neste site, você concorda com o uso de cookies.