Halloween. É um fenômeno curioso, não é? Uma comemoração anual, sancionada e monitorada pelos governos locais dos Estados Unidos [e também de outros países], que celebra a morte com uma exibição assustadora de fantasmas, cadáveres, lápides e esqueletos… O que significa isso? De onde vem essa “celebração” na psique humana?
Feriado [holiday, em inglês], é claro, significa dia santo [holy: santo, day: dia]. E Halloween significa a “véspera de todos santos“, porque é a noite que antecede um dos dias mais sagrados do ano litúrgico: Dia de Todos os Santos.
O Dia de Todos os Santos é a celebração anual da Igreja de todos os homens e mulheres que, ao longo dos tempos, venceram a morte pelo poder do Evangelho.
Venceram a morte?!
Sim. Venceram a morte, suportando-a em união com Aquele que morreu e ressuscitou. Em suma, o Dia de Todos os Santos é a celebração do poder do Batismo de vencer a morte. Você sabia, pergunta São Paulo, que aqueles que foram batizados em Cristo foram batizados por sua morte? E, se morremos com Cristo, também viveremos com Ele, assegura-nos Paulo (veja Rm 6, 3.8). Resumindo, os santos são aqueles que permitiram que o poder de seu batismo prevalecesse totalmente em sua vida, transformando sua mortalidade em imortalidade (veja 1Cor 15, 54).
Se isso for possível… se isso for real… é completamente surpreendente.
Halloween proclama morte, mortalidade, decadência. O Dia de Todos os Santos proclama vida, imortalidade, ressurreição. Ao contrário da crença generalizada, a imortalidade não se refere simplesmente à alma, ao aspecto espiritual da natureza humana. Não. O homem é uma unidade de corpo e alma. Portanto, como observou o Papa Bento XVI, o adequado ao cristão, é falar não da imortalidade da alma, mas da ressurreição do ser humano completo [corpo e alma] e apenas disso”.
Como Peter Kreeft observa com perspicácia, quando a morte separa o corpo e a alma “temos uma aberração, um monstro, uma obscenidade. É por isso que temos medo de fantasmas e cadáveres ”, acrescenta ele,“ embora ambos sejam inofensivos: eles são os aspectos obscenamente separados do que pertence junto como um só”. E aqui, creio eu, reside a origem psicológica mais profunda deste carnaval macabro bem na véspera da celebração jubilosa de todos aqueles que venceram a morte em Cristo.
A morte chega para todos nós. E esse fato é literalmente horrível; causa um horror que nunca deixa de nos atormentar nos níveis inconscientes mais profundos de nossa psique. Todas as coisas interiores inevitavelmente são exteriorizadas. Ao colocar fantasmas, cadáveres, lápides e esqueletos bem na nossa cara na véspera da celebração da Igreja de todos aqueles que venceram a morte, parece que os horrores do Halloween estão basicamente dizendo: “Sério? Cristo realmente venceu a morte? Ele realmente nos permitiu encarar a morte sem medo de retornar ao nada?”
Raramente as pessoas pensam conscientemente nessas questões fundamentais enquanto decoram suas varandas com fantasmas, duendes e teias de aranha falsas. Mas nossa angústia existencial nunca está muito abaixo da superfície. A vida é um “travessura” cósmica em que nos é concedido um curto espaço de anos apenas para sermos apagados pela morte? Ou podemos realmente esperar os “doces” divinos de uma satisfação definitiva, uma felicidade, uma bem-aventurança que nunca termina?
Neste Halloween, como em todos os outros, sinais de morte surgirão para nos assombrar. Não tenhais medo. Quando o sol nascer na manhã seguinte, temos o testemunho de todos os santos proclamando: “A morte não é a palavra final na vida humana! A palavra final é ressurreição… ”.
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Autor: Cristopher West
Fonte: Theology of the Body Institute
Traduzido por Angela de Oliveira – Membro da Rede de Missão YOUCAT BRASIL, servindo no Núcleo de Tradução.