O poderoso “talvez” é a profunda rachadura no muro de certezas do incrédulo.
Todos os incrédulos possuem algum tipo de fé. Eles creem firmemente na inexistência de Deus e na fraqueza, não na sabedoria, de se crer em uma realidade maior do que a própria. O ateísmo é um sistema de crenças, embora seu objeto de fé obviamente não seja Deus, mas outras “doutrinas” seculares sacrossantas. Porém, a fé secular do cético, assim como a de todo crente, é continuamente tentada pela dúvida. O incrédulo, seja olhando fixamente para o corpo sem vida de um amigo em um caixão, perplexo enquanto contempla a vastidão do oceano, ou quando está apenas deitado na escuridão da noite, se pergunta se ele compreendeu tudo. Apesar de mostrar uma face corajosa, o incrédulo secretamente duvida. Ele não está seguro. Sente-se ameaçado. Sempre há o poderoso “talvez”. Talvez, só talvez… o crente esteja… certo. O ateu está sob constante ataque de fé, primeiramente a partir de si mesmo. Apenas quando tenta sair da religião ele percebe, dolorosamente, que o drama de ser um homem não pode ser evitado. Ele troca a incerteza da crença pela incerteza da descrença.
O santo de hoje, conhecido como “Tomé, o incrédulo”, é o símbolo cristão da dúvida. Ele ama, serve e segue o Senhor. Depois de ouvir sobre a morte de Lázaro, Cristo decide ir à Judeia, onde Ele foi atacado anteriormente. Os apóstolos ficaram preocupados com a segurança de Cristo, mas Tomé o apoiou, dizendo “vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11, 16). Tomé é forte e generoso. Mas ele é também um homem, então faz o que os homens fazem – ele duvida. A crucifixão de Cristo foi uma experiência duríssima para os apóstolos, e Tomé duvida que alguém tão cruel e publicamente assassinado poderia estar vivo. Ele é avisado por seus companheiros de que o Senhor ressuscitou e apareceu a eles. Ainda assim Tomé duvida. Ele só irá crer se puder colocar as mãos nas feridas de Cristo. Para satisfazer seu ceticismo, Tomé se junta aos outros e espera pacientemente, no Domingo depois da Páscoa. O Senhor ressuscitado aparece de novo no mesmo lugar. “A paz esteja convosco”, Ele diz a todos. E depois ao próprio Tomé: “Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. (…) Não sejas incrédulo, mas homem de fé”. “Meu Senhor e meu Deus!” é tudo o que Tomé, perplexo, pode expressar em resposta (cf. Jo 20, 24-29). A simples expressão de fé de Tomé – “Meu Senhor e meu Deus!” – é sussurrada por milhões de fiéis na consagração na Missa, palavras de fé forjadas sob o peso da dúvida.
A dúvida é geralmente o ponto de partida, o contexto, e o convite à fé para muitos “Tomés incrédulos” contemporâneos. Porém, a dúvida verdadeira leva à verdadeira busca. E uma verdadeira busca não é infinitamente aberta, mas arrisca encontrar o que é procurado. A dúvida de São Tomé, seu momento de fraqueza, serviu a um propósito maior quando encontrou o que procurava. O Filho de Deus disse: “o Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas.” (Mt 13, 45) e “O Reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra. Dorme, levanta-se, de noite e de dia, e a semente brota e cresce, sem ele o perceber.” (Mc 4, 26-27). O Reino não é a pérola preciosa. O Reino é o comerciante em busca de belas pérolas. O Reino não é a semente. É o homem espalhando a semente. A busca, a dispersão, o esforço, a luta, a jornada. Esses geralmente são os primeiros passos para se encontrar Deus. A procura honesta e autêntica é divina. Toda busca legítima pressupõe, afinal, que há algo, ou alguém, a se encontrar. A dúvida é o arado que abre o sulco onde a semente da fé pode cair e germinar. São Tomé, Apóstolo, é nosso guia e patrono para entender como a dúvida desperta a fé. Estando ausente, ele ouviu. Ouvindo, ele duvidou. Duvidando, ele foi ao encontro. Encontrando, ele tocou. Tocando, ele acreditou. E acreditando, ele serviu.
São Tomé, ajude todos que sofrem para crer em Deus. Por teu exemplo e intercessão, auxilie todos aqueles sobrecarregados por distrações e dúvidas para que possam chegar a uma confiança enraizada no Pai e em Nosso Senhor.
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Fonte: MyCatholic.Life
Traduzido por Gabriel Dias – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Tradução e no Núcleo de Formação, além de atualmente participar do Grupo de Estudo DATING em Brasília – DF.