A Jubilosa Verdade Sobre o Celibato – Parte 4: Matrimônio e Celibato se complementam um ao outro.

[Nota: este artigo é o último de uma série de artigo que foram extraídos e adaptados do livro de Christopher West, revisado e atualizado, chamado “Teologia do Corpo para Iniciantes: Redescobrindo o Significado da Vida, Amor, Sexo e Gênero”].


O matrimônio e o celibato são, obviamente, diferente de muitas formas. Contudo, essas diferenças não são conflitantes. Os valores dessas duas vocações se perpassam. De fato, o matrimônio e o celibato “explicam-se e complementam-se reciprocamente” (TdC 78, 2). Permitam-me explicar.

De que forma o amor conjugal ilumina a natureza da vocação celibatária? João Paulo II escreve que a fidelidade à “doação total de si” vivida pelos esposos é como que um modelo para a fidelidade e a doação de si exigida daqueles que aderem à vocação celibatária. Ambas as vocações, cada uma da sua forma, expressam o amor conjugal ou esponsal, que pressupõe “um dom total de si” (confira TdC 78, 4). Além disso, os filhos, na vida matrimonial, ajudam os homens e as mulheres celibatárias a perceber que eles também são chamados à fecundidade – uma fecundidade espiritual. Dessa forma, vemos como a realidade “natural” do matrimônio nos aponta para a realidade “sobrenatural” do celibato pelo Reino. Na verdade, uma completa compreensão e valorização do plano de Deus para o matrimônio e a família são indispensáveis para a pessoa celibatária. Como expressou João Paulo II, para que a pessoa celibatária “esteja totalmente consciente daquilo que está escolhendo… também deve estar totalmente consciente daquilo a que está renunciando” (TdC 81, 2).

O celibato, por sua vez, “tem particular importância e particular eloquência para aqueles que vivem a vida conjugal” (TdC 78, 2). Como uma antecipação direta do casamento que virá, o celibato mostra aos casais que a união deles é um sacramento justamente porque indica a que o matrimônio deles aponta. Desse modo, como explica o Papa Francisco, o celibato cristão “encoraja os casais casados a viverem o próprio amor conjugal na perspectiva do amor definitivo de Cristo, como um caminho comum rumo à plenitude do Reino” (Amoris Laetitia 161).

Ademais, abstendo-se da união sexual, os celibatários mostram o grande valor dessa união. Como? Um sacrifício só tem valor à medida que o objeto sacrificado tem valor. Por exemplo, se eu deixar de comer picles durante a Quaresma, isso não teria valor algum para mim, porque eu não gosto de picles. Porém, se eu deixasse de tomar cerveja na Quaresma, isso seria realmente um sacrifício para mim, porque eu gosto muito de cerveja. A Igreja valoriza tanto o celibato justamente porque ela valoriza aquilo que ele sacrifica – a união sexual e tudo que está conectado a ela – tão extraordinariamente.

Mais uma vez, a abnegação que esse sacrifício envolve não deve ser entendido como uma repressão da sexualidade. O celibato pelo Reino é designado para ser uma vivência fecunda da redenção do desejo sexual, compreendido como o desejo de fazer, de si mesmo, um “dom sincero” para os outros.

O Celibato expressa o Significado Esponsal do Corpo

Como podemos perceber, o matrimônio e o celibato estão muito mais proximamente relacionados do que muitas pessoas pensam. Essas duas vocações fornecem uma “resposta plena” sobre o significado da sexualidade (confira TdC 85, 9). Esse significado é doação de si, à imagem de Deus. Como consequência, não deveria nos surpreender que, sempre que uma cultura desvaloriza a sexualidade, ela inevitavelmente desvalorizará tanto a vocação matrimonial quanto a celibatária. A revolução sexual do século XXI certamente comprovou isso na prática.

João Paulo II insiste em que a vida celibatária que Cristo falou deve emanar de uma consciência profunda e madura acerca do significado esponsal do corpo. Só nessa base o celibato pelo Reino “encontra plena garantia e motivação” (TdC 80, 5). Assim, se alguém quiser optar por essa vocação baseado em um medo ou em uma rejeição do sexo, ou por causa de profundas feridas sexuais que impossibilitariam uma vida conjugal saudável, não haveria correspondência com o chamado de Cristo (confira TdC 80, 7).

Se rejeitamos o significado esponsal de nossos corpos, fazemos violência à imagem de Deus inscrita em nossa humanidade, enquanto masculino e feminino. O significado esponsal do corpo é o “componente fundamental da existência humana no mundo” (TdC 15, 5). Ele revela que a pessoa humana é criada a fim de ser um dom “para” o outro. As palavras de Cristo sobre o celibato mostram que esse “para”, que se situa na base do casamento, também está na base do celibato “para” o Reino dos céus. Dessa maneira, na base do mesmo significado esponsal do corpo, pode ser formado o amor que compromete a pessoa com o matrimônio, mas também pode ser formado o amor que compromete a pessoa para o celibato “por causa do Reino dos céus” (confira TdC 80, 6).

A questão é que nossa sexualidade nos chama a doarmo-nos em um amor que dá a vida. A pessoa celibatária não rejeita esse chamado. Ela apenas o vive de uma forma diferente. Todos os homens, em virtude do significado esponsal do corpo, são chamados, de alguma forma, a ser tanto esposos quanto pais. Todas as mulheres, em virtude do significado esponsal do seu corpo, são chamadas a serem esposas e mães. Como imagem de Cristo, o homem celibatário “se casa” com a Igreja. Por meio do seu dom de si do seu corpo, ele gera numerosos “filhos espirituais”. Como imagem da Igreja, a mulher celibatária “se casa” com Cristo. Por meio do dom de si do seu corpo, ela gera numerosos “filhos espirituais”. É por isso que os termos esposo, pai, irmão, filho e esposa, mãe, irmã e filha são aplicáveis tanto à vida matrimonial e familiar quanto àqueles que escolhem o celibato por causa do Reino.

O Casamento Celibatário entre José e Maria

Concluiremos nossa discussão a respeito do celibato olhando rapidamente para a singularidade do casamento virginal entre Maria e José. A Igreja Católica ensina que a Maria e José foi dado o excepcional chamado de abraçar tanto a vocação celibatária quanto a matrimonial ao mesmo tempo. Em outras palavras, eles viveram o casamento terrestre e o casamento celestial concomitantemente. Por sua vez, aquele matrimônio virginal desempenhou um papel indispensável no casamento no céu e na terra: o Verbo se fez carne (confira TdC 75, 3). Dessa forma, José e Maria “tornaram-se as primeiras testemunhas de uma fecundidade diversa da que vem da carne, isto é, da fecundidade do espírito: ‘O que ela concebeu é obra do Espírito Santo’ (Mt 1, 20)” (TdC 75, 2).

José e Maria permaneceram virgens não porque “o sexo é mau”. Enquanto casal casado, a eles foi dado o excepcional chamado de viver a sexualidade de acordo com o seu último significado – total abertura e total doação a Deus. Abraçando a dimensão celestial da sexualidade na terra, eles permitiram com que o Céu penetrasse na terra. Como percebemos no decorrer desse livro, a união sexual, desde o princípio, foi designada para prefigurar a união de Deus com o homem, de Cristo com a Igreja. Desfazendo o “não” de Eva, Maria, a nova Eva, representa toda a raça humana dando seu “sim” para a proposta de matrimônio de Deus (confira o Catecismo da Igreja Católica 411, 505). Mesmo durante seu percurso na terra, Maria já participava, de forma única, das núpcias celestiais. Para ela, ter um ato sexual seria dar um passo para trás. Ao contrário, ela puxou José para frente, até o mistério virginal da união com Deus.

Se a Igreja apresenta a Sagrada Família como modelo para todas as famílias, isso não implica que os casais casados nunca devam unir-se sexualmente. José e Maria são modelo para todos os casais casados por causa do seu exemplo de doação total de si. O chamado normal é que os esposos tenham como modelo a Sagrada Família através da vivência da união em uma só carne em uma doação total de si. Dessa forma, os esposos também trazem Cristo ao mundo porque o abraço conjugal – quando vivido da forma como Deus o destinou – proclama o mistério de Cristo (confira Ef 5, 31-32).

Em quais outros aspectos você identifica que as vocações celibatária e matrimonial se complementam? Compartilhe conosco nos comentários!



Autor: Christopher West

FonteThe Cor Project

Artigo 1: A jubilosa verdade sobre o CELIBATO – Parte 1: A autêntica liberdade sexual é a solução para a crise sexual na Igreja.

Artigo 2: A jubilosa verdade sobre o Celibato – Parte 2: O que isso tem a ver com as estrelas?

Artigo 3: A jubilosa verdade sobre o Celibato – Parte 3: Vivendo na liberdade do Dom

Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão do YOUCAT BRASIL, como Voluntário nos Núcleos de Tradução, Formação, Clube de Leitura YOUCAT e também atualmente participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.

Este site utiliza cookies para lhe oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar neste site, você concorda com o uso de cookies.