Como nômades nessa Terra

Mudar-se de casa exige fôlego, desapego e muito bom humor — e isso a gente foi aprendendo na prática. Em apenas cinco anos de casamento, já trocamos de endereço algumas vezes, dava até para fazer um manual de mudanças. Cada novo lar vinha com a promessa de estabilidade, de ser “o lugar definitivo”, mas bastava um tempo e lá estávamos nós, entre caixas, fitas e móveis desmontados, rindo (ou quase) da montanha de coisas acumuladas. 

E adivinhem: brevemente faremos outra mudança. Em um determinado dia, refletindo sobre essa situação, e por providência escutando a música “Livre serei”, do Frei Gilson, Deus me fez perceber que essas mudanças, apesar de muito cansativas, recordaram-me de algo maior: somos nômades aqui nesta terra. Buscamos sempre a estabilidade, o conforto, um lar perfeito que dure por muito tempo, mas esquecemos que tudo isso é passageiro. Os vizinhos mudam, as paredes também, tudo passa, nada aqui é permanente. E foi nesse cenário de constante transição que uma lembrança reconfortante tomou forma — não fomos feitos para morar aqui para sempre. Nosso endereço fixo não é terreno, mas eterno. Somos moradores do Céu, é lá que é nossa casa,  e a saudade do Céu deve arder em nosso coração. A nossa verdadeira morada é na Eternidade. Aqui vivemos como peregrinos, montando e desmontando nossas tendas e deixando Deus nos guiar rumo ao Céu. 

Assim como a trajetória dos anões na história de O Hobbit, de Tolkien: eles enfrentaram uma longa jornada, cheia de perigos, cansaço e surpresas, tudo por causa de um tesouro, a reconquista da Montanha Solitária, o lugar onde pertenciam, sua casa. É engraçado como essa história se parece com o que vivemos de forma simbólica. Assim como eles, passamos por mudanças e caminhos incertos, carregando nossas coisas na bagagem. Mas, no fundo, o que buscamos também não é um lugar definitivo onde finalmente possamos descansar? A diferença é que nossa “montanha” não está nesse mundo — é a eternidade com Deus. E que alívio saber que existe um lugar eterno reservado para nós, onde não haverá caixas para carregar, nem contratos para assinar, nem chave para devolver, um lugar reservado especialmente para nós, onde não haverá preocupações, nem tristezas, nem sofrimentos, apenas a graça de adorar a Deus por toda a eternidade. 

Essas mudanças me fazem perceber o cuidado de Deus conosco, ensinando-nos a não nos apegar ao transitório e ao material, e ensinando-nos a desejar o eterno. Que cada mudança (partindo para mais uma) seja uma esperança de que um dia a nossa morada será definitiva ao lado daquele que tanto nos ama.

Texto escrito por Luana Beatriz, missionária da Rede de Missão Campus Fidei.

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