História verídica: fui eleita como a pessoa com maior probabilidade de se tornar freira tanto na 8ª série quanto no último ano do ensino médio. Hilário, eu sei. Só que eu não pensei assim na época. Não, não, não. Eu estava com medo de que meus colegas de turma estivessem certos e que eu fosse destinada ao convento.
Não me interpretem mal: eu sabia que ser chamada para a vida religiosa era uma coisa boa e bonita, mas também sabia que, para meus colegas de sala, ser freira era apenas para meninas super católicas que não conseguiam namorar. Então, minha mente pré-adolescente / adolescente / início dos 20 anos se agarrou à imagem de perdedora-que-não-consegue-um-namorado (porque eu só tive meu primeiro namorado de verdade depois dos 25 anos), e desenvolvi um profundo medo e ansiedade de ser forçada a entrar no convento.
A questão é que eu sabia (intelectualmente) que a vontade de Deus para mim seria o que fosse melhor para mim de alguma forma misteriosa. Eu sabia que Ele não poderia realmente me forçar a me tornar uma freira contra a minha vontade. Mas eu também sabia que não seria capaz de dizer não se Ele realmente quisesse que eu fosse sua noiva.
Outra parte de mim “sabia” que eu era feia e indesejável, e o garoto do colégio que me disse que votou em mim como “mais provável a nunca se casar, porque não conseguia imaginar ninguém querendo se casar com você” (sim, ele realmente disse isso) provavelmente estava certo. Eu “sabia” que nenhum homem jamais iria realmente me querer ou me cortejar ou me tratar da maneira que eu esperava ser tratada. Eu “sabia” que era uma aberração e ninguém se casa com aberrações. [Eu obviamente não acredito mais nessas coisas, graças a muitas curas por meio da oração e da terapia].
Não ajudou muito o fato de eu não ter nenhum amigo católico fiel na escola; então, quando olhei em volta e vi que era a única pessoa (além da minha irmã – obrigada, E!) que ia à missa diária quando era oferecida ou que se importava com as aulas de teologia ou que defendia a Igreja nos debates das aulas, comecei a me perguntar se talvez tudo isso significasse que eu simplesmente tinha que me tornar uma freira.
Para completar, eu tenho duas graduações em teologia, trabalhava em uma igreja e depois como professora de teologia para ensino médio. Para o mundo exterior, você basicamente já é freira. Por que não entrar para um convento e tornar oficial?
É o seguinte: eu nunca, nem mesmo uma vez na minha vida, senti que o Senhor estava me chamando para a vida religiosa. Você pensaria que isso seria o suficiente para eu confiar que era chamada para outra coisa, mas não. Satanás e minha própria ansiedade me convenceram de que Deus realmente não queria que eu fosse feliz, e o fato de que eu tinha algumas das qualidades objetivas que formam uma boa irmã religiosa significava que eu tinha que ser uma.
A ansiedade era tão intensa que eu evitava mulheres que fizeram votos de vida religiosa sempre que as via – fossem as doces dominicanas em meus cursos de pós-graduação ou as irmãs da Santa Cruz que viviam e trabalhavam em Notre Dame ou o rebanho de irmãs que vi passando na Praça de São Pedro. Eu tinha o equivalente a um ataque de pânico sempre que a vida religiosa era mencionada – especialmente quando minhas amigas entraram no convento.
A ansiedade era tão intensa que, quando minha irmã mais nova ficou noiva aos 21 anos, arrumei um cara que se revelou abusivo e permaneci em um relacionamento com ele por três meses a mais só para que eu pudesse me apressar em todo esse processo de casamento antes que outra pessoa sugerisse que eu pensasse na vida religiosa pela 50ª vez.
Honestamente, eu não parei de pirar com toda essa coisa de ser-forçada-a-entrar-no-convento até os 30 anos. Isso foi há apenas três anos. Passei quase duas décadas da minha vida atormentada por esse medo da vida religiosa. O diabo é astuto, estou te falando. Só Satanás poderia pegar algo tão bonito como a vida religiosa consagrada e transformá-lo no maior medo de uma mulher católica devota.
Então, o que mudou? Como superei esse medo e aprendi a ver a vida religiosa pelo que ela é: uma vocação, não uma sentença de prisão? Como descobri que era chamada ao casamento? Algumas coisas ajudaram:
- Direção espiritual: Nenhum diretor espiritual que eu tive pensou que tivesse uma vocação para a vida religiosa. Os diretores espirituais já se enganaram antes, é claro, mas é uma boa ideia ouvi-los se forem sábios, santos e confiáveis.
- Terapia. Meu(s) terapeuta(s) me ajudaram a perceber que meu medo tinha muito pouco a ver com a vida religiosa e muito a ver com o medo da rejeição, que é algo contra o qual tenho lutado por quase toda a minha vida.
- Graça. Orei para me livrar desse medo até que ele fosse embora, graças aos dons de Deus mencionados acima.
- Uma nova compreensão do discernimento. Eu percebi que todo discernimento tem uma dimensão objetiva e subjetiva, e que a vontade de Deus não é um tipo de enigma que eu tenho que descobrir. O fato de você ter qualidades objetivas que podem fazer de você um bom sacerdote ou irmã religiosa não significa necessariamente que você foi chamado ao sacerdócio ou à vida religiosa. Deus fala conosco com mais frequência nas circunstâncias concretas de nossas vidas – e isso inclui nossos desejos subjetivos mais profundos. Os padres e religiosas mais felizes que conheço tinham um desejo sincero pela sua vocação, mesmo que às vezes tivessem medo e resistissem ao Senhor. Os casais mais felizes que conheço tinham medo de certos aspectos do casamento e da vida familiar antes de se casarem. Esse tipo de medo é completamente normal, e a única maneira de superá-lo é se o seu desejo pela vocação for maior do que o seu medo.
- Conheci meu atual marido, Kristian. É verdade que, enquanto você for solteiro(a), uma vocação celibatária é sempre uma possibilidade. Algumas pessoas podem desejar se casar e nunca encontrar a pessoa certa (eu estava definitivamente ciente disso e aberta a essa possibilidade quando ainda era solteira). Algumas pessoas podem resistir à vocação ao sacerdócio ou à vida religiosa aos 30 ou 40 anos, até que finalmente parem de correr e digam “sim”. Mas se o seu desejo é a vida de casado, você não tem impedimentos para se casar, e então você conhece alguém que também deseja a vida de casado e não tem impedimentos para se casar, e então vocês dois se apaixonam e querem se casar, então você é chamado(a) ao casamento. Não é tão complicado como pensamos ou tornamos.
Para aqueles que ainda estão esperando a chegada do seu futuro cônjuge: eu sei como pode ser difícil e estou orando por vocês (estou mesmo). Para aqueles que estão cansados de que as pessoas pensem que, porque rezam e vão à missa, devem se tornar sacerdotes ou freiras: eu sinto seu aborrecimento e sua dor. Para aqueles que ainda estão inseguros quanto à sua vocação: confie que o Senhor mostrará o que Ele deseja de você em seu próprio tempo.
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Autor: Christina Dehan Jaloway
Fonte: The Evangelista
Traduzido por Angela de Oliveira – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Tradução, além de atualmente coordenar o Grupo de Estudo Online Santa Teresa de Calcutá.