Exaltando a Cruz da Contradição

Hoje, nós, católicos, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Para algumas pessoas, essa celebração parece algo descabido ou até mesmo uma distorção do cristianismo.

Por um lado, os católicos parecem contradizer as palavras de Cristo, quando Ele diz que veio ao mundo para que nossa alegria fosse completa (Jo 15, 11). Mais ainda, os católicos parecem estar contradizendo a pessoa e o exemplo de Cristo. Em vez de serem alegres cristãos, parece que temos uma retorcida fascinação por aquilo que é horripilante e grotesco. Apesar das paredes brancas e lisas e muitos dos modernos “locais de culto”, um filho da Igreja pode facilmente ser reconhecido, pois ele aprecia retratos bem realistas das humilhações que sofreu seu próprio Senhor; ele prefere beijar um crucifixo do que uma cruz vazia; ele acredita e venera a própria madeira sobre a qual Deus pendeu. Ao ver isso, alguns são obrigados a perguntar: essa veneração da Cruz não é algo um pouco mórbido? Os católicos não estão, de alguma forma, presos no tempo, como se Jesus não tivesse triunfado sobre a morte e sobre o inferno, como se Ele não estivesse, neste exato momento, no Céu, reinando como Rei dos reis e Senhor dos senhores? Por que, após todos esses anos, essa figura do Homem dos Sofrimentos é ainda mais popular do que aquela de Jesus sorridente?

Uma aprofundada pesquisa nas raízes do amor dos católicos pela cruz revelaria que a devoção pela cruz de Cristo remonta a bem antes da espiritualidade francesa do século XIX; vem de antes de Trento, antes dos místicos da Renânia, antes de Santo Agostinho. O que se sabe sobre a origem dessa festa é que ela remonta ao início do século IV, mas o amor pela cruz vem de ainda antes, banhando até os autores dos Evangelhos. Afinal de contas, eles dedicaram mais espaço à narrativa dos eventos que imediatamente precederam e incluíram a Crucificação do que qualquer outro evento da vida de Jesus. São Paulo também compartilha dessa responsabilidade, pois ele disse que não pregaria outra coisa senão Cristo, e Cristo crucificado (1 Cor 1, 23; 2, 2). Quanto a Jesus, ele previu sua crucificação e nos assegurou que ele tomava a cruz de boa vontade, porque ele tinha vindo “não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mc 10, 45).

O que esses homens santos e o próprio Deus nos dizem, é que a Cruz é um sinal do amor de Deus, porque foi o instrumento da nossa salvação; é santa porque o amor de Deus fluiu por ela; é efetiva porque Ele é poderoso. É por isso que, na Sexta-Feira Santa, os católicos contemplam o madeiro da Cruz e, um após outro, veneram-na com um gesto próprio de quem ama. É também por isso que celebramos a Exaltação da Cruz.

Nós veneramos a cruz por uma outra razão; esse motivo também vem de Nosso Senhor e de seus apóstolos. Cristo não só nos disse que Ele devia carregar Sua cruz – Ele ordenou que carreguemos as nossas (Lc 9, 23). São Paulo obedeceu a palavra de seu Mestre e foi além, desejando ser crucificado com Cristo, viver a própria vida de Cristo, que nos amou e se entregou por nós (Gl 2, 20). Esse é o segredo da exaltação da Cruz pela Igreja e o segredo do amor de todo santo por ela: pela cruz, unimo-nos a Nosso Senhor, os pecados são perdoados, a morte é vencida, e nossa glória futura é garantida.

Conhecendo a grande alegria que vem da Cruz, a Igreja, com seus santos, desde toda sua existência, exaltou a Cruz. Os primeiros mártires, de Santo Estevão em diante, alegravam-se por sofrer com e por Cristo; os primeiros teólogos, da sua forma, rejubilavam-se da cruz através de seus escritos. Assim, São Metódio de Olimpos (+ 311) disse:

A Cruz, se definida, é a confirmação da vitória, o meio pelo qual Deus desceu até o homem, o troféu contra os espíritos materiais, a repulsa da morte, a fundação à ascensão ao verdadeiro dia; e a escada para aqueles que se apressam a desfrutar da luz que lá se encontra, o motor através do qual aqueles que estão destinados ao edifício da Igreja são elevados…

Mesmo em nossos tempos, os santos reconheceram a alegria que advém da Cruz. São Josemaría Escrivá reconheceu que os “inegáveis sinais da verdadeira Cruz de Cristo” são “serenidade, um profundo sentimento de paz, um amor disposto a qualquer sacrifício… E sempre – de forma muito evidente – a alegria”. Santa Madre Teresa de Calcutá, de modo semelhante, ensinou aos pobres e moribundos que “o sofrimento, a dor, a humilhação – este é o beijo de Jesus. Às vezes, você chega tão perto de Jesus na Cruz que Ele consegue te beijar”.

À luz do testemunho do próprio Cristo e tantos outros de seus santos seguidores, podemos nos assegurar que não é irracional exaltar a Cruz, não é uma distorção da fé; ao contrário, quando exaltamos a cruz, construímos nossa fé e glorificamos a grandeza do Senhor, porque, por aquele sinal, venceremos, viveremos e seremos felizes!

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Autor: Ezra Sullivan

Fonte: Catholic Exchange

Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo nos Núcleos de Tradução, Formação e também participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.

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