Lutando contra o vício em pornografia como Santo Agostinho

Agostinho não era um desconhecido da luxúria. De fato, se estivesse vivo nos tempos de hoje talvez até se achasse um viciado. Ele escreve em suas Confissões:

… Eu estava encarcerado não com o ferro de outras correntes, mas com o ferro da minha própria vontade. O inimigo tomou conta da minha vontade, e disso ele fez uma cadeia e me prendeu. Como minha vontade era perversa, ela se transformou em luxúria, e a luxúria se tornou um hábito, e o hábito, sem resistência, passou a ser necessidade.

Necessidade. Ele sentia como se precisasse do prazer sexual.

SEXO É VIDA?

Eu me identifico com Agostinho. O que alimentava o meu vício em pornografia, mais do que qualquer outra coisa, era a mentira de que sexo era vida. Eu era solteiro na época, e eu tinha comprado a ideia de que sexo era uma “necessidade” básica e fundamental da qual eu estava sendo privado. Ouvir que Deus queria que eu desistisse da pornografia soava para mim como se Deus quisesse que eu desistisse da minha própria vida. Mais do que isso, comecei a sentir raiva de Deus por me criar com desejos tão fortes e depois, como um pai caprichoso, arrancar o doce de minha mão.

Eu tive que aprender que sexo, ainda que bom e prazeroso, não é vida. O desejo por sexo e intimidade é bom, mas mesmo a melhor das intimidades no casamento foi projetada por Deus para ser o reflexo de algo grandioso.

UMA VISÃO MAIS AMPLA.

O que causou a mudança no coração de Agostinho? Em suas Confissões, ele escreve sobre um dia em que sua alma estava tão atormentada pelo próprio pecado que uma poderosa tempestade surgiu dentro dele, trazendo à tona um mar de lágrimas. Enquanto chorava, ele podia ouvir o som de uma voz infantil cantando a uma certa distância “Pegue e leia, pegue e leia.” Ele tomou isso como um sinal de Deus mandando-o pegar as Escrituras e ler a primeira coisa que seus olhos enxergassem.

Foi exatamente o que ele fez. Tomando o livro dos Romanos, seus olhos caíram em Romanos 13,13-14. “Andemos honestamente, como em pleno dia; não em orgias e bebedeiras, imoralidade sexual e libertinagem, nem em brigas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo,  e não procureis satisfazer os desejos da carne.”

Agostinho, assim que termina a frase, escreve que “uma luz de total confiança brilhou em meu coração, e toda a escuridão e incerteza desapareceu.” Daquele dia em diante, ele dedicou sua vida a servir a Cristo.

VÍCIO EM SEXO SE RELACIONA COM A FÉ.

A fé que surgiu no coração de Agostinho naquele dia era uma fé inabalável de que Cristo era mais do que suficiente para satisfazer aquele coração cansado. O único modo de conseguir viver como dito em Romanos 13,13-14 – rejeitando toda a luxúria e sensualidade – era abraçando aquelas palavras que tudo satisfazem: “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”.

Isso é o que significa se libertar da luxúria: não apenas rejeitar os prazeres da luxúria, mas abraçar plenamente os prazeres de Deus.

Nós vamos atrás da pornografia porque ela nos promete algo e nós compramos essas promessas. Em seu fantástico livro, Closing the Window, Dr. Tim Chester identifica 6 promessas que o mundo fantasioso da pornografia constantemente faz aos seus telespectadores:

1. RESPEITO: Se nos sentimos inadequados ou rejeitados, nossos coração pecador tende a almejar o respeito humano, e a pornografia oferece essa fantasia. No mundo de fantasias, nós somos adorados por homens ou mulheres de mentira. A pornografia nos dá um mundo erotizado onde somos homens o suficiente ou mulheres o suficiente para conseguir o respeito dos outros através de nossas proezas sexuais.

2. RELACIONAMENTOS:  Nós desejamos intimidade, mas não gostamos dos riscos. Nós queremos nos aproximar do outro, mas não queremos ficar vulneráveis. Queremos um relacionamento de verdade, mas queremos ser aquele que controla. A pornografia nos dá essa ilusão: nos sentimos “conectados”, mas sem precisar ter toda a dificuldade de um relacionamento de verdade.

3. REFÚGIO: Em tempos de fadiga ou medo de falhar, queremos aliviar nosso estresse. Quando a vida está ficando difícil, queremos algum lugar para onde podemos escapar, queremos fingir que somos outra pessoa em outro lugar. A pornografia nos dá um mundo de imaginação aonde nós nunca falhamos: você sempre consegue o cara ou a garota.

4. RECOMPENSA: Quando estamos entediados ou sentimos que fizemos grandes sacrifícios, muitas vezes queremos nos recompensar. Esse sentimento de “direito” nos leva várias e várias vezes ao mundo fantasioso onde nossas mentes sobrecarregadas e egos subestimados podem “receber o que eles desejam.”

5. VINGANÇA: Em tempos de frustração e raiva, podemos utilizar a pornografia como um ato de vingança contra outra pessoa (como nosso esposo ou esposa que não está fazendo sexo conosco quando queremos) ou contra Deus (que não está nos dando a vida que queremos). A pornografia é a nossa “birra” num mundo que não atende nossos desejos.

6. REDENÇÃO: Em tempos de culpa e sentimentos de aversão a si mesmo, esse mundo fantasioso da pornografia oferece uma falsa redenção. Se estamos nos sentindo culpados, a pornografia nos diz: “Você é bom do jeito que você é. Nada em você precisa de mudança.” Se estamos atolados no ódio de si mesmo, a pornografia é um jeito de nos punirmos. “Essa é a vergonhosa vida que eu mereço,” dizemos a nós mesmos. A pornografia é uma maneira de satisfazer nosso mundo sombrio de autopiedade.

Essas são as falsas promessas da pornografia, e para cada pessoa elas são um pouco diferentes. Para uns, algumas destas promessas fazem sentido. Para outros, vários ou todos elas soam verdadeiras. Mas, quando se trata de libertar-se, precisamos das melhores promessas do Evangelho para superar o poder do pecado. Livrar-se da luxúria é, em última análise, sobre a fé: você vai acreditar em Deus ou na pornografia?

PROMESSAS MELHORES

Dr. Tim Chester nos mostra como o Evangelho pode superar o poder do pecado.

1. RESPEITO: Se nos sentimos inadequados ou rejeitados, devemos lembrar que Deus é o único que nos oferece uma verdadeira aceitação, através de Cristo. Os homens ou mulheres da pornografia não te conhecem. Eles não te amam. Cristo sim. Nós necessitamos nos arrepender da necessidade de aprovação dos outros (o que a Bíblia chama de “medo humano”), buscar a Glória de Deus acima de tudo (1 Cor 10,31) e esperar a glória que Ele promete aos que confiam nele (Jo 5,44). Sua aprovação é muito melhor do que a aprovação de homens ou mulheres feitos de pixels em uma tela.

2. RELACIONAMENTOS: Quando desejamos a intimidade com os outros, mas tememos o risco, precisamos correr para Deus como um Pai que é soberano em relação aos nossos relacionamentos. Os relacionamentos são arriscados, corações podem ser quebrados, as emoções são confusas. Mas Deus nos promete que tudo o que passamos corre para o bem daqueles que o amam e procuram viver de acordo com seu propósito (Rm 8,28). Deus pode e vai usar todos os nossos relacionamentos – até os fracassados ​​- para nos moldar segundo a imagem de seu Filho (v.29). Sabendo isso, podemos obter verdadeira intimidade com outros de uma maneira piedosa, como Deus quer, e não correndo atrás da falsa segurança do sexo digital. 

3. REFÚGIO: Quando estamos estressados ou quando a vida está difícil, Deus é o nosso único e verdadeiro refúgio, nossa pedra, fortaleza, libertador e baluarte (Salmos 18, 1-3). Não importa quais sejam as circunstâncias, ao lado do Deus que abala montes, nossos problemas são páreos para Ele (v.7-13). Ao invés de remediar nossas feridas com fantasias sexuais, devemos nos refugiar Nele, confiando todos nossos cuidados a Ele, pois Ele cuida de nós (1 Pe 5,6-7).

4. RECOMPENSA: Quando estamos sedentos por prazer e excitação, devemos correr para Deus, que é a nossa água viva. O poço da pornografia é vazio, e o tempo indicará quão pouco ele satisfaz, mas Deus é a nossa fonte de água viva (Jr 2,13). recorrer à pornografia como uma solução rápida, devemos cultivar uma vida de comunhão com Deus, através da oração, do jejum, da meditação de Sua Palavra e da adoração ao Santíssimo Sacramento. Devemos cultivar o desejo pela eterna recompensa de viver com Ele para sempre, rejeitando os prazeres temporários do pecado (Hb 11,24-26).

5. VINGANÇA: Quando ficamos com raiva por Deus não nos dar a vida que queremos, somos o irmão mais velho da parábola do filho pródigo (Lc 15,29-31). Consideramos nossos sacrifícios, nossa obediência e devoção, e acreditamos que Deus nos “deve” algo, mas Deus não se relaciona conosco dessa maneira: Ele nos trata como um Pai Não somos seus servos, mas seus filhos e filhas. Quando não conseguimos o que queremos, devemos concentrar nossa fé em Deus que nos conhece melhor do que nós mesmos. Ele sabe exatamente quais bênçãos são melhores para nós em seu momento perfeito.

6. REDENÇÃO: Em tempos de culpa ou vergonha, precisamos recorrer a Deus, que nos perdoa gratuitamente de toda injustiça (1 Jo 1,9). Não encontraremos a redenção ignorando nossos pecados ou tentando punir a nós mesmos. Precisamos olhar para Cristo, nosso perfeito Sumo Sacerdote: “porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10,14). Quando somos lembrados de nossas culpas e falhas, devemos repetir as palavras que Jesus pronunciou na cruz: “Está tudo consumado” (Jo 19,30).

A ALEGRIA DE SANTO AGOSTINHO

Antes de sua poderosa conversão, Agostinho sentiu seu coração sendo provado pela duplicidade. Ele lembra em sua oração: “Eu queria adorá-Lo livremente e desfrutar de ti, oh Deus, a única e certa Alegria”. Foi assim que ele derrotou a luxúria: fazendo de Deus a sua Suprema Alegria.

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Autor: Luke Gilkerson – editor geral e principal escritor do Breaking Free, o blog do Covenant Eyes. Luke é Bacharel em Filosofia e Estudos Religiosos e está estudando para um Mestrado em Religião. Antes de trabalhar com o Covenant Eyes ele passou 6 anos como Ministro de Campus. As atividades preferidas de Luke incluem escrever para o blog, ler livros teológicos, começar discussões filosóficas aleatórias, namorar sua esposa Trisha e brincar com seus quatro filhos. Luke e sua esposa escrevem para o IntoxicatedOnLife.com

FonteChastity Project com permissão de Jason Evert ©

Traduzido por Rodrigo Mourão – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.

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