São João Maria Vianney, os sacerdotes e a armadura de Deus

“Quando as pessoas querem destruir a religião, começam atacando o sacerdote; quando não há mais sacerdotes, não há mais sacrifício: e sem sacrifício, não há religião”. São João Maria Vianney

São João Maria Vianney exemplifica a vida de um amor sacrificial, ousadia santa e perseverança corajosa. Seu exemplo é absolutamente relevante para nosso dia e tempo. Vinte anos atrás, em nossa peregrinação a santuários católicos na França, nosso grupo visitou a famosa vila de Ars. Nosso sacerdote celebrou a Santa Missa na mesma cripta que São João Vianney ofereceu Missas por seu rebanho. Essa experiência foi marcada por muitas graças extraordinárias para todos em nosso pequeno grupo. Depois da Missa, visitamos o cubículo onde o Cura d’Ars viveu – um quarto simples com somente uma cama, um crucifixo, uma escrivaninha com uma vela, e paredes manchadas pela fumaça das provações de fogo que ali ocorreram – batalhas entre o sacerdote e o maligno.

Ironicamente, o homem que não foi um gênio intelectual modela o gênio da autêntica masculinidade: protetor do que é bom e vulnerável ao ataque demoníaco. Ele bravamente combateu o bom combate quando corajosamente perseverou no chamado ao sacerdócio. Aquela jornada foi particularmente desafiadora e humilhante para ele. Tendo sido ordenado e mandado para Ars, ele teve um tipo diferente de combate. Ele encontrou uma vila inteira de pessoas que se afastaram de Deus e ele foi enviado para mudar isso. Ele fez como São Paulo instruiu: “Revesti-vos da armadura de Deus” (Ef 6,11). Ele já era um homem apaixonado por Deus, bem formado pela cruz de Cristo. Primeiramente, ele voltou-se para Deus em oração. O ensinamento de São Vianney na primazia da oração casa com o ensinamento de Paulo quanto à armadura de Deus: “Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito” (Ef 6,18).

A oração é a fonte de todas as graças, mãe de todas as virtudes, a maneira eficaz e universal pela qual Deus quer que O alcancemos. Ele nos diz: “Pedi e vos será dado”. Ninguém, senão Deus, poderia fazer tal promessa e cumpri-la. Ele nos diz: “o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará”… Não deveria essa promessa nos encher de confiança, e nos fazer orar fervorosamente todos os dias de nossa medíocre vida? Ao alcance dos ignorantes, dada aos simples e aos iluminados, a oração é a virtude de toda a humanidade; é a ciência de todos os fiéis! Todo aquele na terra que tem um coração, todo aquele que usa a razão, deve amar e orar a Deus.

São João Maria Vianney é um modelo para todos os crentes que buscam irradiar o amor do Sagrado Coração – um amor necessário para se viver o Evangelho. Unicamente, o sacerdote ordenado é escolhido e encarregado com a mais nobre missão de estender o amor sacerdotal ao Sagrado Coração na terra através do dom de si mesmo. O sacerdote ordenado estende o amor esponsal do Sumo Sacerdote Eterno ao povo de Deus.

A importância do Sacerdote

Urgentemente precisamos de mais sacerdotes santos para refletir a luz de Cristo, revelar a ternura do Seu Sagrado Coração, irradiar a beleza de Sua Santa Face, proclamar a verdade de Sua Palavra, e estender o poder dos sete sacramentos. O Catecismo da Igreja Católica descreve o sacerdócio sacramental dessa forma: “A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos: é, portanto, o sacramento do ministério apostólico.” (CIC 1536). E São João Maria Vianney coloca de maneira ainda mais sucinta: “Sem o sacramento da Ordem nós não teríamos o Senhor.” Muitas vezes não percebemos a importância do sacerdote até que experimentamos a necessidade da ajuda de Deus. Aí olhamos para Seu ministério em nosso socorro. Em todo tempo, o sacerdote é vitalmente necessário para vida da Igreja e para a salvação das almas.

Estou ciente do desafio que os sacerdotes enfrentam à medida que se esforçam para viver a vida de Cristo. Eles reconhecem sua impotência individual, mas dizem sim ao poder de Deus operando neles. Eles carregam o fardo por Cristo e por Seu povo. Ao se apresentarem para o sacramento da Ordem, eles dão um passo de fé em algo muito maior que si próprios. O bom exemplo deles auxilia o povo de Deus a fazer o mesmo.

A ciência do amor ensinada por Cristo consiste no amor sacrificial por Deus e ao próximo, aperfeiçoado num zelo missionário. Só pode ser por amor que um sacerdote aceita seguir Jesus no sacerdócio ministerial. Ele é capaz de fazer um dom total de si mesmo a Cristo, porque ele experimentou um amor que é mais forte do que qualquer outra coisa. Aqui recordamos as famosas palavras do padre jesuíta Pedro Arrupe:

Nada é mais prático que encontrar a Deus; que amá-lo de um modo absoluto e até ao fim. Aquilo porque estejas apaixonado e arrebate a tua imaginação, afetará tudo. Determinará o que te faz levantar pela manhã, o modo como usas cada entardecer, aquilo que fazes em cada fim-de-semana, o que lês e quem conheces, o que te rasga o coração, e o que te enche de espanto com alegria e agradecimento. Apaixona-te, permanece apaixonado e isso decidirá tudo.” (Pedro Arrupe, S.J.)

Apaixonar-se por Cristo cria um dinamismo interno do coração, que nos impele a servir abnegadamente ao Amado. Uma pessoa apaixonada por Deus fará coisas extraordinárias porque nada é mais dinâmico do que um amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1Cor 13,7). O amor é como um fogo na alma e é a essência da armadura de Deus.

Bento XVI refletiu sobre a noção do sacerdócio irradiando “o amor do coração de Jesus”:

A expressão utilizada pelo Santo Cura d’Ars evoca também o Coração traspassado de Cristo com a coroa de espinhos que O envolve. E isto leva o pensamento a deter-se nas inumeráveis situações de sofrimento em que se encontram imersos muitos sacerdotes, ou porque participantes da experiência humana da dor na multiplicidade das suas manifestações, ou porque incompreendidos pelos próprios destinatários do seu ministério“.

Alguém dá sua vida pelo Amado e permite que seu coração seja transpassado, como foi o do Senhor. Isso significa que o sacerdote deve possuir uma espécie de disponibilidade de espírito, como o Papa Bento XVI expressa com eloquência: “É necessário que eu aprenda diariamente que não possuo a minha vida para mim mesmo. Devo aprender dia após dia a abandonar-me a mim mesmo; a pôr-me à disposição para aquilo que Ele, o Senhor, precisar de mim no momento, mesmo que outras coisas me pareçam mais bonitas e mais importantes. Entregar a vida, não tomá-la.”

Toda vocação requer um coração que enxerga as necessidades dos outros. Aprendemos isso através do dom da família, a igreja doméstica. Toda vocação passa pela família. Uma sensibilidade espiritual compreende a presença de Cristo no outro. O sacerdote ordenado casa-se com a família de toda a Igreja. Por isso a Igreja dá aos sacerdotes o Seu Sagrado Coração para amar a família humana. Por sua vez, a família de Deus deve amar seus sacerdotes. Eles nos vestem com a armadura de Deus, quando ministram os sacramentos.

São João Maria Vianney, rogai por nós.

_____________

Autor: Kathleen Beckman

Kathleen é presidente e co-fundadora da Foundation of Prayer for Priests, um apostolado internacional de oração e catequese para a santificação dos sacerdotes.

Fonte: Catholic Exchange

Traduzido por Gabriel Dias – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Tradução e no Núcleo de Formação.

Este site utiliza cookies para lhe oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar neste site, você concorda com o uso de cookies.