Transformar a profissão em meio de apostolado é parte essencial do espírito de santificação do trabalho, e sinal de que efetivamente nos santificamos por ele. Santidade e apostolado são inseparáveis, como o amor de Deus e aos próximos por Deus.
“Tens de comportar-te como uma brasa incandescente, que pega fogo onde quer que esteja. Ou, pelo menos, procura elevar a temperatura espiritual dos que te rodeiam, levando-os a viver uma intensa vida cristã”[1]. O trabalho profissional é o lugar a que pertencemos naturalmente, como as brasas pertencem ao braseiro. Aí se devem realizar as palavras de São Josemaria, de modo que as pessoas que nos rodeiam recebam o calor da caridade de Cristo. Trata-se de dar exemplo estando sereno, sorrindo, sabendo ouvir e compreendendo, mostrando-se solícito.
Qualquer pessoa que esteja ao nosso lado deveria perceber a influência de alguém que eleva o tom do ambiente porque – junto à competência profissional – o nosso espírito de serviço, a nossa lealdade, a amabilidade, a alegria e o empenho por superar os próprios defeitos não passam despercebidos.
Tudo isso faz parte do prestígio profissional que devem cultivar aqueles que desejam atrair os outros a Cristo. O prestígio profissional de um cristão não é consequência do simples realizar tecnicamente bem o trabalho. É um prestígio humano, tecido de virtudes informadas pela caridade. Com esse prestígio, “o trabalho profissional – seja qual for – converte-se no candeeiro que ilumina os vossos colegas e amigos”[2]. Sem caridade, por outro lado, não pode haver prestígio profissional cristão, pelo menos não aquele que Deus pede, o “anzol de pescador de homens”[3], instrumento de apostolado. Sem caridade não é possível atrair as almas a Deus, porque Deus é amor (1 Jo 3, 8). Vale a pena destacar: um bom profissional, eficaz e competente, só terá o prestígio profissional próprio de um filho de Deus se procurar viver não apenas a justiça, mas também a caridade.
No entanto, o prestígio não é um fim, mas um meio: “um meio para aproximar as almas de Deus com a palavra conveniente […] mediante um apostolado que chamei alguma vez de amizade e confidência”[4]. Conscientes de que, junto com a filiação divina, recebemos pelo Batismo uma participação no sacerdócio de Cristo e, portanto, o triplo ofício de santificar, ensinar e guiar os outros, temos um título que nos permite entrar na sua vida, para chegar a essa relação profunda de amizade e confidência com tantas pessoas quanto seja possível, no amplo campo abarcado pelas relações profissionais.
Esse campo não se reduz às pessoas que trabalham no mesmo lugar ou que têm uma idade semelhante, mas se estende a todas aquelas com as quais, de um modo ou de outro, pode-se ter contato por ocasião do trabalho. O cristão buscará oportunidades para conviver, para poder falar com cada um em particular, fomentando a convivência: um almoço, um momento de esporte, um passeio. Terá, pois, que dedicar tempo aos outros, ser acessível, sabendo encontrar o momento oportuno. Temos que dar o que recebemos, ensinar o que aprendemos. Sem arrogância, com simplicidade, temos que fazer os outros participarem desse conhecimento do amor de Cristo. Ao realizar o seu trabalho, ao exercer a profissão na sociedade, cada um pode e deve converter as suas ocupações numa tarefa de serviço[5].
ORIENTAR A SOCIEDADE: “ser sal e luz da terra”
Com o trabalho profissional – cada um com o seu – os cristãos podem contribuir eficazmente para a orientação da sociedade inteira segundo o espírito de Cristo. Mais ainda: o trabalho santificado é necessariamente santificador da sociedade, “porque, feito assim, esse trabalho humano, por mais humilde e insignificante que pareça, contribui para a ordenação cristã das realidades temporais”[6]. Neste sentido, São Josemaria escreveu em Forja:
“Esforça-te para que as instituições e as estruturas humanas, em que trabalhas e te moves com pleno direito de cidadão, se ajustem aos princípios que regem uma concepção cristã de vida. Assim – não tenhas dúvida –, asseguras aos homens os meios necessários para viverem de acordo com a sua dignidade, e dás ensejo a que muitas almas, com a graça de Deus, possam corresponder pessoalmente à vocação cristã”[7].
Pôr em prática seriamente as normas da moral profissional próprias de cada trabalho é uma exigência básica e fundamental nesse labor apostólico. Mas é preciso, além disso, querer difundi-las, fazendo o possível para que outros as conheçam e vivam. Não cabe a desculpa de que uma só pessoa pode fazer pouco num ambiente em que costumes imorais estão arraigados. Esses costumes são consequência do acúmulo de pecados pessoais, e só desaparecerão como fruto do empenho por colocar em prática pessoalmente as virtudes cristãs[8]. Muitas vezes, será necessário pedir conselho. Na oração e nos sacramentos o trabalhador encontrará fortaleza, quando precisar, para mostrar com fatos que ama a verdade sobre todas as coisas, à custa, se for necessário, inclusive do próprio emprego.
REFERÊNCIAS?
[1] Josemaria Escrivá, Forja, n. 570.
[2] Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 61.
[3] Josemaria Escrivá, Caminho, n. 372.
[4] São Josemaria Escrivá, Carta, 24.3.1930, n. 11, citado por Luis Ignacio Seco, La Herencia de Mons. Escrivá de Balaguer, Palabra, Madri, 1986.
[5] Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n. 166.
[6] Josemaria Escrivá, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, n. 10.
[7] Josemaria Escrivá, Forja, n. 718.
[8] Cf. São João Paulo II, Exortação apostólica Reconciliatio et paenitentia, 2.12.1984, n. 16; Encíclica Centesimus annus, 1.5.1991, n. 38.
FONTE: Opus Dei com adaptações dos Missionários YOUCAT
AUTOR: Javier López