A Dignidade da Mulher e o Dia 08 de Março

Neste dia 08 de março o mundo recorda o Dia Internacional da Mulher. Esta data foi instituída no ano de 1911 em homenagem às vítimas – centenas de operárias – que morreram queimadas por policiais em uma fábrica têxtil de Nova York (EUA). Elas reivindicavam a redução da jornada de trabalho e o direito à licença-maternidade. (cf. Wikipédia)

É esta a história que costumeiramente ouvimos (lemos na Wikipédia) ao longo de nossos vidas; seja por meio de amigos, seja por meio dos livros de história. Existe, porém, um ensaio acadêmico realizado por Eva Alterman Blay em uma revista de Estudos Feministas[1], no ano de 2001, em que ela diz:

“Ao participar do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem, em 1910, Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir uma data precisa.6 . Contudo, vê-se erroneamente afirmado no Brasil e em alguns países da América Latina que Clara teria proposto o 8 de Março para lembrar operárias mortas num incêndio em Nova Iorque em 1857. Os dados a seguir demonstram que os fatos se passaram de maneira diferente.”

Em seu artigo ela vem apresentar, claramente, os verdadeiros motivos e como foram influenciados por fortes movimentos de reivindicação política. A socióloga Eva Blay destaca que o fogo teve início não no dia 8, mas em 25 de março. A razão do incêndio seria a combinação entre instalações elétricas precárias e produtos têxteis inflamáveis. Segundo Blay, o chão e as divisórias eram de madeira, havia grande quantidade de tecidos e retalhos, e a instalação elétrica era precária. Na hora do incêndio, algumas portas da fábrica estavam fechadas. Tudo contribuía para que o fogo se propagasse rapidamente. Na ocasião, morreram 125 mulheres e 21 homens, na maioria judeus.

Por fim ela conclui que: 

No Brasil vê-se repetir a cada ano a associação entre o Dia Internacional da Mulher e o incêndio na Triangle, quando na verdade Clara Zetkin o tenha proposto em 1910, um ano antes do incêndio. É muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se incorporado ao imaginário coletivo da luta das mulheres. Mas o processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há algum tempo e foi ratificado com a proposta de Clara Zetkin.

Apesar dos reais motivos que geraram o Dia Internacional da Mulher, que hoje celebramos, quero relembrar algo maravilhoso da nossa fé cristã e que nos dá luz neste dia. “O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor” (LG 2). Deus entra na história da humanidade para elevar a nossa condição.

O Eterno Pai decidiu elevar os homens à participação da vida divina.

O Cardeal Ratzinger em uma conferência realizada no ano de 2001[2] nos disse que a Obra Cristo – A Morte e Ressurreição – “está unida à história, penetra-a, mas transcende-a“. Ou seja, Deus por meio de suas Obras faz com que haja uma transcendência tanto na natureza quanto nas ações humanas. A providência de Deus se manifesta fazendo com que tudo concorra para o bem daqueles que amam a Deus (cf. Rm 8,28).

Ratzinger nos dá o exemplo da própria Paixão, onde “a Cruz não é uma ação meramente humana”. Existe o aspecto puramente humano que está presente nas pessoas que levaram Jesus para a Cruz. Porém, diante desta ação primaria, Cristo se conforma à Vontade Divina e faz com que esta dimensão passiva (de ser levado para a Cruz) seja “transformada numa dimensão ativa de amor“. 

Deus transforma nossas ações passivas em ações ativas de amor.

Proponho, hoje, um olhar de gestação. Um olhar de 9 meses a partir da data de hoje. No dia 08 de Dezembro, festejaremos, liturgicamente, a Imaculada Conceição. Maria é, por excelência, a criatura cheia da Graça de Deus. Por meio da sua Santa e Imaculada Conceição, que lhe dá condições de Ser Mãe do Filho de Deus, ela se torna singular cooperadora da Redenção (cf. Audiência do Santo Papa João Paulo II, no dia 9 de abril de 1997).

“O plano divino da salvação […] compreende em si todos os homens; mas reserva um lugar singular à «mulher» que foi a Mãe d’Aquele ao qual o Pai confiou a obra da salvação” (RM 7).

Que possamos à luz da Festa e do Mistério da Imaculada Conceição compreender a verdadeira dignidade da mulher. Deixemos que Deus adentre em nossa história por completo, inclusive nas datas, e eleve a condição de toda a humanidade.

Referências:

[1] BLAY, E. A. 8 de Março: Conquistas e Controvérsias. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8643.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2018.

[2] RATZINGER, J. Teologia da Liturgia. Conferência Journees liturgiques de Fontgombault. 2001. Traduzido para o Portugûes. Disponível em: <http://ars-the.blogspot.com.br/2011/02/teologia-da-liturgia-por-card-ratzinger.html>. Acesso em: 08 mar. 2018.

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