Guardiões do Jardim: o papel e a responsabilidade dos homens

Quando o homem mergulha profundamente no interior de si mesmo, descobre suas deficiências e seu incessante desejo pelo absoluto, seu próprio vazio e o desejo pela plenitude, a esperança de amar o outro e ser amado pelo outro”, escreve Devin Schadt em The Meaning and Mystery of Man (O significado e o mistério do homem). Mais do que um livro de autoajuda, essa obra é uma “tentativa de extrair as riquezas da Sagrada Escritura” e da tradição católica para ajudar a descobrir o que é o gênio “masculino” e o que significa ser um “homem que é marido, pai e chefe de família”. Entre as muitas percepções de Schadt está o fato de que o desejo do homem de se relacionar com a mulher é indicativo de sua vocação para a paternidade. Esse livro é um dos vários de uma nova onda de publicações dos últimos anos que visam aprofundar nossa compreensão da masculinidade, do patriarcado e da família; e, em minha opinião, esse livro é edificante, encorajador e fácil de ler.

Para Schadt, a paternidade é uma vocação para o combate espiritual tanto quanto qualquer outra coisa. O chefe da casa é o “homem forte” da parábola de Cristo, a quem o diabo tenta amarrar (Mt 12,29). “O demônio está empenhado em expulsá-lo do seu âmbito vocacional como guardião do seu jardim, onde o homem pode seguir seu caminho com sua esposa e filhos.” De fato, “para que sua esposa e seus filhos sejam preservados do mal, permaneçam seguros na jornada em direção ao céu, é necessário que você, como o homem forte de sua casa, mantenha sua posição e resista ao inimigo”.

Ser ordenado à paternidade – tanto espiritual quanto fisicamente – é um elemento fundamental da natureza do homem e de seu destino. O desejo do homem de se relacionar com uma mulher como pai, protetor e amante é a indicação de um “chamado divino”: “Muito mais do que uma resposta biológica, instintiva e automática à beleza da mulher, a convocação para entrar no jardim da mulher é um chamado divino e deve ser respeitado como tal.”  Embora Schadt foque no casamento, ele não se esquece de que a tradição cristã do celibato não nega a paternidade aos homens, mas a incorpora e a apoia de uma maneira diferente.

A vocação do pai é “ficar no horizonte entre o mundo hostil e o jardim interior da vida doméstica”. “O homem nunca está completamente em casa no jardim”, pois Adão foi criado fora do Éden. Somente após sua criação é colocado no Jardim, que simboliza a mulher e todo o complexo da fecundidade doméstica. Como o primeiro homem, todos os homens têm “um pé no mundo externo, desconhecido e talvez hostil, enquanto o outro pé está plantado no mistério, na riqueza e na fecundidade do amor doméstico”. Esse fato de estar “do lado de fora” dá aos homens uma capacidade semelhante à de Cristo de combater o mal “ao mesmo tempo em que se mantém firme, valorizando e defendendo o mistério da Trindade em [sua] família”. Essa combinação entre o interior e o exterior cria uma tensão “desejada por Deus” que concede “ao homem uma certa vantagem” necessária quando a violência é exigida para defender o jardim sagrado. Se um homem negligenciar o doméstico e o interior ou o exterior, haverá um desequilíbrio, tornando-o brutal ou excessivamente “delicado” e voltado para o interior.

Esse livro também demonstra que o fato de Deus confiar a mulher ao homem “não nega a dignidade da mulher ou sua responsabilidade pessoal perante Deus, mas eleva a dignidade da mulher por meio da abnegação do homem”. Sem querer ser taxativo em sua definição, Schadt diz que o “gênio masculino” é de “responsabilidade sacrificial hierárquica”. “De acordo com o santo apóstolo, amor é sinônimo de sacrifício, e liderança é sinônimo de ser um salvador; e um salvador se entrega em sacrifício por sua esposa.” A responsabilidade de um homem é sacrificar suas ambições e importância própria “com o propósito de proteger e aperfeiçoar [sua] esposa, que é portadora da vida, uma figura do pináculo da ordem criada”.

“A família é uma instituição natural”, lembrou-nos Joseph Shaw em seu livro mais recente. Isso significa que “a família nunca pode ser eliminada. As outras coisas que mencionei – revistas, associações, paróquias e assim por diante – podem ser, e de vez em quando são, destruídas”. Para Schadt, assim como para Shaw, a “chave para renovar a ecclesia universalis” deve ser encontrada em uma restauração da igreja doméstica. A válida contribuição de Schadt está no sentido de reformular e orientar os diferentes desejos do homem na perspectiva de que “a necessidade do homem pela mulher é essencial para o plano divino”. O livro de Schadt tem autoridade simplesmente porque ele está meditando sobre as escrituras e reiterando a tradição da Igreja. É fácil esquecer que às vezes precisamos ouvir melhor “o que já sabemos”. Ele não escreve de forma acadêmica, mas se dirige ao leitor como “meu irmão”, dando ao livro o tom mais de um retiro espiritual do que de um tratado teológico.

Em última análise, Schadt quer nos ajudar a entender “como a liderança de um marido está a serviço de plenificar sua noiva” e como o casamento pode nos ajudar a “tornarmo-nos homens de Deus heroicos, valentes e sacrificais”. O livro de Devin Schadt complementa o comentário de Joseph Shaw de que o casamento monogâmico é construído sobre um “alicerce que não é aprendido, mas que surge das profundezas da natureza humana”. Se Deus nos criou para sermos (nas palavras de Schadt) “guerreiros do amor que se doa”, The Meaning and Mystery of Man certamente ajuda a esclarecer essa vocação. “Todos os homens sofrem, mas poucos se sacrificam”, escreve ele. “A sagrada vocação para ser um guardião do jardim exige que você aceite o sofrimento em prol do seu casamento. Ao fazer isso, você e sua esposa não apenas complementarão um ao outro, mas ajudarão a completar um ao outro e, por fim, alcançarão a realização que só Deus pode oferecer.”

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Autor: Julian Kwasniewski

Julian é um músico especializado em combates da Renascença, além de ser artista, designer gráfico e escritor. Publica diversos artigos em mídias católicas.

Fonte: Catholic Exchange

Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.

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