Como muitos católicos, eu cresci em uma família que rezava o Rosário todas as noites. E nós sabemos porque nós fazemos. Como mamãe nos lembrava, a pessoa mais eficiente para levar suas orações para Jesus era sua própria mãe. Como um bom filho, como Ele poderia recusar algo a ela?
Como crianças, nós normalmente íamos ao Rosário diário com protesto – “rapidinho, mãe” – mas, ao nos ajoelhar, era um amável e calmo momento, daqueles que uniam a nossa família de nove crianças no final do dia de normais tensões entre irmãos. Anos depois, quando nos reunimos para o velório dos nossos pais e depois para o dos irmãos, rezamos o Rosário juntos e isso ainda nos unia. O Padre Paddy Peyton estava certo quando disse: “A família que reza unida permanece unida”.
O suave som das Ave-Marias ajudou a me apresentar ao que mais tarde conheci como meditação. Minha mãe nos encorajava a “apenas pensar sobre os mistérios”. Quão sábia ela era. Na sua amável carta apostólica, Rosarium Virginis Mariae (RVM), o papa São João Paulo II chamou o Rosário de “um caminho de contemplação”.
Se algum de nós perdia a recitação familiar, o boa noite da nossa mãe era sempre acompanhado por “tenha certeza de rezar o seu Rosário”. Nós sabemos que ela mantinha o dela embaixo do seu travesseiro para os momentos de insônia. E minha avó amava nos dizer que, se você começou o Rosário e dormiu, “os anjos e santos terminaram por você”.
Durante a minha infância, então, eu conhecia o Rosário como uma oração comum e pessoal, como um calmo modo de recitação e contemplação. Ele me convenceu que eu poderia ir à Jesus por meio de Maria, e que a grande comunhão dos santos rezava conosco. Ele me ensinou a responsabilidade de rezar sozinho e com os outros. Ele me ensinou que eu poderia rezar em qualquer momento e em qualquer lugar.
O Rosário pode ter todos os benefícios catequéticos para as pessoas pós-modernas, além da poderosa eficácia como forma de oração. A sua popularidade se espalhou após o Vaticano II – um resultado não intencional dos esforços do Concílio para reorientar os católicos para Jesus, as Sagradas Escrituras e a liturgia. Mas, como observou o Papa João Paulo II na RVM, o Rosário, “embora claramente de caráter mariano, no fundo é uma oração cristocêntrica” e “tem toda a profundidade da mensagem evangélica na sua totalidade”.
O que gerou atenção da RVM foi que o Papa João Paulo II adicionou cinco novos mistérios ao Rosário. Por 500 anos, o Rosário completo possuía 15 dezenas, cada uma focada em um mistério da vida de Cristo ou Maria. Então, as 15 dezenas eram agrupadas em 3 séries de 5 – chamados “terço” – designadas como mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos, focados na Encarnação, Paixão e Glorificação de Jesus Cristo, respectivamente.
No entanto, os 5 mistérios luminosos focam em encontrar Jesus no templo – quando Ele tinha 12 anos – enquanto o primeiro mistério doloroso, que o segue, contempla a agonia de Jesus no Getsêmani. Em outras palavras, nenhum mistério foi designado para a vida pública de Jesus – um enorme vácuo. Eu me alegrei quando o Papa São João Paulo II anunciou a adição de cinco novos mistérios focados precisamente na vida de Jesus. Como os católicos que rezam esses Mistérios da Luz – ou Mistérios Luminosos – nós conseguimos nos aprofundar no nosso reconhecimento e compromisso de viver como discípulos de Jesus hoje.
Nós não podemos dizer exatamente quando e onde o Rosário começou a ser uma devoção popular. A antiga tradição de que foi pessoalmente entregue a São Domingos diretamente por Nossa Senhora é hoje seriamente questionada. Por outro lado, os dominicanos certamente ajudaram a padronizar e popularizar o Rosário nos séculos XV e XVI. O papa Pio V, um dominicano, instituiu a festa de Nossa Senhora do Rosário (hoje, celebrada dia 7 de outubro), ele atribuiu a derrota dos turcos na batalha de Lepanto em 1571 à eficácia do Rosário.
Por volta do ano 1000, leigos começaram a recitar 150 Pai-Nossos, divididos em 3 partes de 50, e contavam com colares de contas chamados paternosters. Isso se tornou conhecido como “o Saltério do pobre”, porque copiavam os monges e freiras que recitavam os 150 salmos todos os dias. À medida que a devoção mariana aumentou no século XII, os cartuxos e cistercienses ajudaram a desenvolver e popularizar um Rosário de Ave-Marias.
É significante também a imagem que era pregada sobre Deus ser alguém severo e crítico. Essa é uma das razões de a devoção mariana crescer. Como uma mãe amável, ela parece ser mais fácil de se aproximar do que um Pai severo e exigente.
O Rosário surgiu do instinto dos leigos de que eles também eram chamados a praticar uma oração regular e sacrificar o seu tempo e trabalho durante o dia. Eles sabiam que os monges e freiras estavam fazendo isso pela oração da liturgia das horas, mas as demais pessoas não tinham tempo para parar para uma oração em coral. Mesmo assim, o instinto deles era de rezarem também. O Rosário surgiu do instinto de leigos de que o Batismo chama todos a santificação da vida, e isso demanda uma prática regular da oração.
Nós deveríamos ser inspirados todos os dias por esses sábios instintos. Uma vida regular de oração vai sempre ser essencial para sustentar a vida cristã. Nós devemos estar conscientes da presença e relacionamento de Deus conosco através do tempo ordinário e das atividades da nossa vida – não apenas da igreja. Cristãos batizados não podem delegar aos outros – como monges e freiras – a sua oração; nós mesmos devemos rezar, com e como a Igreja – mesmo que estejamos sozinhos.
Certamente, o incômodo da vida diária pode ser acalmado por uma oração tão gentil e meditativa como o Rosário.
Qual é a melhor maneira de rezar o Rosário? A tradição diz que é meditar no mistério de cada dezena, em vez de focar nas palavras de cada oração. Assim, com o primeiro mistério gozoso, a Anunciação, podemos pensar na grande iniciativa de Deus aqui, na disponibilidade de Maria para fazer a vontade de Deus, e assim por diante. Ou, de forma mais contemplativa, pode-se imaginar e entrar no cenário enquanto o Anjo Gabriel aparece para Maria, ouvir a troca entre eles, e assim por diante. O propósito de toda essa contemplação é levar o mistério para a vida diária para encorajar o discipulado cristão.
Como comentou sabiamente o Papa João Paulo II, temos no Rosário “um tesouro a redescobrir”.
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Autor: Catholic Digest
Fonte: Catholic Digest
Traduzido por Maria Augusta Viegas – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.