Onde encontramos o Purgatório na Bíblia?

Você já ouviu alguém perguntar por que os católicos acreditam na existência do Purgatório se, como essa mesma pessoa poderá pontuar, não se encontra em lugar algum da Bíblia algo que fale sobre o Purgatório? “Como vocês católicos podem acreditar no Purgatório se não se encontra em lugar algum da Bíblia a palavra ‘Purgatório’?

E essa pessoa está certa – a palavra ‘Purgatório’ não se encontra na Bíblia. Então, como você, enquanto católico, pode responder a essa pergunta? Respondo-a em três etapas:

Primeiro passo: Use a lógica da pergunta contra eles.

O pressuposto que permeia essa questão é que, se algo não se encontra na Bíblia, então, como cristãos, não devemos acreditar nisso. Esse tipo de pensamento é fruto do dogma protestante do Sola Scriptura – a crença de que a Bíblia isoladamente considerada é tudo o que os cristãos precisam para compreender a correta doutrina e o dogma. O que torna os católicos errados por crer no Purgatório, assim, é o fato de a palavra “Purgatório” não estar na Bíblia.

Então, como usar a lógica deles contra eles mesmos? Pergunto-lhes se eles têm Altar calls¹ em suas igrejas. Se disserem que sim, peço-lhes que me mostrem em que passagem bíblica os altar calls são citados. Eles não podem, porque não se fala disso nas Escrituras. Então, pergunto-lhes se vão à Igreja nas quartas-feiras à noite. Não sei sobre o restante do país, mas no sul, as quartas-feiras à noite são momentos especiais para os protestantes. Se disserem que sim, que vão à igreja na quarta-feira, peço-lhes que me mostrem onde esta prática é mencionada na Bíblia. Eles não podem, porque não é. Finalmente, pergunto-lhes se acreditam na Trindade. É claro que eles creem na Trindade, e essa é a resposta em todas as vezes. Então, pergunto: “Você pode me mostrar onde a palavra “Trindade” está na Bíblia?”. Eles não podem, porque não está.

Contudo, inevitavelmente eles me dirão que a Trindade, na verdade, está na Bíblia. O Pai é mencionado, o Filho também, além do Espírito Santo. No batismo de Jesus, as três pessoas da Trindade estão presentes. “Então”, eu direi, “você afirma que, ainda que a palavra ‘Trindade’ não apareça na Bíblia, o conceito de Trindade está presente na Bíblia, o que faz com que não tenha nenhum problema em os cristãos acreditarem nela?”. Quanto a isso, sempre recebo uma resposta afirmativa. E é então que passo para a etapa seguinte: mostrar-lhes que o conceito do Purgatório está presente nas Escrituras.

Segundo passo: 2 Sm 12, 13-18

Gosto de começar por 2 Sm 12, 13-18, o qual afirma:

“Davi disse a Natã: ‘Pequei contra o Senhor’. Natã respondeu-lhe: ‘O Senhor perdoa o teu pecado; não morrerás. Todavia, como desprezaste o Senhor com essa ação, morrerá o filho que te nasceu’. E Natã voltou para sua casa. O Senhor feriu o menino que a mulher de Urias tinha dado a Davi e ele adoeceu gravemente… Ao sétimo dia, morreu o menino”.

O que vemos aqui? O pecado de Davi – adultério e assassinato. O Rei Davi percebeu que pecou. Davi se arrepende e é perdoado – o Senhor “afasta dele” o seu pecado. Contudo, Davi recebe uma punição por seu pecado antes de ser perdoado – seu filho morre.

Princípio Bíblico Católico #1 – existe a possibilidade de punição por um pecado depois de ele ter sido perdoado.

Vamos agora para o Novo Testamento. Ap 21, 27 diz: “Nela não entrará nada de profano…”. Essa é uma referência à Nova Jerusalém – o Céu.

Princípio Bíblico Católico #2 – nada impuro – nada, em outras palavras, com a mancha do pecado – entrará no Céu

Mais passagens bíblicas. Hb 12, 22-23: “Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial… e de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição”. Perceba que fala de “espíritos” de homens justos (os quais, como diriam os católicos, são as pessoas que morreram em estado de graça) que estão no Céu, e aqueles que “chegaram à perfeição”.

Princípio Bíblico Católico #3 – há um caminho, um processo, por meio do qual os espíritos dos “justos” são “tornados perfeitos”

Finalmente, vamos para 1 Cor 3, 13-15: “A obra de cada um se tornará manifesta. O dia (do julgamento) irá demonstrá-lo. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o cons­trutor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo”.

Em que lugar um homem, após sua morte, tem suas obras colocadas à prova, e poderia sofrer como que por meio do fogo, mas ainda ser salvo? No inferno? Não, pois uma vez que se está no Inferno, não se sai. No Céu? Não, não se pode sofrer como que pelo fogo no céu. Deve ser em outro lugar.

Princípio Bíblico Católico #4 – há um lugar, ou um estado do ser, além do Céu e do Inferno

Agora, vamos resumir esses quatro princípios bíblicos católicos: há a possibilidade de uma pena pelos pecados mesmo depois de termos recebido o perdão. Nada que tenha a mancha do pecado entrará no Céu. Há algum meio, ou processo, pelo qual os espíritos dos justos são tornados perfeitos. E há um lugar além do céu e do inferno onde se pode sofrer por meio do fogo após a morte e ainda ser salvo. Una todos esses princípios e você terá, em essência, a descrição do ensinamento católico a respeito do Purgatório. Conclusão: o Purgatório está na Bíblia.

Terceiro passo: “Nós já somos perfeitos?”

Indo para além das Escrituras, você poderia acrescentar o que eu chamo de senso comum a respeito do Purgatório – Terceiro passo. É mais ou menos assim: Faça a pergunta: “Você já é perfeito? Em todas as formas – física, mental, emocional e/ou espiritualmente – você é perfeito? Você tem alguma ligação com o pecado? Você nunca teve nenhum pensamento ruim, disse uma palavra má, fez algo que não deveria ou deixou de fazer algo que deveria?”. Fiz essas perguntas a muitas pessoas, e nunca me disseram que eram perfeitas.

“Então você não é perfeito. Mas, Deus nos livre, digamos que você morra nesse momento, e devesse ir para o Céu. Você já seria perfeito no Céu?”. Sempre, sempre ouvi a resposta: “Sim, eu seria perfeito no Céu”.

“Sim, você seria. Você estaria perfeitamente unido ao Corpo de Cristo, sem mais pecados, dores, angústias, doenças. Sua alma seria livre do pecado e seu corpo, após a ressurreição dos mortos, estaria em seu estado glorioso. Você seria perfeito no Céu”.

Então, peço que eles reflitam sobre o que acabaram de afirmar. Você morre em meio à imperfeição; mas adentra no Céu como perfeito. Como isso pode acontecer? Entre morrer e entrar no Céu, é preciso que haja algum processo pelo qual o espírito dos justos é tornado perfeito (Hb 12, 23). Suas imperfeições são “purgadas” de você. E eu lhes digo que chamem esse processo do que quiserem, mas ele é o que nós, católicos, chamamos de “Purgatório”.

[¹NT: É uma tradição em algumas igrejas cristãs nas quais aqueles que desejam fazer um novo compromisso espiritual com Jesus Cristo são convidados a se apresentar publicamente. É assim chamado porque os suplicantes se reúnem no altar localizado na frente do prédio da igreja.]

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Autor: John Martignoni

É o fundador e presidente da Bible Christian Society, um apostolado de evangelização e apologética que alcança centenas de milhares de pessoas com as verdades da Fé Católica. 

Fonte: Catholic Exchange

Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação e Formação, além de atualmente participante da coordenação do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.

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