A solenidade de Corpus Christi (Corpo de Cristo) celebra a presença real de Jesus na Eucaristia, seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade. Essa solenidade representa um ponto alto, prolongando e celebrando toda a força do Mistério Pascal: Jesus derrota a morte e o pecado e ressuscita para uma nova vida no domingo de Páscoa; após sua ascensão, ele e o Pai enviam o Espírito Santo (veja Jo 15, 26; 16, 7) em Pentecostes, seguido pelo Domingo da Trindade e depois Corpus Christi.
A Trindade é a comunicação eterna da natureza divina do Pai para o Filho, e através do abraço amoroso do Pai e do Filho, o Espírito Santo procede de ambos. Esta é a Trindade imanente, a própria vida interior de Deus desde toda a eternidade.
A Trindade econômica diz respeito a Deus sair de si mesmo, em suas obras de criação e redenção. No Mistério Pascal, nós vemos o envio do Filho e do Espírito, que estende e prolonga essas procissões internas dentro de Deus no tempo. Os sacramentos, essencialmente a Eucaristia, tornam presente o Mistério Pascal e nos levam para dentro dessa dinâmica interior de vida e amor.
Assim, o Mistério Pascal nunca está trancafiado no passado, mas existe sempre no presente – especialmente na Eucaristia, para que todo o povo de Deus possa ser oferecido ao Pai, “por Ele, com Ele e n’Ele”.
Vamos agora dar uma olhada na Eucaristia através das lentes bíblicas do maná e do Santo dos Santos.
Maná
Deus libertou Israel do Egito no Êxodo, para a vida na Terra Prometida. O maná é precisamente aquele alimento para a jornada que sustentou Israel após o Êxodo, a caminho da Terra Prometida. E, de fato, o maná cessou quando os israelitas finalmente chegaram (Js 5, 12). Lembre-se de que o maná não era pão comum, mas o “pão de anjos” (Sl 78, 24-25), que milagrosamente caía diariamente (um elemento que pode perpassar a petição “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”). Jesus afirmou claramente que esse maná antigo prenunciava a Eucaristia, anunciando a superioridade desta última:
“Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer.” (Jo 6, 49-50)
Também encontramos uma ligação semelhante entre a multiplicação dos pães feita por Jesus e a Última Ceia: os mesmos quatro verbos em grego se repetem (lambano [tomou], eulogeo [abençoou], klao [partiu], didomi [deu]) (Mt 14, 19; 26, 26). De fato, há uma igreja em Tabgha, no mar da Galiléia, que remonta ao século IV, que marca o local da multiplicação dos pães; nesta igreja há um mosaico com apenas quatro pães (não cinco, como na história de Mt 14, 17); o ponto é claro: o quinto está no altar! Claramente, esses cristãos do século IV e os autores do Evangelho viam a multiplicação dos pães como uma prefiguração de um milagre maior por vir, a saber, a Santa Eucaristia.
Santo dos Santos
Na Carta aos Hebreus, há uma alusão ao véu que separava o Santo dos Santos do Santo Lugar no Templo. Em Hebreus, o templo terreno dá lugar ao celestial; e o véu pelo qual passamos para entrar no Santo dos Santos dos céus não é outra senão a carne ressuscitada de Jesus Cristo:
“…poder entrar no santuário eterno, em virtude do sangue de Jesus, pelo caminho novo e vivo que nos abriu através do véu, isto é, o caminho de seu próprio corpo”. (Hb 10,19-20)
Através da Eucaristia, adentramos em algo maior que o antigo Santo dos Santos – através da carne ressuscitada de Cristo na Eucaristia entramos no Santo dos Santos celestial, pelo qual temos esperança de que possamos comer e “viver para sempre” (Jo 6, 51; veja também Gn 3, 22b).
Onde quer que o Rei esteja, está o Reino; e na Eucaristia, o Rei está presente – como também está o seu Reino. Jesus não terá um único grama a mais de glória no final dos tempos do que Ele tem agora na Eucaristia; a diferença estará apenas na nossa capacidade de ver.
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Autor: Andrew Swafford
Fonte: Ascension Press
Traduzido por Angela de Oliveira – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.