Santa Teresa de Calcutá, Nossa Senhora das Dores e Escuridão Espiritual

Há décadas que Madre Teresa é um protótipo de santidade na cultura popular. Seu nome se tornou, inclusive, sinônimo para uma pessoa que faz algo especialmente bondoso ou altruísta. E por uma boa razão! Todo mundo sabe o básico sobre a vida de Madre Teresa: ela abriu mão de todas as suas posses, cuidou dos doentes e dos abandonados, e não esperava nada em troca. Muitas pessoas pressupõem que essas ações resultaram de uma alma super serena, e que sua contínua efusão de amor deve revelar um coração interiormente imerso em amor.Muitos se surpreenderam quando os escritos pessoais de Madre Teresa foram publicados, revelando uma alma que era atormentada pela dúvida e que sofria sob uma quase constante escuridão. A futura santa escreveu:

“Dizem que as pessoas no inferno sofrem uma dor eterna por causa da perda de Deus – elas passariam por todo aquele sofrimento de bom-grado se tivessem ainda que fosse uma pequena esperança de possuir a Deus. Em minha alma, eu sinto essa terrível dor de perda, de Deus não me querer, de Deus não ser Deus, de Deus não existir de verdade (Jesus, por favor, perdoe minhas blasfêmias, eu fui instruída a escrever tudo). Essa escuridão me circunda por todos os lados. Não consigo elevar minha alma a Deus – nenhuma luz ou inspiração entra em minha alma”.

Como poderia alguém que irradiava amor e parecia tão certa de sua vocação possuir também uma dor espiritual tão forte?Essa “escuridão” é difícil de ser compreendida pelos cristãos que frequentemente ouvem falar sobre a “alegria do Senhor” ou sobre a “paz que ultrapassa todo entendimento”. Às vezes, discutimos sobre os desafios e as circunstâncias difíceis, mas quase sempre com a advertência de que, por causa de Cristo, devemos “nos alegrar sempre”, como diz São Paulo.Certamente, muitos santos expressaram alegria e gratidão em momentos difíceis. São Paulo soa quase otimista ao recitar sua ladainha de perseguições. Diversos mártires demonstraram grande alegria enquanto foram assassinados de forma brutal e dolorosa. Lembre-se do gracejo de São Lourenço, “Vire-me do outro lado!”, enquanto era assado vivo. É claro que isso revela um tipo de alegria que ultrapassa qualquer circunstância que possamos experimentar.Mesmo assim, a tradição cristã também dá bastante espaço para a luta não apenas com as circunstâncias difíceis, mas também a uma escuridão interior que frequentemente desafia qualquer ajuda ou mesmo a explicação. Os escritos dos hebreus estão cheios de passagens que refletem uma profunda escuridão. Mais notavelmente, muitos salmos descrevem não só uma mera tristeza por sofrimentos físicos ou momentâneos, mas um desespero causado por um sentimento de abandono por Deus. No Salmo 13, Davi entoa:

“Até quando, Senhor, de todos vos esquecereis de mim?

Por quanto tempo ainda desviareis de mim os vossos olhares?

Até quando aninharei a angústia na minha alma, e, dia após dia, a tristeza no coração?

Até quando se levantará o meu inimigo contra mim?”

A temática do abandono e do isolamento continua no tempo da Igreja, uma vez que muitos santos lutaram contra essa realidade. De fato, é um assunto peculiar para uma fé que enfatiza a alegria em todas as circunstâncias e a onipresença de Deus. Mas a resposta da Igreja para o sofrimento nunca foi fácil. Na fé católica, não encontramos uma solução rápida para lidar com a escuridão espiritual. Pelo contrário, descobrimos que o próprio Deus sofreu conosco. Os sofrimentos de Cristo não anulam os nossos, mas nos permitem estar mais próximos a Ele. Vemos isso talvez mais claramente na figura de Nossa Senhora das Dores.Os Católicos, desde sempre, recorreram à Bem-Aventurada Virgem Mãe como fonte de auxílio e modelo durante tempos difíceis. A Virgem Maria não sofreu a tortura ou o violento martírio a que se submeteram tantos mártires. Mas ela sofreu de forma mais profunda do que poderíamos imaginar. Chamados esses atos de sofrimento de “As Sete Dores”: a profecia de Simeão no Templo, a fuga para o Egito, a perda do Menino Jesus, o encontro entre Jesus e Maria no caminho para o Calvário, a Crucificação, a descida do corpo de Cristo da Cruz e o sepultamento de Jesus.Desde os seus primeiros temores pela segurança de Seu Filho até o pior pesadelo de qualquer pai, que é enterrar seu filho, Nossa Senhora conheceu terríveis dores. Ela certamente vivenciou os sofrimentos de Cristo de uma maneira única, pois conhecia a Sua identidade como Filho de Deus, mas também como filho que ela amava desde o momento da Anunciação. Esse incrível amor demonstra que ela viu e sentiu o sofrimento de Seu Filho de um modo tremendo. Por causa disso, a Bem-Aventurada Virgem está em uma posição única de intercessão por nós durante tempos de escuridão espiritual.É interessante notar que muitas das orações associadas a Nossa Senhora das Dores não pedem por alívio nos sofrimentos. Em vez disso, nessas orações, pedimos à Virgem Maria para nos deixar perto de Seu Filho. Próximos a Jesus, ao lado da Cruz, não encontramos rápidas consolações ou um encorajamento instantâneo. Encontramos Jesus sofrendo conosco, sofrendo por nós. _____________Autor: Daniel StewartÉ católico e pai. Ama correr, cuidar do jardim e assistir Star Wars com seus filhos.Fonte: Catholic ExchangeTraduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Tradução e Formação, além de atualmente participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.
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