Quando eu li Venha, seja minha luz: os escritos privados da Santa de Calcutá eu tive que parar por volta do capítulo 8. Eu sabia que Santa Madre Teresa tinha vivido um tempo de desolação espiritual, mas ler suas próprias palavras acerca disso foi difícil. Eu não queria chegar nessa parte. Eu não queria considerar como isso era pra ela. Eu apenas recentemente aprendi sobre consolação e desolação espiritual e estava aproveitando meu tempo de consolação. Minha alma era frágil, e ainda é, e não forte e saudável o suficiente para entrar nesse tipo de contemplação. Então, eu fechei o livro.
Desolação espiritual, no sentido inaciano, é um período de inquietação e agitação. É um tempo de intranquilidade em que Deus parece distante. A alma em desolação tem dificuldade em rezar e pondera o porquê de ter que rezar. Na desolação, nós podemos nos sentir como em um corredor escuro de incertezas. Fazemos perguntas. Sentimo-nos sozinhos, talvez abandonados e rejeitados. Não sabemos o que fazer ou para onde ir.
Sentimentos de abandono
Madre Teresa experienciou sua escuridão por décadas. Foi um choque para o mundo católico quando, depois de sua morte, foi revelado que ela lutou tanto. Por fora, parecia pacífica e santa, enquanto interiormente ela descrevia uma “escuridão incalculável” e um “anseio contínuo por Deus” para seu diretor espiritual, Fr. Josef Neuer. “O lugar para Deus em minha alma está vazio. Não existe Deus em mim”, ela escreveu para ele.
Isto é uma coisa alarmante a se considerar. Aqui vemos uma mulher que se tornou santa de quem eu me lembro. Eu lembro de aprender sobre ela, vê-la na mídia, sabendo que era uma pessoa verdadeiramente especial com uma relação especial com Deus. Se ela poderia se sentir tão distante de Deus, se ela poderia se sentir abandonada, que esperança eu tinha? A possibilidade da desolação espiritual assomou-se. Não vou dizer que eu me preocupei com isso, mas esperei muito que o Senhor me poupasse desse sofrimento.
Madre Teresa escreveu sobre seus sentimentos de ternura com Jesus que se perderam. Ela se perguntou a que exatamente estava levando os outros, porque não conseguia mais ver. Ela não tinha palavras. Conseguia apenas dizer “Meu Deus” em suas orações. Almas menores teriam desistido. Ela não o fez. Continuou em seu desejo de amar a Deus e compartilhou esses pensamentos com Fr. Neuer. Não consigo imaginar como isso deve ter sido difícil de admitir.
Continuando a servir
Fr. Neuer teve uma resposta pragmática: a desolação acontece e não existe uma maneira humana de corrigi-la. Ele disse que aquele que sofre tem que se lembrar que Deus está, de fato, ainda presente, mesmo quando sentimos que Ele não está. Ele escreveu: “O sinal seguro da presença discreta de Deus na escuridão é a sede de Deus… ninguém pode esperar por Deus sem que Deus esteja presente em seu coração”. O único jeito de responder é se entregar a Deus e “aceitar as trevas em união com Jesus”.
Com a orientação de Fr. Neuer, Madre Teresa começou a ver a escuridão como o lado espiritual de seu trabalho e uma forma de compartilhar o sofrimento redentor de Jesus. Ela viu isso como uma forma de experimentar a dor das pessoas que ela serviu, que se sentiam indesejadas, rejeitadas ou sem fé. Por conta de sua grande fé, Madre Teresa foi capaz de continuar fazendo o trabalho que Deus pediu que fizesse, o trabalho que ela prometeu a Ele que faria. Ela continuou a servir os pobres e doentes da Índia e continuou a trabalhar com as irmãs mais novas nas Missionárias da Caridade.
Desolação nesses tempos
Eu não sou versada em hagiologia (o estudo das vidas dos santos), então eu não posso dizer com nenhuma autoridade quantos santos experimentaram esse estado como Madre Teresa, mas eu sei que nós experimentamos tempos de desolação e tristeza. Todos nós sentimos aridez na oração quando Deus parece distante, e lutamos. Conversando com amigos, ouvi que Covid-19/quarentena/situação de paralisação causaram sentimentos de desolação e tristeza para muitos. Nossas rotinas foram perturbadas, fomos lançados em um vasto mundo de incertezas constantes, fomos isolados uns dos outros, o que é pouco saudável para nós humanos e éramos incapazes de receber nosso Senhor no sacramento da Comunhão.
Muitos de nós estamos cansados: física, emocional e espiritualmente. Muitos de nós nos voltamos contra nós mesmos. Estamos sucumbindo em um tornado de negatividade. Estamos afastados de nossas comunidades. Nós sentimos uma falta de controle e eu apostaria que estamos começando a parar de nos importar. Perguntamo-nos onde está Deus em meio a isso tudo. Dizem que Ele está aqui. Ele está presente, mas não parece. Parece que o mundo está girando fora de controle. Eu até me perguntei se isso é o início do fim.
Sabedoria de São Tomás de Aquino
Isso é desolação e tristeza. Madre Teresa, ore por nós. Eu estava lamentando para uma amiga querida e ela compartilhou um pouco da sabedoria de São Tomás de Aquino. Ele sugere cinco remédios para a tristeza. Eu os testei. É um bom conselho. Tente isso se você está com dificuldades. Estou falando sério.
Remédios de São Tomás de Aquino para a pandemia:
- Conceda a si mesmo algo bom, com moderação. Todos nós ouvimos piadas sobre o “Covid-19” que ganhamos desde que voltamos para casa e vivemos uma vida de preguiça. Esse remédio não nos dá licença para abusar, mas nos dá permissão para nos tratarmos com bondade se estivermos tristes.
- Lamente. De acordo com Charles Pope, “as lágrimas são a maneira da alma de expulsar a tristeza”. Quando choramos, liberamos o pesar. É desgastante e feio, mas nos sentimos melhor depois de um bom soluço.
- Converse com amigos. Foi fazendo exatamente isso que eu conheci esses remédios. Charles Pope nos relembra que precisamos da perspectiva dos outros. É perigoso nos fecharmos em nós mesmos.
- Contemple a verdade. De novo de Charles Pope, contemplando a verdade, “somos lembrados de nossa glória e felicidade finais se perseverarmos. Portanto, temos uma perspectiva.” Um pouco de perspectiva ajuda bastante.
- Se tudo falhar, tome um banho ou tire um cochilo. Amém e Aleluia! Essas são palavras que afirmam que é OK fugir um pouco. Do bom monsenhor: “Não somos simplesmente alma, mas também somos corpo. Algumas vezes, se a alma está aborrecida, importar-se com o corpo trará uma ajuda consoladora, inclusive para a alma”. Nossos pequenos cérebros têm um limite, e se um banho quente, um livro adorável ou um cochilo à tarde ajudar, faça-o.
Isso ilustra ainda mais o brilho e a beleza não só de nossa fé católica, mas de nosso Pai. Deus sabe. Ele sabe que encontraremos todo tipo de problemas nesse mundo decaído e Ele nos concede santos como Madre Teresa e São Tomás de Aquino para nos guiar. Eles viveram antes de nós e nos deixaram pérolas de grande conhecimento. Se você está em desolação ou experimentando a tristeza, ofereça a Deus seu sofrimento e peça para ser unido a Jesus. Lembre-se que Deus ainda estará lá, mesmo que você não consiga ouvi-lO. Acredite nisso e vá tirar um cochilo. Enquanto você adormece, pense por que estamos todos aqui: para ir para o céu, onde viveremos em alegria e felicidade eternas com Deus.
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Autor: Merridith Frediani
O dia perfeito de Merridith Frediani inclui oração, escrita, um café da manhã sem pressa, leitura, cuidando de dálias e brincando com seu marido e três adolescentes. Ela ama liderar pequenos grupos religiosos para mães e buscar a Deus no mundo ordinário. Ela escreve para o Catholic Herald em Milwaukee.
Fonte: Ascension
Traduzido por Guilherme Guimarães de Miranda – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.