Inicia-se no próximo domingo (29) o tempo do Advento, que é o período em que a Igreja se prepara, por meio da oração e da penitência, para a grande solenidade do Natal. Embora haja o costume de se referir a essa data como o “aniversário” de Jesus, o Natal é, na verdade, a celebração do mistério da Encarnação, motivo pelo qual, desde o século IV, a Igreja reserva um tempo específico da liturgia, dedicado à preparação dos fiéis, por meio do incentivo às práticas de piedade e ascese, a fim de que acolham o Verbo Encarnado de Deus, o Redentor do gênero humano, em seus corações.
Deus, que habita em luz inacessível, está presente nas suas criaturas, especialmente no ser humano, por meio de seus vestígios, de modo que o homem pode intuir a sua existência. Com a Encarnação, porém, o Senhor revelou-se aos homens de uma maneira muito particular, manifestando-lhes a plenitude de seu amor, algo que seria impossível de se fazer somente pela criação. Daí a grandeza do Natal e o porquê de a Igreja, vestindo-se de roxo, dedicar um período da liturgia para a meditação desse acontecimento, ao longo de quatro semanas. O objetivo do Advento é capacitar os cristãos a reconhecerem a presença de Cristo em suas vidas.
O Natal se refere a uma das vindas de Jesus. São Bernardo de Claraval ensina que existem três dessas vindas. A primeira ocorreu há dois mil anos, na humildade de uma manjedoura, em Belém. A terceira será a vinda definitiva, no Fim dos Tempos, quando Jesus se assentará no trono da glória para julgar os atos da humanidade. A segunda vinda, por sua vez, é uma vinda intermediária, que pode acontecer todos os dias, por meio dos sacramentos, sobretudo pela Confissão e pela Eucaristia. E é justamente essa a vinda para qual devemos nos preparar no tempo do Advento.
De forma concreta, a pessoa que está em estado de graça deve ser capaz de perceber a presença de Deus em sua alma. Todos os batizados recebem um organismo espiritual que é alimentado pela presença da Santíssima Trindade, como prometeu Jesus durante a Última Ceia: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo14, 23).
Acontece que essa presença é, infelizmente, ignorada por muitos de nós, por conta de nossos apegos e paixões desordenadas. Assim como em uma cidade grande, onde as estrelas acabam ofuscadas pelas luzes artificiais, a presença de Nosso Senhor Jesus Cristo é escondida pelas centenas de distraçõezinhas da nossa alma, de sorte que, para encontrá-Lo, precisamos retirar-nos para o campo, onde não existe a presença de outras luzes, senão a do próprio Céu.
Esse retiro deve ser praticado de três maneiras, segundo o que ensina a Igreja:
- Por meio da oração íntima diante de Deus, em que você se entrega absolutamente ao Senhor e trata de amizade com Ele;
- Por meio da recepção frequente da Eucaristia;
- Por meio da ação de graças após a Santa Comunhão.
É claro que esses três passos dependem, em primeiro lugar, da pureza da alma. Por isso é imprescindível que a pessoa esteja em estado de graça para conseguir enxergar a presença de Cristo. De resto, a oração íntima com Deus é válida para todos os tipos de fiéis, pois, como ensina o Concílio Vaticano II, todos somos chamados à santidade, sejamos clérigos ou leigos.
Para vivermos bem este tempo litúrgico do Advento é interessante saber que ele está dividido em duas partes: as primeiras duas semanas servem para meditar sobre a vinda do Senhor quando ocorrer o fim do mundo; enquanto as duas seguintes servem para refletir concretamente sobre o nascimento de Jesus e sua irrupção na história do homem no Natal.
Nos templos e casas são colocadas as coras do Advento (falaremos sobre ela nos próximos dias) e se acende uma vela a cada domingo. Do mesmo modo, os paramentos do sacerdote e as toalhas do altar são roxos, como símbolo de preparação e penitência. A exceção é o terceiro domingo, o Domingo Gaudete (da alegria), no qual pode se usar a cor rósea. A fim de fazer sensível esta dupla preparação de espera, durante o Advento, a Liturgia suprime alguns elementos festivos. Na Missa, não é proclamado o hino do Glória.
O objetivo desses simbolismos é expressar de maneira tangível que, enquanto dura a peregrinação do homem, falta-lhe algo para seu gozo completo. Quando o Senhor se fizer presente no meio do seu povo, a Igreja terá chegado à sua festa completa, representada pela Solenidade do Natal.
FONTE: Site do Padre Paulo Ricardo e ACI Digital