“Virtude” tem origem na palavra grega arete, que significa “excelência”. Virtude é um tipo de perfeição, uma perfeição da alma humana. Ela indica um aprimoramento de algo que era anteriormente de qualidade inferior. Mas agora, através de um processo de superação de dificuldades, esforço e luta, a alma assume uma qualidade superior. É elevada e supera os outros. Sabemos com segurança que a vida envolve sofrimento, que não somos perfeitos, mas que estamos sempre “em processo“.
Esse pensamento mostra algo que muitas vezes é ensinado nos filmes, e muitos de nós sabemos da vida real: dificuldades, lutas, desafios, resistência – como você quiser chamá-los – não apenas nos ajudam ou são úteis para melhorar a nós mesmos, eles são essenciais. Os desafios e dificuldades que sofremos são condições necessárias para nos possibilitar crescer em virtude.
Então, isso significa que, se queremos crescer em virtude – para nos tornarmos as pessoas que lá no fundo sabemos que somos chamados a ser – devemos procurar desafios e enfrentá-los em vez de buscar conforto e evitá-los? A resposta é simples: sim; sim, nós devemos.
De fato, somos inclinados ou predispostos por nossa natureza humana a buscar esse crescimento. O desejo de buscar o desafio e de superá-lo como um meio de crescimento em virtude é algo que nos inflama por dentro graças à maneira pela qual fomos feitos como homens. É um caminho, uma fome, um chamado. Isso se manifesta em nosso entusiasmo pela competição, seja atlética (jogando ou assistindo), videogames, histórias épicas ou no mundo dos negócios e das finanças. “Acédia”, uma palavra latina para designar o ódio ao bem (e, por fim, a Deus) que surge da dificuldade de alcançá-lo, é uma corrupção ou perversão desse impulso. É o desejo de crescimento e virtude totalmente derrotado. No entanto, considerado por si só, esse desejo é uma coisa boa: estamos dispostos a crescer.
Nós devemos, entretanto, sempre lembrar que nosso objetivo deve valer o nosso esforço.
Quero, por exemplo, espalhar o evangelho com mais eficácia. Para esse fim, quero ser um escritor melhor. Hoje, eu normalmente escrevo para a comunidade acadêmica. Passo muito tempo procurando por citações e fazendo pesquisas e assim por diante. Gasto bastante tempo no computador, mas notei, ao ensinar minha filha que está na primeira série, que minha capacidade de realmente escrever com caneta e papel atrofiou seriamente. Essa não é apenas uma capacidade física, eu sempre tive caligrafia horrível. Agora, o maior desafio é que eu simplesmente não tenho paciência para escrever dessa maneira. Minha vontade se atrofiou, como uma perna quebrada […]
Então aqui estou eu. Estou me forçando a escrever (o primeiro rascunho, pelo menos) com uma boa e velha caneta e um papel antes de pegar o computador. Eu estou escrevendo para uma audiência diferente a respeito de dificuldades, virtudes e amadurecimento. Esse processo sozinho me faz coletar meus pensamentos de forma diferente e mais intencional. Ele faz voltar-me a mim mesmo e lutar o desafio de ler minha própria escrita.
Estou tentando fazer algo diferente porque é difícil, fazendo o que é exigente porque é exigente.
Como você, eu quero ser excelente. Quero ser virtuoso. Eu quero que minha alma seja lapidada. Quero viver cada dia melhor a minha vocação como Católico, como marido e pai. Então, em meio às pequenas coisas da vida, estou começando a abraçar aquelas difíceis, a não fugir delas porque são difíceis, mas a ir ao encontro delas porque são boas para mim.
Esta é a razão de eu ter feito o Exodus 90 (exercício espiritual de 90 dias para homens). E é a razão de eu tê-lo feito novamente, uma vez que vi o quão mal eu fiz da primeira vez; como eu estava longe de ser excelente em oração, fraternidade e ascetismo. Mas, desta segunda vez, estou correndo até eles e os abraçando. Essa experiência tem sido libertadora: “Meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11, 30). Minha fraternidade e responsabilidade com os outros homens do grupo, forjada no sofrimento compartilhado e oferecida em sacrifício por algo além de nós mesmos, ensinou-me a lutar fortemente diante das dificuldades, mesmo as pequenas, como um banho frio ou acordar cedo para rezar e fazer exercícios. Ensinou-me a acolher os desafios que nos purificam, tanto em nós mesmos como em relação uns aos outros. Claramente, há um longo caminho a percorrer nessa jornada de disciplina, mas agora eu sei que liberdade e excelência – ou seja, virtude – vêm a partir de coisas difíceis bem feitas, tudo pela graça de Deus.
Quais são as pequenas dificuldades que você enfrenta no dia a dia? Quais os desafios que lá no fundo você sabe que está sendo chamado a “pegar em armas e lutar contra eles”?
Nenhum desafio é pequeno demais para alguém que busca a perfeição. Cada dificuldade é uma oportunidade para se tornar mais virtuoso, seja não apertar o botão de “soneca” do alarme pela manhã, fazer contato visual com um estranho e sorrir, trocar uma fralda suja, candidatar-se a um emprego, falar em público ou lidar com a morte de um ente querido. A virtude é forjada principalmente no forno do desafio mundano e cotidiano: “Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas o será também nas grandes” (Lc 16,10).
Viver é sofrer, isso é certo. Mas viver bem, sofrer por algo nobre – algo bom, verdadeiro e belo – é ver que as pedras que a vida joga em nós são realmente apenas o Criador traçando um caminho no deserto, endireitando o caminho para nos ajudar, “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
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Autor: Dr Elliott Bedford
Desde 2014, Elliott Bedford, mestre e doutor, atuou como Diretor da Ethics Integration for Ascension St. Vincent no centro e sul de Indiana. Em 2008 e 2009, ele recebeu o bacharelado e o mestrado em Filosofia pela Universidade Franciscana de Steubenville e completou um mestrado em Teologia pelo Instituto de Teologia de Aquino. Em 2012 obteve um Doutorado em Ética em Saúde, Tradição Católica, da St. Louis University. Como Diretor da Ethics Integration, Elliott fornece liderança na promoção da identidade da entidade como um apostolado Católico. Trabalhando desde equipes de liderança sênior a provedores de cuidados de linha de frente, ele lidera o desenvolvimento e integração de educação ética, consultoria e serviços de desenvolvimento de políticas para 20 unidades de cuidados intensivos de São Vicente e cerca de 16.000 associados. Ele também trabalha em estreita colaboração com a liderança de ética na Ascension Health em St. Louis, Missouri, para fornecer serviços de apoio em todo o seu ministério nacional e ajuda a promover relacionamentos mais fortes e vibrantes dentro da comunidade católica, especialmente nas dioceses de Lafayette-in-Indiana e Evansville, e no Arquidiocese de Indianápolis. Ele também é professor adjunto do College of Osteopathic Medicine da Marian University, em Indianápolis.
Fonte: Those Catholic Men
Traduzido por Ludmila Giacone – membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo nos Núcleos de Tradução, Formação e também participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.