Por dois anos e meio fui um jesuíta, vivendo a vida religiosa e experimentando o que é ser membro da Igreja, de uma maneira mais pública. Eu tive muitas oportunidades de servir pessoas de diferentes esferas da vida em diversos lugares. Tive de me acostumar com pessoas me chamando de irmão ou padre, apesar de não ser nenhum deles. Foi muito bom ser ali um representante “oficial” da Igreja Católica como religioso. Mas depois de um longo discernimento, decidi deixar a vida religiosa para seguir a vocação do matrimônio e da família. A maior questão para mim era “como posso continuar servindo à Igreja sendo um leigo?”. Me questionei se não ser mais um religioso prejudicaria em poder plenamente ensinar as pessoas.
Numa época em que a Igreja Católica sofre para manter sua voz relevante e proeminente perante a sociedade, o mundo católico tem enxergado a hierarquia da Igreja como a vanguarda nessa missão. São os bispos e padres nos noticiários, escrevendo cartas, discursando contra a complacência e ascensão do secularismo. Certamente, eles têm o dever de pastorear o rebanho, mas os não-leigos – incluindo bispos, padres, religiosos e seminaristas – formam somente 0.1% da população católica mundial. Os outros 99,9% – leigos – também têm uma vital responsabilidade em seu papel, como o Catecismo diz, “estão na linha mais avançada da vida da Igreja”. (CIC 899) Fiquei incomodado porque parece que ouvimos pouco sobre a vocação leiga.
A Missão dos leigos
Curiosamente, a Igreja Católica tem muito a dizer sobre os leigos. O Papa João Paulo II enfatizou o papel do laicato na sua carta apostólica de 2000, Novo Millennio Ineunte. Ele disse que precisamos redescobrir a vocação dos leigos, que têm um papel importante na nova evangelização, simplesmente dizendo: O laicato – não apenas os sacerdotes – podem levar o amor de Deus a todas as pessoas.
Os leigos têm uma vocação real que é uma missão essencial na Igreja. A palavra “missão” não deveria ser tomada de maneira despretensiosa. Os jesuítas eram todos sobre a missão, então saber que eu tinha uma missão, mesmo como um leigo, era reconfortante. Deus ainda me queria servindo.
No documento Lumen Gentium, um dos principais documentos do Concílio Vaticano II, a Igreja diz: “Por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus”. (LG, 31) Os leigos são únicos porque detêm um lugar especial no funcionamento da sociedade humana. Eles podem afetar leis, atitudes culturais e sistemas sociais em muitos lugares, onde vivem e trabalham. Os leigos têm uma influência que os bispos não têm. Seu próprio envolvimento em atividades seculares pode transformar o serviço ordinário em serviço apostólico – serviço que toca vidas e transforma corações.
Conforme entrei nas atividades seculares do mundo, descobri que eu poderia de fato santificá-las, sendo um leigo. O Catecismo diz que oração, trabalho, vida em família e descanso, se guiados pelo Espírito Santo, se tornam sacrifícios espirituais. O que quer que eu faça – seja no trabalho, em casa, nos relacionamentos – se o faço em espírito de oração e com Deus no centro, eu poderia ser “sacerdotal”. Pelo Batismo, somos chamados a participar do “sacerdócio de todos os crentes”, diferente de um clérigo ordenado. E os leigos não podem se limitar somente ao mundo secular. Também podem ser “padres leigos” não ordenados dentro da Igreja.
“Ide!”
Quando trabalhava como capelão no Hospital da Universidade de Georgetown em Washington, D.C, como um jesuíta, rapidamente aprendi que apesar de não ser um sacerdote ordenado eu poderia exercer funções sacerdotais com as pessoas a quem eu ministrava: eu poderia ouvir, rezar por elas, levar a Comunhão, e até batizá-las quando necessário. O leigo católico tem grande poder na Igreja!
Ao final de toda Missa, os católicos são exortados a irem embora com o propósito missionário de partilhar o Evangelho com aqueles que encontrarem em suas vidas. E a Igreja deposita muita confiança para que isso aconteça. Por quê? Porque os leigos são a Igreja cuja missão de Cristo é amar e proclamar o Evangelho. Semeando a terra pela sua oração e ação, o leigo ajuda a preparar o mundo para melhor receber a mensagem de Jesus sobre paz, amor e justiça.
A Igreja Católica exige do laicato um importante ministério: unir sua fé e amor por Cristo com tudo que perpassa o mundo secular e dentro da Igreja. Mulheres e homens de todos os tipos ajudaram o apóstolo Paulo em seu laborioso trabalho missionário. Hoje, os documentos da Igreja chamam os leigos a continuar o serviço.
Todo cristão leigo deveria se perguntar o que mais pode fazer para participar da missão de Cristo, dentro e fora de suas paróquias. É uma pergunta que preciso me fazer conforme surjo como um leigo. Deus dá ao laicato um grande e santo poder, nos chamando a sermos sacerdotes, profetas e reis. Com sua diversidade de dons e talentos, os leigos têm a oportunidade de se tornarem instrumentos da presença de Cristo e influenciar, em cada canto do mundo, todo tipo de pessoa e todo tipo de situação.
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Autor: Andy Otto
Andy mora com sua esposa e filha em Decatur, Geórgia e é membro-pastoral da Igreja de São Thomas More.
Fonte: Busted Halo
Traduzido por Gabriel Dias – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação, no Núcleo de Formação e no Núcleo de Diakonia.