São Pedro Apóstolo: Lançar as redes em águas mais profundas

Nascido em Betsaida na Galileia, no primeiro século, Simão foi chamado ao apostolado por nosso Salvador enquanto pescava em Genesaré (mar de Tiberíades). Espiritualmente forte e fervoroso, ele ocupou, entre os apóstolos, uma importante posição em que foi o primeiro a confessar com determinação ao Senhor Jesus como o Cristo, e por isso foi digno de ser chamado “Pedra” (Pedro) e sobre este alicerce o Senhor prometeu edificar a Sua Igreja, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno (Mt 16, 18).

O Chamado a Lançar as Redes

Em Lucas 5, 1-11, é relatada a ocasião em que Jesus, ao ver pescadores que trabalharam a noite toda sem sucesso lavando as redes para encerrar o trabalho, os ordena que levem a barca para águas mais profundas e lancem novamente a rede. Simão, obedecendo ao comando, mesmo que tivesse já pescado a noite toda, lançou e pescava uma quantidade de peixes que faziam as redes se romperem. Espantado, Simão pede a Jesus que se afaste do pecador que é, Jesus diz “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens.”

Jesus convoca Pedro e seus sócios (André, João e Tiago) não só a seguí-lo e fazer parte da Evangelização, mas, ao mostrar que a pesca em águas mais profundas é mais produtiva, pede que saiam de seus confortos rasos, seus locais explorados e com coragem, munidos da Verdade do próprio Cristo, possam mostrar as maravilhas de Deus para todo o mundo. Jesus desde o primeiro momento os prepara para a continuidade de Sua Igreja, em que, ao ascender para junto do Pai, deve ficar firme sobre Pedra sólida. 

O Peixe, dada sua relação com o Evangelho (seja na ocasião da barca ou na ocasião em que se alimentaram milhares com apenas cinco pães e dois peixes), é um dos símbolos mais antigos do cristianismo. Ichthys, do grego antigo (ΙΧΘΥΣ), trazia em seu significado “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”, sendo um croqui simplificado com dois arcos que se cruzam para formar o perfil de um peixe. Túmulos eram marcados com este símbolo para indicar que ali jazia um cristão. É possível fazer uma leitura, assim, que esses túmulos guardavam estes homens que foram pescados na barca de Pedro após a Ascensão do Senhor.

Atividade Apostólica de São Pedro

Respondendo ao chamado da pesca, foi o primeiro a contribuir para o fortalecimento e a divulgação da Igreja de Cristo após a descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes; ao pregar com determinação e firmeza diante de uma multidão de pessoas, promoveu a conversão de três mil almas para Cristo. Na sua segunda pregação pública, levou à conversão e à fé em Cristo mais de cinco mil hebreus. A força espiritual que procedia do apóstolo Pedro era tão intensa, que “chegaram ao ponto de transportar doentes para as praças, em esteiras e camas, para que Pedro, ao passar, pelo menos a sua sombra cobrisse alguns deles, e todos eram curados”. (At 5,15)

São Pedro escreveu epístolas presentes na Bíblia Sagrada destinadas às Igrejas na Capadócia, Galácia, Ponto, Ásia Menor e Bitínia. Fundou a Igreja em Antioquia, onde foi o primeiro bispo antes de consagrar Evódio como sucesso. Há também evidências históricas de sua presença em algum momento também no Egito, na Grécia, de volta à Galileia, além de várias menções no livro Atos dos apóstolos. 

Um relato notável sobre a vida apostólica de São Pedro após a Ascensão veio do terceiro papa, Clemente I, em uma carta endereçada aos fiéis em Corinto em que fala sobre seu martírio:

“Todavia, deixando os exemplos antigos, examinemos os atletas que viveram mais próximos de nós. Tomemos os nobres exemplos de nossa geração. Foi por causa do ciúme e da inveja que as colunas mais altas e justas foram perseguidas e lutaram até a morte. Consideremos os bons apóstolos. Pedro, pela inveja injusta, suportou não uma ou duas, mas muitas tribulações e, depois de ter prestado testemunho, foi para o lugar glorioso que lhe era devido. Por causa da inveja e da discórdia […]”

Na segunda epístola, escreve: “Tenho por meu dever, enquanto estiver neste tabernáculo, de manter-vos vigilantes com minhas admoes­tações..Porque sei que em breve terei de deixá-lo, assim como nosso Senhor Jesus Cristo me fez conhecer..Mas cuidarei para que, ainda depois do meu falecimento, possais conservar sempre a lembrança dessas coisas” (2 Pd 1, 13-15), referindo tanto ao seu martírio quanto ao cumprimento de sua missão de ser um alicerce firme para a Igreja.

“E sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”

Pedro foi martirizado no ano 67, no Circo Máximo de Nero, crucificado de cabeça para baixo (por não ser digno de ser crucificado como Cristo) e enterrado no local onde foi morto. Após o desuso do circo de Nero, a colina vaticana (como é chamado o local) foi sendo utilizada como um cemitério ao redor do local onde Pedro teria sido enterrado. Para destacar o local foi construído, como um monumento, uma edícula (uma estrutura leve com colunas, coroada por um tímpano sob o qual estava a sepultura de barro com os restos mortais de Pedro) chamada de Troféu de Gaio (imagem) onde peregrinos iam deixar ofertas e orações.

 

Posteriormente, o imperador Constantino ordenou que o Troféu de Gaio fosse escavado para recuperar a ossada do mártir para que fossem propriamente sepultadas com honras reais. Foram envoltos em um tecido púrpura e colocados em uma laje de mármore. 

No século IV foi construída a primeira basílica dedicada a São Pedro (329) e seu Altar Mor estava localizado diretamente acima de onde ficava o Troféu de Gaio e esta laje que abrigava a ossada de Pedro.

No século XII, a primeira construção foi demolida e em cima uma nova basílica em honra a São Pedro Apóstolo foi construída para sediar a cátedra. No século XVI a basílica foi novamente reconstruída com projeto do arquiteto Donato Bramante e permanece até os dias atuais nessa configuração e a tradição sempre defendendo que ali está o túmulo de São Pedro. Por esse motivo, há a tradição de depositar os restos mortais de mártires sob os altares das igrejas de Roma até os dias atuais, como uma forma de memória do martírio de Pedro na colina vaticana.

O Papa Pio XI pediu em vida que fosse enterrado no jazigo mais próximo a Pedro. Com sua morte, seu sucessor Pio XII começou a iniciativa de pesquisas arqueológicas para encontrar o túmulo do primeiro Papa. 

As escavações iniciaram em 1939 e foram encontrados diversos túmulos, mausoléus pagãos, caixas mortuárias e jazigos decorados com simbologia cristã, como pescadores e peixes. As escavações revelaram ainda que imediatamente abaixo do Altar Mor da basílica atual está o altar na basílica do século XII feita em granito vermelho; imediatamente abaixo está o altar de mármore branco da basílica do século IV e imediatamente abaixo está uma laje de mármore com diversos escritos, pichações em diversas línguas, entre elas, uma inscrição em grego onde se lê: “Pedro está aqui”. Foi feito um corte na laje e nela foi encontrada uma caixa ornamentada cotendo ossos. Um estudo nesses ossos apontou a presença de fibras de tecido de cor púrpura. Em 23 de dezembro de 1950 foi reconhecido como os ossos de Pedro. 

Simão, o pescador, irmão de André, príncipe dos apóstolos, o primeiro Papa, a Pedra sobre a qual a Igreja de Cristo é edificada, está na fundação física da sede da cátedra da Igreja Católica. Cercado dos corpos descansantes de papas que nos lembram da sucessão apostólica e nos dão a certeza da Verdade professada. 

“Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”

A vida de São Pedro nos remete à grandeza das obras que Deus espera de nós e quer confiar a nós. Um simples pescador de Betsaida foi encarregado com a evangelização de milhares de milhões de pessoas. Seu alicerce para a Igreja fundada pelo Cristo legitimou que a Palavra viesse ser conhecida até os dias de hoje com a guarda das escrituras, com a interpretação sob a autoridade do Magistério e o suplemento da Tradição. 

Que, com o exemplo de Pedro, possamos doar nossa vida em serviço, ser pescadores de homens e possamos com firmeza confessar a Verdade e corresponder ao chamado da missão que Deus pede de nós. 

“Senhor Jesus Cristo, Tu que nos chamas a lançar as redes em águas mais profundas, lembrai-nos sempre que “somos uma missão nesta terra, e para isso estamos neste mundo” e nos ajude, cada vez mais, a conhecer, encontrar, partilhar e expressar as riquezas da nossa fé.”

São Pedro Apóstolo, rogai por nós.

Texto escrito por André Crema, missionário da Rede de Missão Campus Fidei


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