Os ursinhos de Coquitlam

No auge da pandemia, nenhum avião comercial saiu do chão. Para o meu pai, que trabalha em uma agência de intercâmbio e viagens – e para a minha família – isso foi um golpe duro. A empresa, que servia como principal fonte de renda da casa, passou por um período longo sem receitas.

Quando estamos no meio do turbilhão, é difícil perceber, mas olhando para trás fica evidente que a providência divina sempre esteve presente na nossa casa, em discretas sutilezas.

Na agência, de vez em quando recebíamos caixas com materiais de escolas do exterior, que representamos aqui no Brasil. Folhetos, canetas, pen drives, aviõezinhos… ursinhos.

No início de 2022, o mundo ainda se escondia por trás de máscaras e as atividades não tinham voltado ao normal. Já se falava sobre o “novo normal”. As vacinas eram aplicadas há um ano, mas nem todos tinham tomado, e a economia era um caminhão tentando pegar no tranco.

Foi nessa época que um conjunto de escolas parceiras, o Coquitlam School District, enviou alguns ursinhos para a agência. As pequenas pelúcias, fofas que eram, viraram um despretensioso post para o Instagram naquele mesmo dia. Só uma foto, sem cerimônia, para lembrar que ainda estávamos vivos, na luta.

Dias depois, o inesperado. O diretor de uma das escolas do distrito de Coquitlam viu a publicação e – sem pedir nada em troca – perguntou se poderia patrocinar a agência. Simples assim, como quem oferece um empurrão no carro arriado. Providência divina que deu um fôlego após vários meses de prejuízos.

Dois desses ursídeos foram parar no nosso carro. Ganharam uma cadeira cativa, em cima do porta luvas, como pequenos guardiões de pelúcia.

Quando fazemos qualquer trajeto longo, o brinquedo de pelúcia é pedido pelo meu filho que nem completou dois anos. Estico o braço para o banco de trás e ele me pede “ôto, ôooto”. Vai brincando tranquilo pelo caminho sem imaginar o sinal da providência que isso representa.

Bebês e crianças não têm outra opção, é natural se abandonarem à providência dos pais – as crianças estão “libertas da preocupação pelo amanhã” (CIC 2547). Talvez seja por isso que Jesus dizia que o Reino dos Céus pertence a quem é como elas. Por que nós adultos nos preocupamos tanto com o dinheiro, então?

É Jesus mesmo que afirma: “Por isso, não andeis preocupados, dizendo: Que iremos comer? Ou, que iremos beber? Ou, que iremos vestir? De fato, são os gentios que estão à procura de tudo isso: vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas.” (Mt 6, 31-32).

O Catecismo ainda explica que “a divina Providência consiste nas disposições pelas quais Deus conduz, com sabedoria e amor; todas as criaturas, para o seu último fim(321); afinal, “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28).

Jesus completa o Evangelho da providência nos incentivando a buscar, “em primeiro lugar, seu Reino e sua justiça”, garantindo que “todas essas coisas serão acrescentadas” (Mt 6, 33). É uma promessa, que, se confiarmos, tudo se ajeita, do jeito dele, que, aliás, é sempre melhor que o nosso.

Logo, sabendo que Deus é nosso Pai, que não deixará faltar, talvez o segredo seja esse: deixar que Ele dirija o carro, enquanto seguimos no banco de trás, segurando nosso pequeno ursinho, mesmo às vezes sem saber para onde vamos, mas nos esforçando para fazer a vontade do Pai celeste, já que, sem Ele, nada podemos fazer (Jo 5, 15).

Afinal, “quem a Deus tem, nada lhe falta: só Deus basta” (St. Teresa D’Ávila).

Texto escrito por Pedro Pagano, Missionário da Rede de Missão Campus Fidei.

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