A santificação do trabalho profissional é uma semente viva, capaz de dar fruto de santidade numa imensa multidão de almas: “Para a grande maioria dos homens, ser santo significa santificar o seu trabalho, santificar-se no trabalho e santificar os outros com o trabalho”[1].
O semeador divino semeou esta semente nas vidas de milhares de pessoas para que o seu fruto cresça e se multiplique: trinta por um, sessenta por um e cem por um (Mc 4, 20). Refletir com calma sobre cada um dos três aspectos pode constituir frequentemente a trama do diálogo com Deus na oração. Estou santificando meu trabalho? Santifico-me com o trabalho? Isso é o mesmo que perguntar: transformo-me em outro Cristo através da minha profissão? Quais são os frutos de apostolado que dou com meu trabalho?
Um filho de Deus não deve ter medo de se fazer essas perguntas sobre o sentido último da sua tarefa. Pelo contrário, deve ter medo de não fazer, porque correria o risco de que o rio dos seus dias não encontrasse o caminho em direção ao verdadeiro fim, dissipando as suas forças em atividades dispersas como fios d’água estéreis.
EM UNIDADE VITAL
Esses três aspectos em que São Josemaria resume o espírito de santificação do trabalho se encontram intrinsecamente unidos, assim como numa espiga de trigo estão unidas a raiz, o caule e o grão, que é o seu fruto.
O primeiro aspecto – santificar o trabalho, tornar santa a atividade de trabalhar realizando-a por amor a Deus, com a maior perfeição que cada um possa conseguir, para oferecê-la em união com Cristo – é o mais básico e constitui a raiz dos outros dois.
O segundo – santificar-se no trabalho – é, de certo modo, consequência do anterior. Quem procurar santificar o trabalho necessariamente se santifica, isto é, permite que o Espírito Santo o santifique, identificando-o cada vez mais com Cristo. No entanto, assim como numa planta não basta regar a raiz, mas também é necessário cuidar do caule para que cresça direito, e às vezes apoiá-lo em algo – uma estaca – para que o vento não o quebre, ou protegê-lo dos animais e das pragas, assim também é preciso colocar muitos meios para se identificar com Cristo no trabalho: oração, sacramentos e meios de formação, com os quais se cultivam as virtudes cristãs. Graças a essas virtudes, a própria raiz também se fortalece, e a santificação do trabalho se torna cada vez mais conatural para nós.
Ocorre algo semelhante com o terceiro aspecto – santificar com o trabalho. Certamente se pode considerar como uma consequência dos outros dois, pois ao santificar o seu trabalho e identificar-se com Cristo, o cristão necessariamente dá fruto – santifica os outros com o seu trabalho – segundo as palavras do Senhor: Aquele que permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto (Jo 15, 5). Isso não significa que um cristão possa deixar de preocupar-se com dar frutos, como se estes surgissem da raiz e do caule sem a necessidade de fazer nada.
Na santificação do trabalho, esses três aspectos estão vitalmente unidos entre si, de modo que uns influem noutros. Quem não buscasse santificar aos outros com o seu trabalho, preocupando-se só com santificar o que faz, na realidade não santificaria nada. Seria como a figueira estéril que tanto desagradou a Jesus porque, mesmo tendo raízes e folhas, carecia de fruto (cf. Mt 21, 19). De fato: “Um bom indício da retidão de intenção, com a qual deveis realizar vosso trabalho profissional, é precisamente o modo como aproveitais as relações sociais ou de amizade, que nascem ao desempenhar a profissão, para aproximar de Deus essas almas”[2].
Vamos considerar agora mais detalhadamente este último aspecto da santificação do trabalho, que de algum modo dá a conhecer também os outros dois, como os frutos manifestam a planta e a raiz. Por seus frutos os conhecereis (Mt 7, 16), diz o Senhor.
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