Um bebê para o tio Matheus

Certo dia, minha filha Chiara, de 3 anos de idade, pegou uma bíblia, sentou-se de frente ao nosso pequeno altar e avisou que iria rezar.

Eu, como mãe babona que sou, prontamente peguei o meu celular para registrar o momento. Com o celular em mãos, pergunto à pequena o que está fazendo ela diz com a maior naturalidade que irá fazer uma oração. Não satisfeita, tentando descobrir o que desejava aquele coraçãozinho, pergunto o que ela irá pedir, esperando como resposta a Skye da Patrulha Canina ou alguma roupa de princesa. Sua resposta, porém, enveredou-se por um caminho muito inesperado por mim… A verdade é que esperei uma resposta que me apresentasse um desejo pessoal, mas Chiara respondeu com muita firmeza e intimidade: estou pedindo só para Ele dar um bebê para o tio Matheus.

Após responder, voltou rapidamente para a sua concentração como quem demonstrasse uma certa irritação -justificável- por ter sido interrompida. Ela realmente falava com Deus naquele momento.

Eu, no entanto, senti imediatamente um misto de orgulho e vergonha, pois percebi que minha filha, no auge dos seus 3 anos e alguns meses, foi capaz de compreender uma coisa que a mim, após 28 anos de vida, ainda custa: a necessidade de ser um dom para o outro, de viver essa fraternidade que vai ao encontro do outro em suas dores, alegrias e anseios, essa “fraternidade mística, contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano” (EG, n. 92).

Depois de ouvir aquilo, fui instantaneamente levada aos meus últimos momentos de oração pessoal naquele mesmo altar. E, assim, percebi que, em todas as vezes que me coloquei a falar com Deus, passava por uma imensa lista de desejos antes de pensar em qualquer outra pessoa. 

Vejam bem, não quero que pensem que eu não consigo pensar em meus irmãos, não é isso, mas na maioria das vezes eu venho em primeiro lugar. Chiara, por sua vez, ao perceber um momento propício para falar com Deus, ser ouvida e possivelmente atendida, pensou primeiro em um casal de amigos que se recomendaram às suas orações.

Devo acrescentar ainda que naquele dia este foi o seu único e genuíno desejo, nada pediu para si. 

Naquele dia, seu maior desejo era o de que Deus visitasse aquele casal tão querido por nossa família.

Naquele dia, mais uma vez, minha pequena me salvou do meu egoísmo. Ela me lembrou de algo que havia sido deixado de lado em meu coração, o amor.

Me esqueci de que, nas palavras de Santa Teresa de Calcutá, “o amor, para ser verdadeiro, tem de doer. Não basta dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até que isso nos machuque.”

Ver a fidelidade da minha filha naquele dia mudou algo em mim. Naquele dia, Chiara também me ensinou a rezar. 

Texto escrito por Isabella Dematte, missionária da Rede de Missão Campus Fidei.

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