Assista a qualquer evento esportivo — de um jogo de futebol, a uma partida de tênis ou algo relacionado a artes marciais — e você irá perceber algo significativo: a inevitável presença de árbitros. Eles existem para reforçar as regras do jogo, porque qualquer esporte digno tem regras, e, às vezes, bem complexas.
As regras asseguram um jogo justo, mas também dão aos atletas limites dentro dos quais eles podem exercer e medir suas habilidades. Uma partida de boxe sem as Regras do Marquês de Queensberry rapidamente se tornaria algo caótico e confuso. Orelhas poderiam ser mordidas sem impunidade alguma, e golpes abaixo da linha da cintura seriam algo comum. Mohammed Ali, Joe Frazier e Rocky Marciano foram grandes lutadores não por causa de sua brutalidade, descontrolada violência ou golpes sujos, mas porque eles sabiam como lutar dentro das regras e ainda usá-las a seu favor. As regras fazem o atleta, e elas fazem o jogo.
Vivemos numa era que despreza regras e restrições. Consideramo-nas como imensas violações de nossa ilimitada liberdade. A palavra “mandamento” soa como algo insuportável aos ouvidos de alguém imerso na ideologia pós-moderna, pois os dogmas da autonomia radical ditam que ninguém, em lugar algum, pode jamais entrar no caminho na sua busca pelo que eu desejo; ninguém jamais pode me dizer não, ainda que eu queira negar ou manipular os fatos fundamentais da realidade.
Chesterton uma vez brincou que, “em breve, estaremos num mundo em que um homem poderá ser vaiado por dizer que dois mais dois são quatro, no qual as pessoas acusarão de heresia alguém que afirme que um triângulo é uma figura de três lados, e que enforque um homem que afirme que a grama é verde só para enlouquecer a multidão”. Bem, esse dia não está tão distante no futuro. É hoje.
Assim como as regras fazem o jogo, da mesma forma elas tornam possível uma bela vida nesse mundo. Precisamos de limites para irmos adiante e sermos o melhor de nós mesmos. A autonomia radical, por causa de todo seu fascínio, é em última análise um mito que termina somente em raiva, violência e desespero. Você pode chamar uma pedra de bola, mas ela ainda assim vai te machucar se você chutá-la. Não se pode lutar contra a realidade e vencê-la.
O mesmo acontece no âmbito moral da vida. Hoje, as pessoas querem acreditar que a moralidade é uma fábula feita para acabar com o seu divertimento. Nós pensamos que fazer tudo que gostamos é a estrada segura para a felicidade. Mas assim como no mundo físico existem leis de ação e de reação, elas também existem no mundo espiritual. Uma ação desordenada colherá sempre resultados desordenados.
No entanto, alheios a essas realidades, a maioria dos modernos são mistificados quando suas ações desordenadas e imorais encontram resultados dolorosos e infelizes. Em vez de examinar se nossas ações são ou não a raiz que causa nosso sofrimento, preferimos usar nossos tremendos poderes de ciência e tecnologia para buscar eliminar as consequências delas. Fazendo isso, porém, apenas criamos diversos novos problemas, e as coisas se perderão em pouco tempo.
Desde o início de sua fundação por Jesus Cristo, a Igreja proclama ensinamentos morais e dá aos seus filhos regras a seguir. Para alguém de fora, elas podem parecer desnecessárias ou muito complexas. Contudo, esses mandamentos da Igreja não são nada menos que regras do jogo da vida. A Igreja, em sua sabedoria, assim como uma boa mãe, sabe que a pessoa humana precisa ouvir um não de tempos em tempos para seu próprio bem.
Existe, é claro, uma boa razão para tudo que a Igreja ensina e que está disponível para todos que pedirem, e os ensinamentos da Igreja raramente são arbitrários. O fim último dos seus mandamentos não é a miséria, de forma alguma. É nada menos que a Beatitude — alegria e felicidade que jamais acabam.
A sociedade ocidental, cristã em seu íntimo, atualmente tem rejeitado e se voltado violentamente contra os ensinamentos da Igreja. E ainda não conseguimos descobrir por que estamos sofrendo. Em vez de perceber que talvez a Igreja tenha estado certa o tempo todo, os modernos frustrados culpam a Igreja e seus ensinamentos por toda a dor. Se a Igreja fosse eliminada, então, poderíamos gozar de nossas desordens impunemente. Mas assim como no mundo físico, o mundo espiritual opera com leis de ação e reação. Ações desordenadas causam resultados desordenados. Não podemos lutar contra a realidade e vencê-la.
As regras são necessárias para a plena felicidade humana. As regras fazem o jogo, e elas fazem o homem. Longe de viver uma vida sem nenhum tipo de lei, todo homem verdadeiramente feliz abraçou um credo e um código. Ele vive pelos mandamentos, não porque ele é um orgulhoso infeliz, mas porque ele sabe que as ações têm consequências, e assim como as más ações causam maus resultados, as boas ações têm como fruto a alegria e a paz duradoura.
Você pode ser cético quanto a isso. A única forma de ter certeza disso, porém, é testar e experienciar isso você mesmo. Se você quiser encontrar felicidade e paz, rejeite uma vida sem lei alguma, que só leva para a miséria, e abrace, com humildade, o credo e os mandamentos. Porque esse é o caminho para a felicidade, alegria e paz duradoura, tanto nessa vida quanto na próxima.
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Autor: Sam Guzman
Fonte: Catholic Gentlemen
Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo nos Núcleos de Comunicação e de Formação, além de atualmente participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.