“Duna” me ajudou a ver a força da oração frente ao medo

O romance épico de Frank Herbert é frequentemente considerado a resposta da ficção científica para o Senhor dos Anéis, de Tolkien. Embora “tolkianos” obstinados como eu possam negar esta afirmação ousada, certamente, em termos de escala, a série “Duna” merece a comparação. Pelo curso de seis livros, Herbert teceu uma saga de morte, traição, heroísmo e sacrifício.

Em “Duna”, o império galáctico governa pessoas em muitos planetas num sistema feudal. No início do romance, a família Atreides ganha o controle de um planeta deserto com uma especiaria que dá às pessoas a habilidade de viagem interestelar. Contudo, uma família rival e o imperador conspiram para destruir a família Atreides por inteiro.

Como Tolkien, Frank Herbert criou para seu romance um universo completamente realizado e completo com sua própria história, lendas e religiões. Ele foi inspirado por múltiplas tradições de fé do mundo real enquanto moldava o cenário religioso de “Duna”. Num posfácio escrito para acompanhar as novas edições do romance, o filho de Herbert (e colega autor) Brian Herbert explica: “O universo de Duna é um caldeirão espiritual, um futuro distante em que as crenças religiosas foram combinadas de formas interessantes.” Budismo e Islamismo estão entre as influências mais óbvias, mas um leitor atento pode identificar indícios de Catolicismo.

A primeira vez que li “Duna”, eu estava na faculdade. Entre as passagens mais memoráveis para mim é uma cena do começo, onde o protagonista, o jovem aristocrata Paul Atreides, passa por um teste potencialmente letal de sua coragem e autocontrole. O teste é administrado por uma Reverenda Madre da irmandade das Bene Gesserit, uma influente seita quase religiosa de mulheres místicas. Para se preparar para essa provação, Paul relembra a chamada Litania contra o Medo, uma espécie de oração ou mantra das Bene Gesserit

A Litania contra o medo é curta, mas profunda:

“Não terei medo. O medo mata a mente. O medo é a pequena morte que leva à aniquilação total. Enfrentarei meu medo. Permitirei que passe por cima e através de mim. E, quando tiver passado, voltarei o olho interior para ver seu rastro. Onde o medo não estiver mais, nada haverá. Somente eu restarei.”

Tenho lutado contra a ansiedade crônica durante toda minha vida adulta. Os ataques de ansiedade são difíceis de descrever para aqueles que não os experimentaram, mas dizer que o medo “mata a mente” e que é a “pequena morte” certamente ressoa com minha própria experiência.

Aprender a encarar meus medos têm sido uma luta constante, mas quando eu permito que o medo “passe por cima e através de mim”, percebo que “onde o medo não estiver mais, nada haverá.” Para mim, medo e ansiedade são frequentemente desencadeados pela incerteza. Nos anos desde de que me formei na faculdade, o desemprego e a insegurança no trabalho têm sido fontes significativas de angústia na minha vida.

Em momentos que eu estou entre empregos, eu me preocupo em como vou pagar minhas contas. Pensar nos piores cenários costumava desencadear ataques de pânico paralisantes e me fazia perder o sono. Pelos anos de experiência, eu aprendi que focar em resultados tão catastróficos é contra-produtivo. A realidade da situação geralmente não é tão desesperadora quanto o medo faz parecer.

Ponderar sobre a Litania contra o Medo me fez lembrar que a  oração pode ser uma arma poderosa contra a ansiedade. A Sagrada Escritura, tanto no Antigo como no Novo Testamento, continuamente nos exorta a pôr de lado o medo e confiar em Deus. Eu gosto de usar algumas das minhas passagens favoritas como minha própria Litania contra o medo. Aqui vão alguns exemplos:

“Ainda que eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois estás junto a mim; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo.” (Sl 23, 4)

“Iahweh é minha luz e minha salvação: de quem eu terei medo? Iahweh é a fortaleza de minha vida: frente a quem tremerei?” (Sl 27, 1)

“Não vos inquieteis com nada: mas apresentai a Deus todas as vossas necessidades pela oração e pela súplica, em ação de graças. Então a paz de Deus, que excede toda a compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos, em Cristo Jesus.” (Fl 4, 6-7)

Existe também a antiga e poderosa “Oração de Jesus”, largamente conhecida e amada pelos cristãos ortodoxos orientais, e tem sido uma ajuda tremenda para mim durante os ataques de ansiedade: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem misericórdia de mim, um pecador”.

Quando foco minha mente em repetir o Santo Nome de Jesus, e não na ansiedade, frequentemente sinto a intensidade do meu medo diminuir e o ataque logo passa. 

O protagonista de Frank Herbert, Paul, conseguiu superar obstáculos e desafios incríveis porque aprendeu a deixar o medo de lado. Ler sua história me ensinou o valor da perseverança e fortaleza até quando as circunstâncias parecem desesperadoras e o pânico ameaça levar o melhor de mim. E, diferentemente desse herói fictício, eu lembro que tenho a segurança da Palavra de Deus, na Sagrada Escritura, de que Ele sempre estará ao meu lado para me fortalecer em minhas batalhas contra o “assassino da mente”.

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Autor: Thomas J. Salerno

Thomas J. Salerno é um escritor freelance que vive em Long Island. Ele é bacharel em antropologia pela Stony Brook University

Fonte: BustedHalo 

Traduzido por Guilherme Guimarães de Miranda – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação, além de atualmente participante do Grupo de Estudo Dating em Brasília – DF.

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