“A vida e a missão do Padre Pio testemunham que as dificuldades e os sofrimentos, se forem aceitos por amor, transformam-se num caminho privilegiado de santidade, que abre perspectivas de um bem maior, que só Deus conhece”. (São João Paulo II, Homilia de canonização de São Pio de Pietrelcina)“
O tão popular São Pio de Pietrelcina (Padre Pio) é um sinal de contradição no mundo moderno. Durante a sua homilia de canonização, São João Paulo II apontou para o coração do testemunho eloquente de São Pio à Igreja Universal – a transformação das dificuldades e dores em oportunidades de santidade. Isso faz sentido porque o estigma de Padre Pio, uma das coisas mais sabidas sobre ele, ilustra esse ponto de forma literal. Ele literalmente tem as feridas de Jesus cravadas no seu corpo.
O ethos governante da modernidade é a maximização do prazer e a minimização da dor. Nós buscamos pela segurança contra a dor e dificuldade – e a constante onda de dopamina e serotonina para nos entorpecer. Nós fugimos da cruz, enquanto São Pio a abraça, cavando os seus frutos no seu próprio corpo. Suas feridas eram magnéticas.
Talvez a popularidade de São Pio tinha algo com a dissociação do utilitarismo da vida moderna. Nós não estamos plenamente convencidos que o sofrimento e a morte podem ser evitados. Nós sabemos que não temos verdadeiramente sucesso em entorpecer a dor e as dificuldades. Quando nós somos honestos com nós mesmos, nós sabemos a primeira nobre verdade que nossos irmãos e irmãs budistas articulam tão vigorosamente: viver é sofrer.
O estigma de Padre Pio, no contexto de testemunho da sua inteira vida, prega algo poderoso sobre o sofrimento. Não é solitário ou isolado. Não é sem sentido e fútil. Como as escrituras nos ensinam, o sofrimento é central na nossa fé católica.
A vida de São Pio nos relembra a possibilidade redentora no sofrimento, se unido a Cristo. São João Paulo II também sabia disso bem, como ele apontou na sua encíclica sobre o sofrimento, Salvifici Dolores.
Todo o homem tem uma participação na Redenção. E cada um dos homens é também chamado a participar naquele sofrimento, por meio do qual se realizou a Redenção; é chamado a participar naquele sofrimento, por meio do qual foi redimido também todo o sofrimento humano. Realizando a Redenção mediante o sofrimento, Cristo elevou ao mesmo tempo o sofrimento humano ao nível de Redenção. Por isso, todos os homens, com o seu sofrimento, se podem tornar também participantes do sofrimento redentor de Cristo. (Salvifici Dolores, 19)
Mas, como nós podemos elevar nossos treinamentos, dores, dificuldades e decepções ao nível da redenção?
Aqui, cinco ideias que são inspiradas pelas próprias palavras de São Pio:
1. Conheça-se e conquiste-se
“A vida de um cristão é nada além de uma eterna luta contra si mesmo; não existe florescimento da alma para a beleza da sua perfeição, exceto pelo preço da dor”
Assim como uma mãe e um pai amorosos devem disciplinar seus filhos sobre o amor verdadeiro e preveni-los de crescer para serem tristes, insuportáveis e imprestáveis. Então, nós devemos aprender a nos disciplinar para ter um senso saudável de amor próprio.
O secular “evangelho do autocuidado” ignora esse ponto. Enquanto nós não podemos ser ultra severos com nós mesmos, nós não devemos ter medo de nos desafiar. Nós devemos também estar cientes das armadilhas que fazemos para nós mesmos para não cairmos nelas. Nós devemos conhecer nossas faltas, fraquezas, e desculpas – e lutar contra todas elas.
Muito do comportamento de pecado é uma automedicação para lidar com o sofrimento. Não apenas a automedicação é ineficiente em realmente lidar com o sofrimento, mas ela também traz isolamento, egoísmo e escuridão. Quando aprendemos a sofrer, amando e lutando com nós mesmos, vemos que cada dor é algo para oferecer junto com os sofrimentos de Cristo.
2. Pare de se preocupar
“Ore, tenha esperança e não se preocupe. Preocupações são inúteis. Deus é misericordioso e vai escutar a sua oração”.
Essa provavelmente é a fala de São Pio mais citada. É quase surpreendente escutá-la de um homem conhecido pelo seu olhar à cruz.
Quase soa como muito “alegre”.
A realidade é que um coração unido à Cruz é unido na esperança e na oração e, portanto, tem uma calma interior e confiança em Deus. Quem realmente se conquista é quem realmente se ama e está em paz.
À medida de nossa confiança em Deus cresce, nossa ansiedade e sofrimento se tornam suportáveis.
3. Lembre-se que a fé não é um sentimento
“O mais belo ato de fé é aquele feito na escuridão, no sacrifício e com extremo esforço”.
Todos nós sabemos disso. E também é verdade que nós não sabemos disso verdadeiramente. Nós somos como o homem no Evangelho que diz “Senhor, eu creio. Vem em socorro da minha fé” (MC 9, 24). Unir-nos aos sofrimentos de Jesus geralmente não vai nos trazer um sentimento caloroso. Em momentos de real sofrimento, nós devemos escolher acreditar – fazendo atos de fé através da oração, serviço e sacrifício.
Nossos sofrimentos e períodos escuros não deveriam ser uma fonte de culpa. O testemunho de inúmeros santos nos relembram que o tempo de escuridão espiritual é uma parte universal da jornada espiritual.
Fé é um ato interior, não um sentimento interior.
4. Não espere perfeita felicidade nessa vida
“Felicidade só é encontrada no paraíso.”
Nós todos fomos afetados de alguma maneira com a noção de que nós deveríamos trabalhar para criar nosso próprio paraíso terrestre. Esforçamo-nos para ter experiências e olhamos para o futuro: “Quando X acontecer, eu serei feliz”.
Apesar disso, não deveríamos esperar uma felicidade perfeita nessa vida.
Isso não significa que não deveríamos ser alegres. Na verdade, é o oposto. Nossa alegria é enraizada na nossa esperança de que existe algo além. Todos os nossos prazeres na Terra são diminuídos pela sua impermanência e imperfeição, mas nós podemos enxergá-los como um sinal de que coisas melhores estão por vir. Isso nos ajuda a superar as dificuldades com alegria.
5. Viva no Amor
“Meu Jesus, amor é o que me sustenta.”
Aqui uma simples chave para tudo. Aqui o testemunho de cada santo.
O segredo “não tão secreto”?
Amarás ao Senhor Teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. (Mt 22, 36-40)
O amor transforma o sofrimento. Santos contemporâneos como São Maximiliano Kolbe, Santa Teresinha, São Damião de Veuster, Santa Teresa de Calcutá, Santa Josefina Bakhita – e São Pio de Pietrelcina, claro – são figuras de amor invencível em meio a um intenso sofrimento.
Como podem esses santos se manterem fortes nos testes de suas vidas? Primeiro, eles sabiam que eles eram imensuravelmente amados por Deus (veja 1Jo 4,19). Segundo, sustentados e nutridos pelo amor de Deus, eles retornaram isso com seus corações a Deus e irradiaram aos seus próximos. As suas feridas foram pressionadas às de Cristo e feitas em oferenda a Deus Pai.
Quando o mundo nos encoraja a fugir do sofrimento e buscar conforto, nós devemos nos lembrar do testemunho e palavras de São Pio, junto com as nuvens de testemunho que encontramos nos santos. Os santos são alegres, lembranças esperançosas do poder da Cruz e da esperança da Ressurreição.
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Autor: Colin Maclver
Professor de Teologia na St. Scholastica Academy em Covington, Louisiana. É co-autor de diversos livros e host do podcast The Tightrope.
Fonte: Ascension Press
Traduzido por Maria Augusta Viegas – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação e Formação.