Destemidos: a santa ousadia de Jesus e dos Santos

“Eu não me importo tanto sobre o que os homens pensam de mim, desde que Deus me aprove”. São Thomas More.

“Sejam fortes! Não se deixem abater pelo que os outros pensam ou dizem”. São João Bosco.

“Cobras! Raça de víboras!”, trovejou Jesus. “Sepulcros caiados!”

Seus seguidores ficaram horrorizados. Será que Jesus não sabia com quem ele estava falando? Era com os escribas e fariseus! Eles tinham estudo e eram poderosos, e diziam falar sob a autoridade de Moisés. E mesmo assim, ali estava Jesus, tratando-os como se fossem criminosos comuns! Eles nunca o tinham visto bravo assim. Ele era tão paciente e gentil. O que estava acontecendo?

Mas Jesus não parou por aí. “Como escapareis da condenação ao inferno? Hipócritas, cegos. Ai de vós!”

A OUSADIA DE JESUS

Acaso a santa ira de Jesus te assustou? Muitas vezes, os cristãos tendem a concentrar suas atenções na figura de Jesus manso e gentil, com um sorriso agradável e uma criança em seus braços. Isso não é errado, é claro, pois Jesus realmente era manso e humilde – ele mesmo disse isso (Mt 11, 29). A mansidão de Jesus é um belíssimo fato, o qual devemos imitar. Mas não podemos nos esquecer que o mesmo Jesus ficou frente a frente com os homens mais poderosos do seu tempo, repreendendo-os com zelo profético, com palavras duras e fogo em seus olhos. Se ignorarmos essa santa ousadia de Cristo, ficaremos apenas com uma caricatura, um Jesus feito a nossos próprios moldes.

Sim, Jesus não tinha medo, e seus inimigos sabiam disso. Ele nunca mudou sua mensagem para torná-la mais agradável à sua audiência. Na verdade, Jesus preferia deixar com que centenas, até mesmo milhares de pessoas, abandonassem-no, em vez e mudar ou suavizar a sua mensagem, mesmo que um pouco (confira João 6). A opinião popular simplesmente não importava para ele.

Os inimigos de Jesus admitiam a sua coragem quando, ironicamente, eles vinham tentá-lo. “Mestre”, diziam eles, servilmente, “sabemos que falas e ensinas com retidão e que, sem fazer acepção de pessoa alguma, ensinas o caminho de Deus segundo a verdade” (Lc 20, 21). “Ensinar com retidão”. “Sem distinção entre pessoa alguma”. Em outras palavras, Jesus não se importava se você era um humilde camponês ou o próprio César: ele falaria a verdade sem comprometê-la, assumindo as consequências. Quase posso imaginar as pessoas dizendo essas palavras com um tom de admiração e relutante respeito, com se dissessem: “Somos covardes e temos medo do julgamento dos homens, mas sabemos que você é bem diferente”.

A VONTADE DE DEUS

Jesus não tinha medo, e sua coragem nascia de uma realidade: da completa submissão à vontade de seu Pai. “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou, e cumprir a sua obra”, explicou ele aos seus discípulos, que se perguntavam qual seria a origem daquela infindável energia. A obediência à vontade de Deus consumia Jesus. Era a sua paixão, a fonte de seu zelo e de sua alegria, a força condutora por detrás de tudo que fazia. Realizar a vontade de seu Pai era mais importante para sua existência do que comer ou beber.

Jesus sabia que agradar ao Pai era a única coisa que importava. Desde que seu Pai se agradasse, não importava o que os homens pensavam dele. Os grandes santos, aqueles homens e mulheres de fé que se assemelharam a Cristo, também ostentavam essa santa coragem. Eles não tinham medo de confrontar os reis, os papas e os bispos, se fosse necessário, e eles preferiam sofrer perseguições e o martírio do que manter-se em silêncio.

É claro que esses santos também eram humildes e obedientes. Não havia neles espírito de revolta ou de orgulho pessoal. Se alguém de autoridade legítima mandasse que eles se calassem, eles obedeceriam – não por medo, mas por submissão à vontade de Deus expressa através de seus superiores. Humilde obediência e coragem parecem elementos contraditórios para nós, mas os santos ostentam ambos, e devemos ser como eles.

MARTÍRIO

Por que trouxe esse tópico? Se observarmos o mundo moderno, encontramos muita hostilidade em relação à fé. No Oriente Médio, cristãos estão sendo martirizados de forma brutal. Todos os dias, surgem novas ameaças. A perseguição é escancarada, e a escolha deve ser clara: servir a Cristo ou morrer. Viver e abraçar a fé nessas circunstâncias exige uma grande quantidade de santa ousadia.

Mas no Ocidente, de forma geral, a perseguição não está menos presente, embora de forma diferente e mais sutil. Os poderes do mundo exigem que nos conformemos, que comprometamos as questões morais mais fundamental que existem – assuntos como a natureza do matrimônio, a proteção da inocente vida humana no ventre materno, e a natureza e o propósito da sexualidade humana. Nosso sofrimento pode se dar na forma de um chefe zangado, da perda de um negócio, ou simplesmente da perseguição por meio de palavras. Ainda que ninguém esteja segurando uma faca contra nossa garganta, a escolha é igualmente clara: servir a Cristo ou sofrer.

Escolhamos sempre obedecer a Deus antes de aos homens, não importa quanto custe. Peçamos ao Espírito Santo a santa ousadia que ele deu no dia de Pentecostes a Pedro, que antes era medroso. Esforcemo-nos para alcançar a coragem de homens como São Thomas More, São João Fisher e São Edmundo Campion, que alegremente escolheram o martírio ante a tentação de negar as verdades da fé. Acima de tudo, tomemos nossas cruzes e sigamos a Jesus, que disse: “nem todos aqueles que dizem ‘Senhor, Senhor’ entrarão no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. Que seja feita a vontade de Deus.

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Autor: Sam Guzman

FONTE: Catholic Gentleman

Traduzido e adaptado por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão do YOUCAT BRASIL, como Voluntário nos Núcleos de Tradução, Formação, Clube de Leitura YOUCAT e também atualmente participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.

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