“Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice!” (Mt 26,39)
Você já escutou essa frase antes na história da Paixão quando Jesus reza a Deus Pai no Jardim do Getsêmani.
Mas é um pouco confuso.
O que Jesus quer dizer com isso?
Por acaso, Jesus repentinamente mudou de ideia e pensou em desistir de sua missão de morrer pelos nossos pecados?
Leia esse texto sobre o que o cálice simboliza, o que a oração de Jesus significa e a realidade transformadora que se aplica à nossa vida.
O Cálice
No Antigo Testamento, o cálice é um símbolo para a punição de Deus aos pecadores (veja Is 51, 17; Jr 25, 15-16; Ez 23, 33; Lm 4, 21). É usado assim também no Livro do Apocalipse (confira Ap 14, 10; 16, 19).
O próprio Jesus fala sobre o “cálice” como uma metáfora para o sofrimento que Ele vai enfrentar quando receber a punição pelos nossos pecados (veja Mt 20, 22-23). À medida que ele está se aproximando de efetivamente beber do cálice do Seu sofrimento, Jesus está sentindo todo o peso que isso significa para Ele. Papa Bento XVI uma vez explicou que “o medo de Jesus é muito mais radical que o medo que qualquer um experimenta à beira da morte. É a colisão entre luz e escuridão, entre a vida e morte em sua própria essência – o momento crucial de toda a história humana” (Livro Jesus de Nazaré, parte 2).
Humanidade de Cristo
Então, Jesus considerou mudar de ideia sobre morrer pelos nossos pecados?
De jeito nenhum.
Sua oração apenas reflete o fato de que Jesus é verdadeiramente humano. Como o sofrimento e a morte são repulsivos à realidade humana, a torturante morte que Jesus está prestes a enfrentar não poderia ser algo que Ele estava ansioso para viver. Em outras palavras, se Jesus é verdadeiramente humano, Ele não poderia estar dizendo: Eu não vejo a hora disso acontecer.
Sofrimento, crucificação e morte são repugnantes para a natureza humana. Se Jesus é verdadeiramente humano, Ele estaria sentindo uma repulsa ao pensamento do que Ele estaria enfrentando. Sua oração, no entanto, “exprime desse modo o horror que a morte representa para a sua natureza humana” (CIC, 612).
Mas Jesus não é meramente humano; Ele também é divino. Ao contrário da nossa fraqueza, nossas vontades caídas, a humanidade de Jesus é perfeitamente unida a do Seu Pai (veja CIC, 475). Esse é o motivo que Ele diz, na mesma oração, “Todavia, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres” (Mt 26, 39).
Apesar de Ele sentir aversão à morte em sua natureza humana, Ele também quer abraçar a cruz para a nossa salvação e completude dos planos do Seu Pai. Jesus encara a morte, sente totalmente o peso que está prestes a carregar e, mesmo assim, dá o seu “sim” de todo o coração”.
O exemplo de Jesus nos desafia a ser mais como Ele. Quando enfrentamos o sofrimento, nós normalmente hesitamos em fazer a coisa certa ou recuamos diante da vontade de Deus. Tememos fazer sacrifícios, tememos a mudança, tememos o desconhecido, e deixamos nosso medo e sofrimento nos impossibilitar de fazer o que é certo. Jesus, no entanto, encara o sofrimento, sente a total força disso e, mesmo assim, livremente abraça isso pela Salvação, completamente aceitando a vontade do Pai.
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Autor: Edward Sri
Teólogo, autor, vice presidente do FOCUS (Fellowship of Catholic University Students) e apresentador do podcast All Things Catholic
Fonte: Ascension Press
Traduzido por Maria Augusta Viegas – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação e Formação, além de atualmente participante do Grupo de Estudo Dating em Brasília – DF.