
Nesse artigo, Dr. Mark Miravalle explora perguntas essenciais sobre vocação e como você pode conceber o fiat de Maria como um guia.
1. Em uma sociedade que busca gratificação instantânea, dinheiro e poder, presenciamos de forma desenfreada situações de trabalho em excesso, burnout e ansiedade. E se nós tivéssemos uma sociedade cheia de pessoas vivendo o trabalho como uma vocação ungida e dada por Deus?
Claramente, nossa visão de mundo sobre a vida e o trabalho impacta a sociedade. Tem uma diferença radical entre “viver para trabalhar” e “trabalhar para viver”, como o grande filósofo católico alemão, Josef Pieper, articulou. No último caso, trabalho é um nobre meio para a celebração da vida, intrínseca e organicamente cheia de dignidade, assim como um preenchimento social e pessoal.
Teologicamente, acreditamos em um Pai infinitamente amoroso que possui um providente plano para cada um de nós – um plano designado desde toda a eternidade para nossa eterna plenitude, felicidade e serviço ao Seu reino. Nós chamamos isso de “vocação”.
Às vezes, um jovem pode achar que todo mundo tem uma vocação, exceto ele, lamentando no seu coração algo como: “Eu acho que Deus me esqueceu”. Isso é impossível. Se o seu Pai amoroso sabe o número de fios de cabelo na sua cabeça, Ele também planejou uma bela e frutuosa vocação para a sua vida. Às vezes, um tempo de oração mais prolongado é necessário para escutar isso, aceitar e viver. Não existe lugar melhor para a escuta e discernimento vocacional que de frente a Cristo Eucarístico em Adoração, onde o Senhor responde a todas as questões que precisamos saber no momento correto.
2. Qual foi o chamado vocacional de Maria? Como ele foi recebido?
O chamado vocacional de Nossa Senhora foi o maior de toda a história humana: trazer o nosso divino Redentor ao mundo e participar de forma singular com Jesus na Redenção Humana. Foi uma maravilha da natureza, como diz o texto litúrgico, dar à luz ao Criador. Como Madre Teresa diz: “com certeza, Maria é a co-redentora. Ela deu a Jesus o corpo dele e, oferecer o corpo de Jesus foi que nos salvou”.
É notável que uma mulher – não um papa, um bispo, um padre, um homem – foi escolhida por Deus para a maior vocação de pessoa humana, ou seja, trabalhar com e para Jesus, como nenhuma criatura no histórico trabalho da Redenção. Isso constitui para verdadeira base para um autêntico olhar cristão às mulheres, e o motivo de Nossa Senhora ser o maior e mais exemplar guia para todas as mulheres que procuram a sua correta vocação.
3. Maria, obviamente, estava cheia de graça de uma forma única, como na Imaculada Conceição. Para nós, que não fomos concebidos de forma imaculada, como recebemos a graça necessária para não apenas saber o chamado de Deus, mas também responder a ele?
A oração e a vida sacramental da Igreja nos oferecem uma ampla graça para escutar, receber e sustentar as vocações dadas por Deus. Dois excelentes veículos para assistir no discernimento e para garantir a plenitude da vocação são (1) mais uma vez, visitas semanais ao Santíssimo Sacramento, onde podemos diretamente perguntar a Jesus e à nossa Mãe que nos revele ou que fortaleça as nossas vocações nos nossos corações, e (2) a consagração mariana, na qual, a partir da consagração de nós mesmos à Nossa Senhora como seus “escravos”, podemos nos desprender dos nossos vícios e, assim, permitir que a Mãe das Vocações nos guie para a vocação que mais agrada ao seu divino Filho. São João Paulo II chama Maria de “proclamadora da vontade de seu Filho” e a consagração à Nossa Senhora pode exponencialmente nos ajudar a descobrir ou a ser perpetuamente fiel à nossa vocação cristã.
4. Como nós vemos Maria repetidamente dar o seu “fiat” nas Escrituras? O que isso nos diz sobre a natureza da vocação?
O alegre fiat de Maria na Anunciação (Lc 1, 38) contém, segundo o grande escritor espiritual francês Jean Pierre de Caussade, todos os grandes elementos da espiritualidade cristã. O fiat de Nossa Senhora seria o “sim” que ela pronunciaria durante a sua vida. Por exemplo, ela pronunciara um fiat interior a partir das palavras de Simeão, que disse que seu Filho seria um sinal de contradição e que seu próprio coração seria ferido (Lc 2, 35); seu ativo fiat ao poder divino do seu Filho que levaria ao primeiro milagre nas bodas de Caná (Jo 2, 5); e o seu mais doloroso fiat no Calvário, momento em que São João Paulo II aponta que Maria oferece o seu “doloroso fiat” ao ser “espiritualmente crucificada com seu Filho crucificado” para a nossa salvação. O Concílio Vaticano II confirma que, no Calvário, Nossa Senhora consentiu “com amor na imolação da vítima que d’Ela nascera” (Lumen Gentium, 58), que é o maior fiat ao redentor sofrimento que qualquer humano, qualquer mãe, poderia dar.
Nossas vocações também serão preenchidas com alegres e dolorosos fiat. Se mantivermos os nossos corações unidos aos Corações de Jesus e Maria, buscando viver a nossa vocação diariamente e nos fortalecendo através da oração e dos sacramentos, então, felizes ou dolorosos, nossos fiat serão meritórios para nossa vocação e santificação.
5. Inspirados por Nossa Senhora, o que significa ter uma compreensão vocacional no nosso trabalho?
Imitando nossa Mãe, nosso trabalho pode se tornar uma oração, mas só se rezarmos antes. Nossa Senhora viveu, a cada momento, uma completa união com a vontade de Deus, mas só porque a oração precedeu seu trabalho e, então, envolveu e transformou o seu trabalho e lhe permitiu transformar cada tarefa diária, independente de quão banal, em uma oração.
Mesmo com nossos limites, podemos seguir o exemplo de nossa Mãe em transformar o trabalho em oração, mas não sem rezar antes. Por isso, com a necessidade de uma disciplina espiritual de oração diária, devemos incluir, quando possível, a missa diária e a oração diária do rosário.
6. Com a sua expertise em Mariologia, e como um professor universitário, você pode nos dizer a diferença entre buscar um emprego e procurar contribuir significativamente à sociedade?
Apesar de as duas buscas não serem necessariamente contraditórias, com certeza deveria haver uma prioridade. Voltando à providencial fundação da vocação cristã, Deus tem um plano para a nossa vida e esse plano nunca pode ser exclusivamente se tornar um sucesso. Trazer Cristo para o mundo através da sua vocação pode ter uma diversidade de belas manifestações concretas, às vezes, uma não é melhor que a outra. É também importante relembrar que a vocação entregue a Deus nem sempre necessariamente traz um prestígio social ou muito dinheiro. Um grupo de pescadores mudou o mundo, não porque eles tinham um ótimo emprego, mas porque eles eram fiéis em adaptar os seus dons pessoais para que Cristo desenvolvesse as suas vocações, o que, com certeza, trouxe a sua santidade pessoal e também espalhou a Igreja Salvadora pelo mundo. Nós devemos buscar oferecer nossos dons vocacionais da mesma forma.
Ao mesmo tempo, buscar excelência em diversas carreiras é uma parte essencial da Teologia Cristã do trabalho. Devemos ir à José. São José vai nos guiar a ter o equilíbrio necessário no trabalho, que não pode priorizar o ganho material ou a notoriedade pública primeiro, mas antes a dignidade santificadora de utilizar as potencialidades dadas por Deus em obediência aos planos de Deus e para o bem da família e sociedade.
7. Como pai de oito crianças, você poderia compartilhar o que foi importante para guiar seus filhos no discernimento de suas vocações?
O papel dos pais cristãos em assistir seus filhos no discernimento de uma vocação é, eu acredito, um delicado e difícil equilíbrio entre (a) honestamente apontar ao seu filho os talentos particulares que você identificou neles ao longo dos anos e (b) fazer ser absolutamente e repetidamente claro a eles que a escolha da sua vocação é ultimamente, inteiramente e exclusivamente deles, entre eles e Deus.
Nenhuma família é perfeita, exceto uma, o que significa que a formação da família cristã contemporânea também não vai ser. Ainda assim, os seus verdadeiros esforços em formar uma família na fé cristã, apesar de imperfeitos, proverão uma base para os seus filhos olharem a Deus primeiro no momento de realizar escolhas vocacionais. A Sagrada Família e sua poderosa intercessão assistirão os seus filhos nas possíveis escolhas vocacionais, junto das súplicas dos pais.
Às vezes, descobrir a vocação de Deus para si é uma jornada mais longa do que os jovens gostariam. Em outros casos, é possível que Deus abençoe abundantemente alguém que faz do “plano B” uma vocação, apesar de não ser o “plano A” de Deus para eles. Eu acredito que os pais cristãos deveriam apoiar e legitimar a vocação cristã escolhida pelos seus filhos, em respeito à livre escolha que o Pai deu a cada um deles, que é a mesma liberdade que Deus deu a cada pai.
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Autor: Mark Miravalle
Professor de Mariologia na Ave Maria University, com a cadeira São João Paulo II em Mariologia na Franciscan University of Steubenville e presidente da International Marian Association.
Fonte: Ascension Press (adaptado)
Traduzido por Maria Augusta Viegas – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação e Formação, além de atualmente participante do Grupo de Estudo Dating São Pio em Brasília – DF