Da Humanae Vitae à Teologia do Corpo Parte 2: Precisamos de uma “visão integral do homem”-

[Nota: este é o segundo artigo, de um total de dois, extraído do novo livro de Christopher West, “Eclipse do Corpo: Como perdemos o significado de Sexo, Gênero, Matrimônio, Família e como reconquistá-lo”. Leia a parte 1 aqui. Esse livro pequeno e de fácil leitura conecta os pontos entre a profética carta de Paulo VI “Humanae Vitae” e a Teologia do Corpo de Sâo João Paulo II (idealizada como uma defesa e um florescimento da Humanae Vitae) e mostra como elas fornecem o antídoto para a cultura sexualmente caótica de hoje em dia].


Logo que o Papa Paulo VI morreu, em agosto de 1978, o cardeal arcebispo de Cracóvia veio a Roma participar da eleição de um novo papa. Ele levou consigo um longo manuscrito elaborado em oração por aproximadamente quatro anos. Estava quase completo e o cardeal arcebispo gostaria de trabalhar nele, quando pudesse, durante o conclave. A primeira página trazia o curioso título (em polonês): “teologia ciala” – “Teologia do Corpo”. As centenas de páginas que se seguiam ostentavam, talvez, a mais profunda e envolvente reflexão bíblica já feita acerca do significado de nossa criação e redenção enquanto masculino e feminino – as minunciosas percepções místicas de um santo moderno que têm o poder de mudar o mundo, isto é, se esses conhecimentos tiverem a oportunidade de atingir o mundo.

Depois da eleição do Papa João Paulo I, o Cardeal (Karol) Wojtyla voltou para Cracóvia e finalizou o manuscrito. Logo depois disso, para a surpresa do mundo inteiro, ele emergiu do segundo conclave de 1978 como Papa João Paulo II. E a sua “teologia do corpo” – disponibilizada como uma série de 129 catequeses de quartas-feiras, feitas entre setembro de 1979 e novembro de 1984, que não chegou a ser publicada em formato de livro – foi o primeiro grande projeto de ensino do seu pontificado.

A Teologia do Corpo de João Paulo II (doravante chamada de TdC) foi inspirada por algo que Paulo VI disse na Humanae Vitae: ele observou que, a fim de entendermos o ensinamento cristão acerca do sexo e da procriação, devemos olhar “além das perspectivas parciais”, para uma “visão integral do homem e da sua vocação”. É isso que João Paulo II se propôs a fazer em sua TdC – fornecer uma “visão integral do homem” que nos permitisse compreender e viver, com grande alegria, o ensinamento da Igreja sobre o significado e o propósito da vida humana (Humanae Vitae).

A palavra chave é visão. João Paulo II entendeu que, ao mesmo tempo em que as pessoas do mundo moderno são obcecadas em olhar o corpo humano, “elas olham, mas não veem” (Mt 13, 13). A TdC é um convite a que todo ser humano “venha e veja” (Jo 1, 39).

Fórmulas legalistas e inadequadas de teologia moral, unidas a tratamentos depreciativos de questões sexuais por alguns homens da igreja precedentes, fizeram com que incontáveis pessoas se passassem por surdas sempre que a Igreja falasse de assuntos de matéria sexual.  João Paulo II estava confiante, contudo, de que ele tinha algo a dizer que faria a diferença. Ele acreditava poder demonstrar que a Humanae Vitae não era contrária ao homem, mas totalmente a favor dele; que a Humanae Vitae não se opunha ao amor erótico e ao prazer sexual, mas chamava homens e mulheres à sua mais espiritualmente intensa experiência. Porém, para chegar lá, as questões relacionadas à moral sexual precisavam ser reestruturadas. Em vez de perguntar “Até onde eu posso ir para não romper as regras?”, devemo-nos perguntar “O que significa ser humano?”, “O que é uma pessoa?”, “O que significa amar?”, “Por que Deus me fez homem ou mulher?”, “Por que Deus criou o sexo, em primeiro lugar?”.

Resumidamente, o longo estudo de João Paulo II respondeu a essa última pergunta nesses termos: a sexualidade humana é um sinal – na verdade, um sinal sacramental – que deve proclamar, revelar e permitir aos seres humanos participar no “grande mistério” escondido em Deus desde toda eternidade.


AUTOR: Christopher West

Fonte: Cor Project

Traduzido por Tiago Giacone – Membro da Rede de Missão do Missão Campus Fidei, servindo nos Núcleos de Tradução, Formação e atualmente também participa do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF

 

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