Desde o início do cristianismo, a vida de discipulado exigiu mentores e amigos. Mentores elevam as outras pessoas, de modo que cresçam mais plenamente na vida de discipulado a que são chamadas. Amigos compartilham esperanças, alegrias e sofrimentos em comunhão com aqueles que vivem a vida de discípulos. O Novo Testamento, e particularmente as cartas de São Paulo, lembram-nos dessas verdades e desses papéis. Os Apóstolos nos mostram o que devemos procurar na pessoa que nos aconselha, como ajudar a outro discípulo e como viver alegremente com verdadeiros amigos cristãos.
Três das cartas de Paulo são escritas diretamente a Timóteo e Tito, os quais o tinham tanto como guia quanto como amigo. Em seus dias de festa, é propício examinarmos a dinâmica do aconselhamento e da amizade pelas lentes dessas três cartas (1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito). Esses textos revelam claramente as qualidades através das quais Paulo levantará futuros líderes da Igreja primitiva e caminhará com seus amigos em direção à santidade e à salvação.
Em uma curta passagem da Segunda Carta de Paulo a Timóteo (2 Tm 2, 14-15), Paulo revela suas qualidades como alguém apto a aconselhar, e dá um maravilhoso modelo de como construir um líder no presente ou futuramente. Na verdade, os princípios que o apóstolo apresenta nessa passagem funcionam também para meios seculares. Paulo começa ensinando a Timóteo que ele deve sempre se lembrar de “evitarem discussões de palavras, que só servem para a perdição dos ouvintes”. Na realidade, brigar quase sempre tem o efeito de destruir, e não de construir algo positivo com as partes envolvidas, seja no serviço à Igreja, nos negócios ou no matrimônio. É sempre preciso empregar palavras que sirvam para edificar o outro, mesmo que se discorde dele. Como Paulo, um bom mentor irá caminhar ao lado dessa verdade.
Em sua carta a Tito, Paulo também revela a importante escolha de dar ao seu protegido a oportunidade de liderar e completar a missão dada. O bispo mais velho afirma que ele deixou o bispo mais novo em Creta a fim de que pudesse “acabar de organizar tudo e estabelecer anciãos em cada cidade”, a fim de vencer os “homens insubmissos, charlatões e sedutores” (Tt 1, 5.10). Paulo segue explicando o que os líderes comunitários devem fazer para completar suas missões. Ele deve “ensinar conforme a doutrina”, e é chamado a ajudar as famílias a apresentarem um nobre testemunho à cultura ao redor delas (Tt 2, 1-6).
Finalmente, Tito deve ser um modelo de comportamento que exorta aos outros: “Mostra-te em tudo modelo de bom comportamento: pela integridade da doutrina, gravidade, linguagem sã e irrepreensível” (Tt 2, 7-8). Paulo confiou a ele a missão de difundir o Evangelho; mas sabia que Tito ainda deveria crescer nessa função. Bons mentores sabem balancear essas realidades.
Um mentor também deve, às vezes, admitir suas falhas e dificuldades. Isso serve especialmente para que a pessoa em formação não cometa os mesmos erros. No começo de sua primeira carta a Timóteo, Paulo dá graças a Deus “porque me julgou digno de confiança e me chamou ao ministério, a mim que outrora era blasfemo, perseguidor e injuriador” (1 Tm 1, 12-13). Ele segue e admite que é “o primeiro dos pecadores” e que foi chamado à missão para que toda a paciência e misericórdia de Jesus fosse manifestada através dele (1 Tm 1, 15-16).
Como mentores, é importante que nunca tenhamos em nós um semblante de perfeição, permitindo que as pessoas pensem que não temos defeitos ou que temos a vida resolvida. A verdade é que somos todos pessoas que aprendem e crescem com o decorrer da jornada. Paulo sabia disso melhor que ninguém, e permanecia humilde por essa razão.
Há uma última lição vital na mentoria que podemos extrair do relacionamento de Paulo com Timóteo e Tito. Um bom mestre faz com que a missão principal fique sempre em destaque na mente de seu pupilo. Próximo ao fim da primeira carta a Timóteo, Paulo escreve que a piedade, a santidade, é útil para tudo, porque “tem a promessa da vida presente e da futura” (1 Tm 4, 8). Paulo quer que as pessoas cheguem ao céu! Assim, Timóteo é chamado a, incessantemente, instruir seu rebanho, nutrindo-os com a verdade do Evangelho, e mantendo-os afastados de “fábulas profanas e extravagantes” (1 Tm 4, 6-7). É assim que Timóteo e seu rebanho irão alcançar o prêmio celestial a que aspiram. Eles devem constantemente ser recordados a respeito disso, e devem lembrar aos outros, a fim de manterem a firmeza e o zelo.
Além dessas lições, aprendemos muito com a verdadeira amizade com São Paulo. No final da segunda carta a Timóteo (que está entre as últimas de suas cartas), ele exorta seu amigo a “vinde ver-me logo” (2 Tm 4, 9) porque fora abandonado pelos outros. Paulo sabia da caridade cristã de Timóteo, e sabia que poderia contar com esse homem quando não pudesse contar com mais ninguém. Cada um de nós precisa considerar quais de nossas amizades possuem esse mesmo aspecto de fidelidade.
A relação de Paulo com Timóteo era excepcional, e vemos a sua plenitude na segunda carta. Isso pode ser observado especialmente no fato de Paulo e Timóteo sofrerem juntos na amizade. Paulo escreve a seu amigo: “Não te envergonhes… mas sofre comigo pelo Evangelho” (2 Tm 1, 8). Paulo continua e diz a Timóteo que não está envergonhado por sofrer, e que aquele bispo mais novo deveria imitar “os ensinamentos salutares que recebestes de mim” (2 Tm 1, 13). Quando os amigos se conhecem profundamente (com suas missões e tendências), eles sentem empatia um com o outro, vivem a vida do outro, incluindo as suas dimensões dolorosas. No exemplo de Paulo e Timóteo, aprendemos que a definição mais profunda de amizade inclui a disponibilidade de partilhar a dor e a agonia do outro.
Quando celebramos os dias festivos de São Paulo (25 de janeiro) e de São Timóteo e São Tito (26 de janeiro), devemos honrá-los buscando partilhar das graças que eles partilharam. Devemos desejar encontrar bons mentores, ser bons mentores, e viver uma autêntica amizade. Essas pessoas, mentoras e amigas, ajudar-nos-ão a viver a fé, caminhando a jornada cristã conosco, mesmo nos tempos difíceis. Eles partilharão de nossas esperanças, alegrias e sofrimentos a cada passo no caminho. Se ainda não temos essas pessoas, devemos começar a pedir a Deus para que as coloque em nossas vidas.
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Autor: Derek Rotty
Derek Rotty é esposo, pai, historiador, teólogo e Diretor de Evangelização e Discipulado na Igreja Católica de Santa Maria, em Jackson, TN.
Fonte: Catholic Exchange
Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – membro da Rede de Missão do YOUCAT BRASIL, servindo nos Núcleos de Tradução, Formação e também participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.