Há pouco tempo, enquanto viajava a negócios, estava cansado após um longo dia e comecei a percorrer os canais da TV do hotel. Como não havia quase nada que merecesse minha atenção entre as centenas de canais disponíveis, depois de algum tempo, escolhi assistir um programa de House Hunters[1] mais ou menos interessante.
Se você nunca viu esse tipo de programa, a premissa básica é que casais de diferentes classes sociais começavam a procurar por uma casa perfeita a partir de um orçamento limitado (que quase nunca é respeitado) e devem escolher entre diversas opções, cada uma com suas desvantagens e benefícios.
Inevitavelmente, os protagonistas acabam alegremente optando por casas que excedem, em muito, seus orçamentos, porque oferecem mais facilidades. Sempre me pergunto se eles ficam com vertigem depois de alguns pagamentos da hipoteca.
Neste artigo, meu objetivo não é discutir os méritos dos programas de TV estilo House Hunters, mas me ocorreu que esses programas são como uma metáfora do estilo de vida moderno, que vê quase tudo em termos de escolha entre opções conflitantes.
A Religião da Escolha
Em praticamente todos os aspectos da existência moderna, podemos escolher entre opções variadas, verdadeiramente ilimitadas – entre todas as roupas que podemos vestir, o que podemos comer, onde podemos morar, ou onde, como e o que podemos adorar.
Temos mais opções de escolha do que os agrupamentos humanos em quaisquer outros períodos da história da humanidade. E essa realidade define nosso modo de viver. Conscientemente ou não, somos pouco mais do que consumidores num imenso centro comercial de possibilidades. Shopping é a religião da modernidade.
À primeira vista, essas escolhas quase ilimitadas deveriam garantir nossa felicidade. Deveriam ser um tremendo benefício. Afinal, se não estivermos felizes em algum aspecto, podemos simplesmente reexaminar o menu de possibilidades e escolher a opção que satisfará nossas necessidades.
Essa é a promessa do consumismo. Esse é o dogma fundamental da religião da autonomia e da autorrealização. A melhor opção, a opção certa para você, está bem ali, na esquina. E só mais uma escolha.
O Paradoxo da Escolha
Na realidade, a verdade é quase que o oposto. O paradoxo da escolha sempre nos deixa infelizes. Quanto mais alternativas nós temos, mais insatisfeitos nos tornamos. E então, se ficamos infelizes, deve ser por culpa nossa. Simplesmente fizemos a escolha pela opção errada e precisamos apenas retornar àquele centro comercial metafórico e encontrar a alternativa mais adequada para nós.
Assim, vendemos nossa casa, que tem uma cozinha pequena demais ou um quintal muito limitado. Trocamos de emprego se não gostarmos do chefe, ou se acharmos o trabalho entediante. E vamos ainda além, divorciando-nos se a esposa não tiver mais as medidas de antes (há pouco tempo, vi uma placa de propaganda indicando divórcios baratos, um produto imperdível). “Há sempre uma opção melhor”, as pessoas nos dizem. Só temos de encontrá-la.
O consumismo se torna, então, como uma picada de mosquito, que não para de coçar. É uma úlcera que nunca é aliviada. Rouba de nós qualquer felicidade verdadeira a fim de vendê-la novamente a nós – mais cara, é claro.
Compromisso e Amor
Porém, há um problema ainda mais profundo com a cultura da escolha: ela cria um ambiente em que é quase impossível permitir que o amor autêntico cresça. Como nunca nos comprometemos com ninguém, nunca aprendemos a amar.
Porque amor sempre envolve sacrifício. Sempre irá doer e custar algo de nós, de um jeito ou de outro. E, quando falo de amor, não me refiro necessariamente ao amor conjugal, apesar de ele estar certamente compreendido. Falo de um amor pela vocação, pela família, por um lugar, por uma comunidade, ou até mesmo por um lar.
Na qualidade de consumidores catequizados por nossa cultura para acreditar que a infelicidade pode ser resolvida quando formos às compras, sempre estamos fugindo do desconforto na busca pela mítica opção melhor. Estamos frequentemente fugindo da dor que nos acompanha quando nos gastamos demais em lugares ou coisas. E, assim, nunca aprendemos a amar, nem vivenciamos a alegria e o fruto duradouro que o comprometimento traz. Ao contrário, permanecemos sem raízes, inquietos, deslocados e insatisfeitos.
Um chamado à estabilidade
O que fazer? A única solução para a armadilha consumista é conscientemente escolher pela limitação. O único jeito é rejeitar o menu de opções e escolher pela estabilidade. É a única forma de aprender a virtude. É a única forma de aprender a amar.
Não estamos negando que Deus, às vezes, nos chame a trocar de empregos, ou a mudar as circunstâncias em que vivemos, de um modo ou de outro. Na verdade, isso é até necessário em alguns momentos; às vezes, mais do que gostaríamos. Contudo, eu firmemente acredito que, mais frequentemente do que não, o oposto é verdade. Creio que Deus, com maior frequência, pede que nos comprometamos e demos o melhor de nós em relação às pessoas e aos lugares em que devemos nos enraizar. Mas estamos demasiadamente inquietos e agitados para ouvi-Lo.
Dessa forma, homens católicos, eu os desafio a comprometer-se. Desafio você a encontrar uma mulher e a amá-la até seu último dia. A encontrar um lugar para chamar de lar e, se possível, amar e criar seus filhos ali, e enchê-lo com o calor das boas memórias. Escolher uma vocação e crescer nela até que você se torne como um artesão que glorifica a Deus com seu trabalho. Investir o melhor de si onde Deus te chamou, ainda que te custe. Escolher pelas exigências do amor e vivenciar a alegria que ele dá.
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[1] Nota do Tradutor: House Hunters é uma série de televisão de realidade americana que segue indivíduos, casais ou famílias que procuram uma nova casa, com a ajuda de um agente imobiliário. Em cada episódio, os compradores devem decidir entre três propriedades, em última instância, escolher uma antes do final do episódio. O show conclui revisitando os compradores em seu novo lar algumas semanas ou meses depois, descrevendo as mudanças que eles fizeram e o efeito da nova casa em sua vida. Fonte: Wikipedia.
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AUTOR: Sam Guzman
Fonte: Esse post é original do site “Catholic Gentleman”.
Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo nos Núcleos de Comunicação e de Formação.