Se eu dissesse: “sou fã de Harry Potter”, pessoas diferentes poderiam ter reações variadas a essa afirmação. Algumas podem pensar que sou muito legal e divertida em festas porque sou bem versada em todas as coisas de Hogwarts e magia. Outras podem pensar que sou incrivelmente sem originalidade porque “quem não é fã de Harry Potter?”. E outras podem pensar que sou uma má católica porque li histórias sobre magia e feitiçaria.
Não sou fã de Harry Potter – isso não quer dizer nada – mas sou divertida em festas. Mas as variadas reações potenciais a essa afirmação provam um ponto importante: sempre que compartilhamos algo com outra pessoa, é quase impossível que sua reação não seja guiada por suas suposições ou compreensão do que compartilhamos. Todos nós carregamos fragmentos de entendimento sobre todos os tipos de coisas – alguns desses são entendimentos completos, mas outros não. Essa realidade não é um grande problema quando falamos sobre a literatura de fantasia que preferimos, mas pode ser um grande problema quando compartilhamos nossas convicções ou crenças com os outros e sua compreensão dessas coisas é incompleta ou simplesmente errada.
Eu vi isso acontecer em grande estilo quando se trata do movimento pró-vida e da posição pró-vida como é defendida na Igreja Católica. Muitas vezes, quando a posição pró-vida é apresentada – em conversas, nas redes sociais ou de outra forma – as pessoas têm fortes reações a ela, tanto negativas quanto positivas. Isso tem muito a ver com a natureza inerentemente sensível e desafiadora da questão, mas também argumentaria que tem muita relação com mal-entendidos sobre o que a posição pró-vida representa. Eu encontrei algumas interpretações malucas sobre o que é ser pró-vida que são simplesmente falsas. Quer você tenha acreditado ou adotado qualquer uma dessas interpretações ou não, acho incrivelmente útil explicar a posição pró-vida pelo que não é, a fim de manter uma noção melhor do que é.
Ser pró-vida não é se preocupar exclusivamente só com a questão do aborto
A posição pró-vida é muitas vezes mal compreendida ou deturpada como estando preocupada exclusivamente com a questão do aborto. Enquanto os bispos dos Estados Unidos deixaram claro que “a ameaça do aborto continua sendo nossa prioridade preeminente porque ataca diretamente a própria vida” (Formando as Consciências para Cidadãos Féis, em inglês) e o Papa Francisco pede que nossa defesa do nascituro inocente seja “clara, firme e apaixonada”, devemos lembrar que “igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte” (Gaudete et Exsultate, 101).
Ser pró-vida, então, exige e demanda que se oponha ao aborto, tratando-o com preeminência; mas a Igreja é clara que se opor ao aborto não “serve de pretexto para a indiferença aos que sofrem de pobreza, violência e injustiça”, e não dá licença para deixar questões de racismo, pobreza, fome, emprego, educação, moradia e saúde cuidados não resolvidas (Vivendo o Evangelho da Vida, 23, em inglês). Ser pró-vida não é apenas combater uma ameaça à vida humana; trata-se de respeitar a Deus como o autor de toda a vida e defender, proteger e apoiar a dignidade da vida humana em todas as etapas.
Ser pró-vida não é algo anti-mulher
Como a posição pró-vida é muitas vezes mal interpretada como compreendendo apenas a questão do aborto, tem sido deturpada como sendo algo anti-mulher. Em outras palavras, muitos acreditam que as pessoas pró-vida não se importam com as necessidades ou preocupações das mulheres, especialmente das mulheres grávidas que pensam em abortar. Pelo contrário, ser autenticamente pró-vida exige que se seja totalmente pró-mulher. Houve quem não conseguisse representar essa realidade dentro do movimento pró-vida, mas o fato é que uma posição verdadeiramente pró-vida está sinceramente interessada em proteger a dignidade das mulheres, grávidas ou não, pois elas se enquadram na categoria “já nascido” mencionada acima. Esta consequência pró-mulher de uma posição pró-vida deve compelir aqueles de nós que se consideram pró-vida a procurar maneiras pelas quais nós, nossas comunidades e nossas sociedades, podemos apoiar e defender a dignidade das mulheres, especialmente aquelas mulheres que estão enfrentando gravidezes não planejadas ou indesejadas.
Ser pró-vida não é envergonhar as pessoas
Como qualquer movimento ou posição ocupada por humanos, o movimento pró-vida não está livre de pecado ou de sistemas ou pensamentos problemáticos. Infelizmente, alguns que mantêm uma posição pró-vida usaram sua posição para elevar seu ego, reivindicando uma posição moral elevada e envergonhando aqueles que não se juntam a eles. No entanto, não é disso que trata a posição pró-vida. Não há espaço para menosprezar ou diminuir aqueles que não compartilham uma posição pró-vida, porque isso vai contra a verdade fundamental de que a vida – em qualquer estágio – é digna de respeito. Uma verdadeira resposta pró-vida a alguém que está falhando em proteger a dignidade de toda a vida humana em qualquer estágio é ouvir com compaixão e buscar em oração caminhar ao lado deles para a verdade.
Ser pró-vida não é opcional para os católicos
Há muitas pessoas pró-vida que não são católicas, o que é maravilhoso. Mas ser autenticamente pró-vida é algo a que todo católico é chamado. Claro, todos falhamos nisso em algum nível ou outro porque somos humanos, mas somos chamados por Deus e capacitados por Sua graça para lutar por uma cultura que defenda e proteja a dignidade da vida humana em nossas escolhas diárias, relacionamentos, comunidades e sociedades. Isso porque “a vida do homem provém de Deus, é dom Seu, é imagem e figura d’Ele, participação do seu sopro vital… o homem não pode dispor dela” (Evangelium Vitae, 39). Se acreditamos que Deus é quem Ele é e que toda a vida vem dEle, temos que reconhecer que não temos o poder ou autoridade para determinar qual vida é sagrada e qual não é – toda a vida vem dEle e, por essa razão, é sagrada. E temos que viver assim nas escolhas que fazemos e nas comunidades e sociedades que construímos.
Ser pró-vida nem sempre é fácil
Sempre houve e continuará a haver oposição ativa ao movimento pró-vida. Ser autenticamente pró-vida em todas as circunstâncias será difícil, especialmente naqueles momentos em que é impopular ou desagradável. Grande parte da oposição à postura pró-vida é baseada na compreensão incompleta ou mal-entendidos do que é ser pró-vida na verdade. Infelizmente, isso significa que, como pessoas pró-vida, estamos lutando com ideias falhas sobre o que as pessoas acreditam que somos. Mas o fato é que, por mais difícil que seja permanecer consistente e autenticamente pró-vida, sempre vale a pena defender o dom da vida que somente Deus pode dar.
As associações e as suposições feitas sobre o movimento pró-vida existem, sejam elas verdadeiras ou não sobre o que é realmente a posição pró-vida. Não é tão estreito como muitas vezes é apresentado ou acredita-se ser, mas quando você e eu permanecemos comprometidos sem remorso com a imagem completa do que uma posição pró-vida representa, talvez alguns desses mal-entendidos possam ser retificados à medida que almejemos construir o Reino de Deus neste mundo – um Reino em que cada vida humana, não importa o que aconteça, é preciosa e sagrada.
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Autor: Leah Muphy
Leah atua como diretora de evangelização digital da Life Teen. Formada pela John Paul the Great Catholic University, com formação em vídeo e paixão por aquele lugar selvagem onde fé e cultura se encontram, ela vive para contar a história de amor de Deus ao mundo, no espaço digital. Morando em San Diego, CA, ela passa todo o seu tempo livre fazendo todas as coisas com seus amigos, curtindo a melhor música que existe e indo em todas as aventuras que surgem em seu caminho.
Fonte: Life Teen
Traduzido por Angela de Oliveira – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação, além de atualmente coordenar o Grupo de Estudo Online Santa Teresa de Calcutá.