“Imediatamente eles deixaram suas redes e O seguiram.”
Quando eu perguntei sobre como ingressar nos Oblatos da Virgem Maria em Boston no ano 2000, recebi um pacote com muitas informações sobre a congregação. A primeira coisa que me impressionou ao abrir o pacote foi a citação e a pergunta: “O primeiro requisito para ser um Oblato da Virgem Maria é o desejo de ser santo. Você quer ser um santo?” Fui então fisgado por essa afirmação e pergunta, embora soubesse que não estava nem perto de ser um santo. E mesmo depois de 15 anos na congregação, ainda estou longe de ser um santo!
Mas eu percebo agora que os momentos em que ignorei o chamado à santidade, os momentos em que deixei de me afastar consistentemente do pecado e do egoísmo e de caminhar em direção a Deus e Sua vontade para mim, os momentos em que facilmente caí no pecado, foram também os momentos da maior luta com as exigências da minha vocação de doar-me completamente. Quanto mais o chamado à santidade se desvanecia em segundo plano, mais aquele egoísmo parecia mostrar sua cara feia com ímpeto.
O Catecismo da Igreja Católica mostra que somente uma vida de conversão contínua nos dá o foco espiritual e a energia necessários para lutar pela santidade que nos convém como filhos do Reino: “A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão. Sob a moção da graça, o homem volta-se para Deus e desvia-se do pecado, acolhendo assim o perdão e a justiça do Alto” (CIC 1989). O Espírito inicia essa conversão contínua em nossas vidas, movendo-nos do pecado e da vida egocêntrica e nos atraindo para caminhar rumo a Deus e Sua vontade para nós e para nossas vidas. Uma vida de conversão constante é o que nos abre à luz e à força do Espírito Santo, das quais precisamos para lutar pela santidade do Reino dos Céus. Nós sucumbimos ao egoísmo quando abrimos mão desta energia espiritual e foco do Espírito que recebemos durante nossa conversão contínua.
Na passagem do Evangelho vemos a resposta pronta e generosa dos quatro pescadores ao chamado de Jesus. Imediatamente, Pedro e André “deixaram suas redes e O seguiram”. Imediatamente, Tiago e João “deixaram seu barco e seu pai e o seguiram”. Como eles poderiam deixar todas essas coisas boas e salutares e seus entes queridos tão rapidamente e seguir este Jesus que até então era considerado um profeta emergente de Nazaré? Provavelmente eles tinham ouvido e estavam abertos ao chamado anterior de Jesus ao arrependimento: “Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo.” Jesus chamou todos ao arrependimento antes de chamar os discípulos para deixar todas as coisas e segui-Lo. Ao ouvir e atender Seu chamado ao arrependimento, os discípulos já estavam dispostos a se afastar do pecado e do egoísmo e se mover em direção a Deus e Sua vontade para eles. Eles estavam prontos para responder ao chamado de deixar até mesmo as coisas necessárias por causa de algo maior – o reino de Deus.
À medida que continuaram a responder ao chamado de Jesus para a conversão do egoísmo, eles tiveram a força para segui-Lo até o fim, apesar de seus muitos fracassos. Jesus constantemente os convidava a deixar não apenas suas redes, carreiras e parentes, mas também a si mesmos, seus próprios planos e suas próprias maneiras de pensar sobre o Reino. Somente a energia e o foco que vêm da conversão constante puderam sustentá-los em seu discipulado.
Na carta aos Coríntios, São Paulo adverte a comunidade dividida sobre suas divisões e grupos. Como o chamado de Jesus para a conversão constante e a jornada de volta a Deus estava em segundo plano, eles foram vencidos por seu apego egoísta aos líderes comunitários. Eles abandonaram a luz e a força do Espírito Santo necessárias para superar o egoísmo e participar da santidade dos filhos de Deus. São Paulo os chama à razão, lembrando-os da centralidade do chamado de Deus para eles em Cristo Jesus, chamando-os à santidade de vida desde o momento do batismo. “É em nome de Paulo que fostes batizados?”
Meus queridos irmãos e irmãs em Cristo, como é fácil para nós ignorar o chamado à conversão constante. Tornamo-nos complacentes nesta conversão porque vemos a conversão apenas como um afastamento do pecado e, portanto, julgamos a nós mesmos usando os 10 Mandamentos ou os preceitos da Igreja. Entretanto, se virmos o quadro completo da conversão como um afastamento – inspirado e sustentado pelo Espírito – do pecado e do egoísmo e um caminho de volta a Deus e à Sua vontade para nós, será difícil dizer que chegamos onde Deus deseja que estejamos como Seus filhos. A imagem completa da conversão nos induzirá a nos abrirmos mais aos sussurros do Espírito, de modo que tenhamos energia e foco para lutar pela santidade, não importando nossas falhas. À medida que mantemos esse chamado à santidade diante de nós, aos poucos dominamos as tendências egoístas dentro de nós.
Não importa qual seja a nossa vocação de vida – solteiro, casado, religioso, sacerdote, etc. – somos chamados a nos doar totalmente aos outros de uma forma ou de outra, para assim avançar na santidade. Um amigo meu que é casado, tem quatro filhos e trabalha mais de 12 horas diárias me disse uma vez: “Se você acha que está fazendo sacrifícios como padre religioso, venha passar um verão comigo e com minha família”. Eu o fiz e isso abriu meus olhos. Desde então, tenho tido dificuldade em reclamar dos sacrifícios da minha vocação e do constante apelo de vencer a mim mesmo. A menos que embarquemos em uma vida de conversão contínua sem trégua, o egoísmo nos dominará e arruinará nossas belas vocações.
Entramos em contato vivo com o Espírito de Jesus na Eucaristia. Ele é a luz que “brilha sobre os que se jazem nas trevas”. Já estivemos na escuridão por tempo suficiente; agora é hora de voltar e caminhar para Deus pelo caminho da conversão constante. Deixe o Espírito nos mover para deixar todas as coisas pecaminosas e egocêntricas e caminhar para Deus. Podemos falhar várias vezes e precisar começar de novo. Mas se nunca desistirmos, no fim dos tempos, ouviremos a voz de Jesus nos dizer uma última vez: “Siga-me”. Então, deveremos realmente deixar todas as coisas, até mesmo a sepultura e a morte, e segui-Lo em Seu Reino celestial.
Glória a Jesus!!! Honra a Maria!!!
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Autor: Padre Nnamdi Moneme
Padre Nnamdi Moneme OMV é um padre católico da ordem das Oblatas da Virgem Maria e atualmente está em missão nas Filipinas. Ele serve nos retiros da sua congregação e na casa de formação para noviços e teólogos em Antipolo, Filipinas.
Fonte: Catholic Exchange
Traduzido por Ludmila Giacone – Membro da Rede de Missão YOUCAT BRASIL, servindo no Núcleo de Tradução, além de atualmente participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.