São Jerônimo: um intercessor para os momentos de raiva

“Que a leitura sagrada esteja sempre à mão. O sono pode cair sobre você quando olhar para ela, e a página sagrada encontrará o rosto caído”. (São Jerônimo)

Hoje é a festa de São Jerônimo, um sacerdote e doutor da Igreja, que é mais conhecido por sua grande obra, a Vulgata. E enquanto São Jerônimo é corretamente celebrado por seu longo e duradouro serviço na escritura, eu admito ter sido atraído a ele por outro motivo. Fui atraído a São Jerônimo por conta de sua reputação com a raiva.

Pe. Joseph Esper sintetiza isso de uma boa maneira: “Quando se trata de uma reputação sobre a raiva, poucos argumentariam que São Jerônimo merecesse outra coisa senão o primeiro lugar”. Numa era de mídias sociais e trollagens na internet, não tenho certeza de que Jerônimo ainda seria o primeiro. Porém, seus desentendimentos com os santos de seu próprio tempo dizem sobre sua fama de “cabeça-quente”.

São Jerônimo tinha consciência de seu temperamento e frequentemente fazia penitência. Como Pe. Esper diz:

“É preciso mencionar a respeito de Jerônimo, entretanto, que além de ser gentil com os pobres e oprimidos, ele tinha ciência de suas fraquezas e realizou grandes atos de penitência (como viver em uma caverna) por causa deles”. (Pe. Joseph Esper, Solução dos Santos para nossos problemas)

Apesar de morar numa caverna, este grande santo era conhecido por bater em seu próprio peito com uma pedra e por dormir sobre um travesseiro de pedra. Essas penitências, ao lado de seu grande serviço à Igreja, são provavelmente a razão de São Jerônimo ter sido canonizado. Foi até relatado que um papa, ao ver uma pintura de Jerônimo segurando sua pedra de penitência, comentou: “Você faz bem em carregar essa pedra, porque sem ela a Igreja nunca teria te canonizado”.

Deus pode fazer tanto com nosso vazio e nossas misérias. Em São Jerônimo, descobrimos que Deus pode até mesmo resgatar um padre cabeça-quente do século IV e, por meio de suas obras, mudar o mundo inteiro.

Os tempos familiares de São Jerônimo 

São Jerônimo nasceu na província romana de Dalmácia (atual Croácia) em 347. Na época de sua morte em 420, o Império Romano estava em declínio, com o lado Ocidental indiscutivelmente já destruído em 410 com o Saque de Roma.

O colapso do Império Romano Ocidental é geralmente considerado pelo início da idade das trevas na Europa. Porém, durante essa época tiveram santos, artistas, e estudiosos contemplando a nova era que lentamente surgia.

Nesse tempo, Santo Agostinho criou seu livro mais robusto, A Cidade de Deus. Assim também, muitas igrejas e monastérios foram criados, com muitos bárbaros já aceitando a fé cristã.

Com tudo isso acontecendo, São Jerônimo aceitou o desafio de traduzir a Sagrada Escritura para o latim. Nessa época, o latim era a língua do Ocidente e ter uma completa e fiel tradução era necessária para a Igreja latina. Foi graças ao gênio linguístico e teológico de Jerônimo que a Igreja pôde confiar em sua tradução, a Vulgata, durante séculos.

“Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”, São Jerônimo declara. Através de sua obra, mais almas durante incontáveis séculos conseguiram conhecer Cristo e Suas palavras que curam.

Eu sempre penso sobre como São Jerônimo se debruçou sobre essa tarefa enquanto o mundo caía e mudava ao seu redor. Muito como os dias de hoje, provavelmente foi tentador ceder ao espírito da época e se desesperar com as glórias do passado. E dada sua fraqueza para a raiva, tenho certeza de que São Jerônimo muitas vezes se perguntou se o caminho para a santidade valia a pena.

Um santo para a atualidade

São Jerônimo realizou atos heróicos de penitência. Hoje podemos ver que sua penitência era parte de seu desejo de estar unido a Cristo. É por isso que não nos recordamos dele apenas como um monge nervoso.

Atualmente, a raiva é a moeda da mídia. Algoritmos nos introduzem a novas controvérsias, opiniões estúpidas e milhares de heresias. Nós até muitas vezes cedemos a essa cultura da raiva, como eu, mas podemos ir além dessa raiva para construir algo grande para Jesus.

Uma vez, São Jerônimo encontrou com o Menino Jesus e disse-Lhe que ele tinha dado a Jesus tudo o que poderia imaginar: sua vida, seu trabalho, seus bens, etc. Jesus respondeu: “Eu ainda quero mais de você”.

Depois de São Jerônimo ter exaurido toda possibilidade que poderia pensar, ele disse a Jesus: “Tudo o que restou é minha miséria”. Jesus respondeu: “É tudo o que quero de ti – sua miséria”.

Nós também temos de dar a Cristo nosso tudo, incluindo nossas misérias e nossos erros. Porque, em Cristo, nossas amargas misérias podem ser redimidas e podem até inspirar outros a se tornarem seus irmãos em Cristo.

Considerando nosso tempo caótico, contemple São Jerônimo e como ele irradiou a luz da palavra de Deus em um tempo obscuro, apesar de suas deficiências. Talvez não sejamos chamados a traduzir a Sagrada Escritura, mas ainda podemos encontrar uma maneira de iluminar esses tempos sombrios e assustadores.

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Autor: Chiara Pamphili

Chiara é natural de Chicago e mora em New England, onde cria seu bebê Anthony e é a esposa apaixonada do advogado Joe. Ela também é designer gráfica e escritora.

Fonte: Catholic Exchange

Traduzido por Gabriel Dias – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação, no Núcleo de Formação e no Núcleo de Diakonia.

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