QUARESMA – Por que a oração é tão importante?

Neste breve artigo, vamos abordar dois grandes fundamentos que nos ajudam a entender o que é a oração e como ela completa a essência do ser humano. Vamos ver:

Os Fundamentos Bíblicos  e  Os Fundamentos Teológicos

Fundamentos Bíblicos da Oração

Ao longo das Sagradas Escrituras são inúmeras as vezes em que os hagiógrafos (escritores Sagrados), de diferentes formas, relatam a ação de orar do homem:

“Nada te impeça de orar sempre, e não te envergonhes de progredir na justiça até a morte”. (Eclo 18,22)

“Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando as mãos puras, superando todo ódio e ressentimento”. (1 Tm 2, 8)

Não somente nas horas de tribulação:

“Invoca-me nos dias de tribulação e eu te livrarei e me darás glória”. (Sl 49, 15)

“Alguém entre vós está triste? Reze! Está alegre? Cante”. (Tg 5, 13)

Mas também para agradecer a Deus:

“Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens”. (1 Tm 2, 1)

“Sede perseverantes, sede vigilantes na oração, acompanhada de ação de graças”. (Cl 4, 2)

Somos convidados a rezar pelos outros:

“Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados”. (Tg 5, 16)

E até mesmo por nossos inimigos:

“Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos […] orai pelos que vos [maltratam e] perseguem”. (Mt 5, 44)

E como se não bastasse, até Jesus, que é Deus, rezou:

“E Jesus dizia: ‘Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem’ Mt 26, 36-44: Retirou-se Jesus com eles […] e disse-lhe: ‘Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar’” (Lc 23, 34)

“Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o céu se abriu”. (Lc 3, 21)

Mas será que Deus nos escuta?

“Essas duas orações foram ouvidas ao mesmo tempo, diante da glória do Deus Altíssimo”. (Tb 3, 24)

“O Senhor está longe dos maus, mas atende à oração dos justos”. (Pr 15, 29)

“A oração do pobre eleva-se de sua boca até os ouvidos (de Deus), (e Deus) se apressará em lhe fazer justiça”. (Eclo 21, 6)

“Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem lhe presta culto e faz a sua vontade” (Jo 9, 31)

‘O Anjo replicou: “As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança”’ (At 10, 4)

Fundamentos Teológicos da Oração

Quando falamos em fundamentos teológicos, o que queremos dizer?

A teologia se ocupa do estudo da Revelação Divina, ou seja, de tudo aquilo que Deus quis livremente, por seu amor, nos Revelar sobre si mesmo. Desde a criação do mundo até Jesus Cristo, Deus veio se mostrando ao homem.

Santo Agostinho disse que “A fé precede a razão”. O que isto significa a nós? Que antes de tudo, devemos acreditar, dar um assentimento de fé. E em um segundo momento, devemos usar de nossa razão para “Desejar ver com a inteligência o que acreditei”.

Estabelecer os fundamentos teológicos é dar as explicações básicas e racionais aos assuntos da Revelação. É dar sentido ao que já cremos para melhor crermos, pois, a própria fé é desejosa de saber (Fides quaerens intellectum – A fé em busca de entendimento, Santo Anselmo).

As passagens bíblicas acima citadas nos colocam diante da atitude de crer. Acreditamos que precisamos rezar, pois é Deus quem nos ensina. O próprio Jesus Cristo rezou, então devemos aceitar que precisamos rezar também. Isto é fazer com que nossa Fé preceda a Razão. Nos parágrafos seguintes, vamos dar espaço a razão que nos ajudará a compreender o que é a oração.

Todos os povos testemunham a busca por Deus

“Pela criação, Deus chama todos os seres do nada à existência… Mesmo depois de, pelo pecado, ter perdido a semelhança com Deus, o homem continua a ser à imagem do seu Criador. Conserva o desejo d’Aquele que o chama à existência. Todas as religiões testemunham esta busca essencial do homem” (CIC 2566).

Em uma audiência geral com o tema: O homem em Oração, Bento XVI retoma alguns aspectos importantes que não podem ser esquecidos. Apesar de um crescimento secularismo no mundo, onde Deus vai ficando de lado, não podemos negar também as trágicas experiências humanas onde a razão autônoma levou a guerras trágicas. De tal modo que voltamos ao pensamento: Será que o homem sem Deus pode se garantir?

O homem é por natureza um ser religioso, pois “o desejo de Deus está inscrito no coração do homem, visto que o homem é criado por Deus e para Deus”. (CIC 27)

No livro Confissões, Santo Agostinho diz: ‘… porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós’.

A oração é uma expressão natural do homem

O homem tem em si uma sede de infinito, uma saudade de eternidade, uma busca de beleza, um desejo de amor, uma necessidade de luz e de verdade que o impelem rumo ao Absoluto; o homem tem em si o desejo de Deus. E o homem sabe, de qualquer modo, que pode dirigir-se a Deus, sabe que lhe pode rezar. S. Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos da história, define a oração como “expressão do desejo que o homem tem de Deus”.

Esta atração por Deus, que o próprio Deus colocou no homem, é a alma da oração, que depois se reveste de muitas formas e modalidades, segundo a história, o tempo, o momento, a graça e até o pecado de cada orante. (cf. Bento XVI, Audiência, 11 de Maio de 2011).

A atração por Deus é a alma da oração.

Portanto, a oração é um impulso do coração (Santa Teresinha, Manuscritos autobiográficos) a Deus, que é algo tão natural quando pensar, respirar e andar. É em busca de compreender e preencher o vazio do coração que o homem se dirige ao único que é capaz de fazer isto. Nisto consiste basicamente a oração.

A oração deve ser algo tão natural quando pensar, respirar e andar.

É por esta razão que rezamos, para correspondermos mais profundamente à nossa essência. Quanto mais buscamos realizar o que é próprio de nossa natureza, mais felizes seremos. Rezar é uma forma de realização não somente pessoal, mas essencial. Somos mais humanos a medida que mais rezamos.

O desejo da oração envolve a estima por se relacionar com Deus. Uma vontade oculta (ou não) de entrar num diálogo entre criador e criatura. De reconhecer nossa condição e considerar que somente em Deus podemos ser completos e realizados. A oração é o elo que une a nossa palavra com o Logos (A Palavra) de Deus. Neste encontro, nossa alma ganha vida e alimento para bem vivermos nossa história.

A oração é o elo que une a nossa palavra com o Logos (A Palavra) de Deus.

“O ENCONTRO cotidiano com o Senhor e a frequência aos Sacramentos permitem abrir nossa mente e nosso coração para Sua presença, a Sua palavra, a Sua ação. A oração não é somente o respiro da alma, mas para usar uma imagem, é também o oásis de paz no qual podemos tirar a água que alimenta nossa vida espiritual e transforma nossa existência” (Bento XVI, Audiência Geral, 13 de junho de 2012).

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