A Igreja chama o jejum, a esmola e a oração de “remédios contra o pecado” pois cada uma dessas atividades, a seu modo, nos ajudam a vencer o maior mal deste mundo, o pecado. A oração nos fortalece em Deus; a esmola (obras de caridade) “cobre uma multidão de pecados”; e o jejum fortalece o nosso espírito contra as tentações da carne e do espírito e nos liberta e abre para os valores superiores da alma. Hoje vamos nos deter no exercício quaresmal do Jejum.
O jejum é uma prática frequente e recomendada pelos santos de todas as épocas desde o início do Cristianismo:
Diz, por exemplo, São Pedro Crisólogo (451): “O jejum é paz do corpo, força dos espíritos e vigor das almas” e ainda: “O jejum é o leme da vida humana e governa todo o navio do nosso corpo” (Sermão VII: sobre o jejum, 3.1).
“O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto quem reza jejue. Quem jejua tenha misericórdia. Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto em seu benefício o coração de Deus não feche o seu a quem o suplica” (Sermo 43; PL 52, 320.332).
A prática fiel do jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor:
Santo Agostinho, que conhecia bem as próprias inclinações negativas e as definia «nó complicado e emaranhado» (Confissões, II, 10.18), no seu tratado A utilidade do jejum, escrevia: «Certamente é um suplício que me inflijo, mas para que Ele me perdoe; castigo-me por mim mesmo para que Ele me ajude, para aprazer aos seus olhos, para alcançar o agrado da sua doçura» (Sermo 400, 3, 3: PL 40, 708).
Imediatamente após o Concílio Vaticano II, o Servo de Deus, o Papa Paulo VI emitiu a Constituição Apostólica Paenitemini (17/02/1966) para confirmar e, ao mesmo tempo, reformar a disciplina da Igreja sobre a penitência. Nessa constituição, ele nos exorta a reconhecer a necessidade de colocar o jejum no contexto do chamado de cada cristão a «não viver mais para si mesmo, mas para aquele que o amou e se entregou a si por ele, e… também a viver pelos irmãos» (Cap. I)
1. COMO É O JEJUM RECOMENDADO PELA IGREJA?
A lei do jejum “obriga a fazer uma única refeição durante o dia, mas não proíbe de consumir um pouco de comida de manhã e à noite, de acordo com a quantidade e qualidade aprovadas pelo costume local” (Paenitemini, III, IV 2/647). Esse é o chamado Jejum da Igreja, por ser extremamente simples, podendo ser feito por qualquer pessoa. Esse modo de jejuar vem da Tradição da Igreja e pode ser praticado por todos sem exceção. O básico desse tipo de jejum é que você tome o café da manhã normalmente e depois faça apenas uma refeição – almoçar ou jantar -, a depender dos seus hábitos, de sua saúde e de seu trabalho. A outra refeição, a que você não vai fazer, será substituída por um lanche simples, de acordo com as suas necessidades.
2. QUEM ESTÁ OBRIGADO A JEJUAR?
Todo católico maior de idade (a partir dos 18 anos) até os 60 anos começados (cinquenta e nove completos) conforme dita o Código do Direito Canônico 1252: “Estão obrigados à lei da abstinência aqueles que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei do jejum todos os maiores de idade até os sessenta anos começados”. A observância da obrigação da lei do jejum e da abstinência pode não ser realizada por uma razão justa, por exemplo, a saúde ou a idade. Além disso, o pároco pode conceder a isenção da obrigação de observar o dia de penitência, ou trocá-lo por uma obra de caridade.”
3. QUAIS SÃO OS TIPOS DE JEJUM?
Depois de termos explorado toda essa riqueza, encerremos essa longa partilha de hoje, com um grande e atual ensinamento do Papa Bento XVI, que em sua mensagem para a Quaresma de 2009, nos exortou assim:
“Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus. Ao mesmo tempo, o jejum ajuda-nos a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos. Na sua Primeira Carta São João admoesta: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?» (3, 17). Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente. Precisamente para manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os irmãos, encorajo as paróquias e todas as outras comunidades a intensificar na Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo a escuta da Palavra de Deus, a oração e a esmola. Foi este, desde o início o estilo da comunidade cristã, na qual eram feitas coletas especiais (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27), e os irmãos eram convidados a dar aos pobres quanto, graças ao jejum, tinham poupado (Didascalia Ap., V, 20, 18). Também hoje esta prática deve ser redescoberta e encorajada, sobretudo durante o tempo litúrgico quaresmal.”
Escolha o melhor jejum para você e tenha uma Santa Quaresma!