Alguns anos atrás, ouvi um padre dizer algo chocante durante uma homilia. Isso aconteceu antes de ser católico, quando fui à Missa num dia santo de guarda como forma de manter uma falsa paz em meu matrimônio. Minha esposa tinha se convertido ao Catolicismo em 2004, um ano antes de nos conhecermos e, mesmo após o casamento em 2006 e ainda que eu concordasse em educar as crianças na fé católica, não havia em mim nenhuma intenção de aderir ao catolicismo.
“Maria é um dom para todos os homens”, disse o padre bem claramente. Lembro-me de quando nos reunimos para celebrar a festa da Assunção. Primeiro, pensei que ele quisesse dizer que Maria era um dom para a humanidade. Muitos padres enfatizam o modo como Nosso Senhor confiou sua mãe, a Mulher, ao discípulo amado aos pés da cruz, e como nós somos chamados a ser discípulos amados que também, respeitosamente, acolhem Maria em suas próprias casas. Contudo, para mim, esse discurso não tinha muito impacto. Eu rapidamente pressupus que aquele padre teria o mesmo argumento. Em vez disso, ele adotou uma abordagem diferente, até mesmo intensificando o tom da voz.
“Maria oferece aos homens, em particular, o modo de resolver um problema difícil. Para as mulheres, amar a Jesus é mais fácil e natural, mas não é tão simples ou natural para um homem amar outro homem tão intimamente como devemos amar Nosso Senhor. Maria presenteia os homens com uma solução para esse difícil desafio”.
O que diabos ele estava dizendo? Começo a pensar. Sentei-me para a frente do banco e me inclinei para perto. O padre continuou fazendo outras colocações muito boas, mas mentalmente eu não mais acompanhava o que ele dizia e permanecia naquela frase marcante. Maria é um dom para os homens.
Por muitos anos, suas palavras latejaram no profundo da minha mente. Finalmente, em 2014, eu teria plena comunhão com a Igreja, na festa da Imaculada Conceição. Eu nunca me esqueci daquelas palavras do padre e foi assim até que anos mais tarde, depois de conhecer o ensinamento de São João Paulo II a respeito da Teologia do Corpo, a sabedoria daquele sacerdote finalmente me deu uma grande intuição acerca do significado de ser homem.
A NOVA EVA
O papel de Maria na Igreja é sempre refletir e proporcionar o avanço da glória de seu Filho. Na verdade, Maria nunca cessa de defender e proteger Jesus. Por exemplo, o ensinamento da Igreja a respeito do título mariano de Theotokos – Mãe de Deus – reflete nada menos do que a verdade a respeito da divindade de seu Filho, e não um louvor exclusivamente a Maria. Sobre o ensinamento da Igreja a respeito da virgindade perpétua de Maria, a Igreja zela pela natureza miraculosa do nascimento terreno de Jesus, o qual é descrito pelos padres da Igreja primitiva como “uma luz que passa pelo vidro sem danificá-lo” (Miravalle 2012). Essa analogia porta um grande significado quando professamos, no Credo Niceno-constantinopolitano, a fé em Jesus Cristo, o qual é consubstancial ao Pai, “Deus de Deus, Luz da Luz”.
Jesus Cristo é a Luz divina, “a vida da luz dos homens” (Jo 1, 3), que passou através do precioso ventre da Virgem Maria. Assim, podemos imaginar Maria como uma espécie de prisma para aquela Luz. Em vista de suas qualidades singularmente únicas iluminadas pela Luz divina, podemos ver ganhar vida certos mistérios referentes ao plano de Deus para a humanidade.
Na Exortação Apostólica intitulada Marialis Cultus (1974), Sua Santidade Paulo VI escreve:
Maria, a Nova Mulher, permanece ao lado de Cristo, o Novo Homem, em cujo mistério, somente, encontra verdadeira luz o mistério do homem; e ela está aí, qual penhor e garantia de que numa simples criatura, nela, se tornou já realidade o plano de Deus em Cristo, para a salvação de todo o homem.
Deus projetou a humanidade à Sua imagem, “a imagem de Deus Ele os criou, homem e mulher Ele os criou” (Gn 1, 27). Esse incrível trecho do Gênesis não significa apenas que Deus criou cada indivíduo sozinho portando a imagem de Deus, mas também que Ele imprimiu a Sua imagem na comunhão de vida entre homem e mulher. Em uma homilia de 14/06/2015, o Papa Francisco explica: “nem só o homem considerado em si mesmo como imagem de Deus, nem só a mulher considerada em si mesma como imagem de Deus, mas homem e mulher, juntos, são imagem de Deus”. Além disso, o Catecismo da Igreja Católica ensina que “homem e mulher foram feitos ‘um para o outro’ – não que Deus os tenha feito pela metade e incompletos: Ele os criou tendo em vista a comunhão de pessoas, na qual cada um pode ser “auxílio” para o outro, porque eles são de igual dignidade enquanto pessoas (“ossos de meus ossos”) e complementares enquanto masculino e feminino (CIC 372).
Isso, é claro, faz total sentido, tendo em vista a natureza divina de Deus. Graças à Sagrada Revelação, sabemos que Deus não é apenas um Ser, mas uma Trindade de Três Pessoas Divinas – Pai, Filho e Espírito Santo. Nele mesmo, Ele traz à perfeição tanto a singularidade quanto a pluralidade. Essa é uma ideia bastante abstrata, mas o que ela nos mostra, concretamente, é que o homem é imagem de Deus individualmente, assim como a mulher, mas também a complementariedade dos sexos é imagem de Deus.
Sabemos ainda, por meio da Teologia do Corpo, que à complementariedade dos sexos é dada uma graça especial no Sacramento do Santo Matrimônio. Desde as próprias origens da raça humana, homem e mulher foram feitos “para constituírem uma comunhão de pessoas, na qual cada um pode ser um ‘auxílio para o outro” (CIC 372).
A MÃE DOS HOMENS
Foi nesse ponto que as palavras do padre proferidas anteriormente ganharam uma nova luz. Maria é a Imaculada Conceição, a Nova Eva, perfeitamente complementar a todo ser humano do sexo masculino. Como Nova Eva, Maria é nosso socorro, perfeitamente compatível com todo homem e ansiando a nos ajudar a dominar a masculinidade, a fim de que nos tornemos aqueles que Deus nos chamou a ser em nossas famílias, em nossos casamentos e na sociedade.
Com a sua ajuda e com as graças dadas por ela, podemos estar certos da vitória dada a nós pelo puro sacrifício do seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Como homens, a consagração à Virgem Maria não é meramente um ato de fé, mas um essencial ato de virilidade. Ela nos completa, o que não significa dizer que Deus nos fez pela metade ou incompletos. Pelo contrário, Deus nos criou para a vivência da comunhão com a perfeita feminilidade, a qual encontramos Nela. Assim como o padre disse, Maria é um dom para os homens.
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AUTOR: Matthew D. Pride que é um oficial do Exército dos EUA em Fort Knox, Kentucky. Graduou-se no Colégio de Comando e Estado-Maior em Fort Leavenworth, Kansas, onde fez mestrado em Artes e Ciências Militares em Estudos Estratégicos. Sua tese foi sobre a Teoria da Guerra Justa. Em 2012, ele fez outro mestrado em Ciências na Universidade de Ciências e Tecnologias de Missouri, em Gerenciamento de Engenharia. Em 2006, Matt se graduou na Academia Militar dos Estados Unidos (USMA) em West Point, Nova Iorque. Ele é casado há 11 anos com Christina, e eles têm 4 filhos.
Fonte: Esse post é original do site “Catholic Gentleman”.
Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão do YOUCAT BRASIL, como Voluntário nos Núcleos de Tradução, Clube de Leitura YOUCAT e também membro do Grupo de Estudo YOUCAT DATING em Brasília – DF.