Na Primeira Carta aos Tessalonicenses, o Apóstolo Paulo convida-nos a preparar a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5, 23), conservando-nos irrepreensíveis com a graça de Deus. Paulo recorre precisamente à palavra “vinda”, em latim, ADVENTUS, do qual deriva o termo ADVENTO. Meditemos brevemente sobre o significado desta palavra, que se pode traduzir por “presença”, “chegada” e “vinda“.
Na linguagem do mundo antigo, ADVENTO era um termo técnico utilizado para indicar a chegada de um funcionário, a visita do rei ou do imperador a uma província. No entanto, podia indicar também a vinda da divindade, que sai do seu encobrimento para se manifestar com poder, ou que é celebrada presente no culto. Os cristãos adotaram a palavra “advento” para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei, que entrou nesta pobre “província” denominada terra para visitar todos; convida a participar na festa do seu advento todos aqueles que nele creem, todos aqueles que acreditam na sua presença na assembleia litúrgica. Com a palavra adventus queria dizer-se dizer substancialmente: Deus está aqui, não se retirou do mundo, não nos deixou sozinhos. Embora não O possamos ver nem tocar, como acontece com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem visitar-nos de múltiplos modos.
O significado da expressão “advento” abarca também o de VISITATIO que quer dizer simplesmente “visita”; neste caso, trata-se de uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer se dirigir a mim. Na existência quotidiana, todos temos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e pouco tempo também para nós. Acabamos por ser absorvidos pelo “fazer”. Não é verdade que, com frequência, é precisamente a atividade que nos domina, a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa atenção? Não é verdade que dedicamos muito tempo ao ócio e a distrações de vários tipos? Às vezes, a realidade “nos arrebata”.
O Advento, este tempo litúrgico forte que estamos a começar, convida-nos a refletir para compreender silenciosamente uma presença. É um convite a compreender que os acontecimentos de cada dia são gestos que Deus nos dirige, sinais da atenção que Ele tem por cada um de nós. Quantas vezes Deus nos faz sentir algo do seu amor! Escrever, por assim dizer, um “diário interior” deste amor seria uma tarefa bonita e saudável para a nossa vida! O Advento nos convida e nos estimula a contemplar o Senhor que está presente. A certeza da sua presença não deveria nos ajudar a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria nos ajudar a considerar toda a nossa existência como uma “visita”, um modo em que Ele pode vir ter conosco e estar ao nosso lado em cada situação?
Outro elemento fundamental do Advento é a ESPERA, expectativa que é ao mesmo tempo esperança. O Advento nos leva a compreender o sentido do tempo e da história como “kairós”, como ocasião favorável para a nossa salvação. Jesus explicou esta realidade misteriosa mediante muitas parábolas: na narração dos servos convidados a esperar o retorno do dono; na parábola das virgens que esperam o esposo; ou naquelas da sementeira e da colheita. Na sua vida, o homem está constantemente à espera: quando é menino, deseja crescer; quando é adulto, procura a realização e o sucesso; na idade avançada, aspira ao merecido descanso. Mas chega a hora em que ele descobre que esperou demasiado pouco se, para além da profissão ou da posição social, nada mais lhe resta para esperar. A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos é animada por uma certeza: o Senhor está presente ao longo da nossa vida, nos acompanha, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz.
Existem modos muito diferentes de esperar. Se o tempo não está cheio de um presente carregado de sentido, a espera pode tornar-se insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja, se o presente está vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a espera se transforma num peso demasiado grande, porque o futuro é totalmente incerto. Pelo contrário, quando o tempo está carregado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de positivo, então a alegria da espera torna o presente mais valioso.
Queridos irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, em que já nos são concedidos os dons do Senhor, vivamo-lo projetados para o futuro, um futuro cheio de esperança. Deste modo, o Advento cristão torna-se ocasião para despertar em nós o autêntico sentido da espera, voltando ao coração da nossa fé que é o mistério de Cristo, o Messias esperado durante longos séculos e nascido na pobreza de Belém.
Quando veio ao meio de nós, nos trouxe e continua a nos oferecer o dom do seu amor e da sua salvação. Presente entre nós, nos fala de muitas maneiras: na Sagrada Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana e em toda a criação, que muda de aspecto se Ele se encontra por detrás dela, ou se a mesma está ofuscada pela neblina de uma origem incerta e de um futuro inseguro. Por nossa vez, podemos dirigir-lhe a palavra, apresentar-lhe os sofrimentos que nos afligem, a impaciência e as interrogações que brotam do nosso coração. Estamos persuadidos de que nos ouve sempre! E se Jesus está presente, já não existe tempo algum sem sentido e vazio. Se Ele está presente, podemos continuar a esperar mesmo quando os outros já não conseguem nos garantir qualquer apoio, mesmo quando o presente está cheio de dificuldades.
Queridos amigos, o Advento é o tempo da presença e da espera eterna. Precisamente por esta razão é, de modo particular, o tempo da alegria, de um júbilo interiorizado, que nenhum sofrimento pode anular. A alegria pelo fato de que Deus se fez Menino. Esta alegria, invisivelmente presente em nós, encoraja-nos a caminhar com confiança. Modelo e ajuda deste íntimo júbilo é a Virgem Maria, por meio da qual nos foi oferecido o Menino Jesus. Que Ela, discípula fiel do seu Filho, nos conceda a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e diligentes na esperança.
Papa Emérito Bento XVI, homilia do 1º Domingo do Advento de 2009.