Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube e outras tantas plataformas estão repletas de frases cristãs vazias e de outras mensagens. Muitas vezes, frases banais são retweetadas ou compartilhadas com algum tipo de exortação a “espalhar a palavra”. Sendo você um cristão, você pode se sentir culpado por apoiar esse tipo de coisa, a fazer sua parcela de evangelização. Acredite em mim, eu estou comprometido a erguer uma cultura cristã, mas algumas vezes eu tenho vergonha desse tipo de conteúdo. Nos casos mais extremos, parece que, não compartilhar qualquer imagem ou citação “porque você é um cristão”, é uma negação ao próprio Jesus.
Mas e a evangelização nas redes sociais? Escrever 140 caracteres vai convencer alguém do Evangelho? A Igreja se recusa a se ausentar dessa conversa – isso por si só nos diz algo importante. Papa Francisco (@Pontifex) tem 18,9 milhões de seguidores em sua conta de língua inglesa no twitter (e mais de 50 milhões se todas as 8 contas, em idiomas diferentes, forem somadas). A Igreja é chamada a ser fermento para o mundo, e isso significa continuar compartilhando a luz e a esperança da mensagem do Evangelho, inclusive na Internet. Monsenhor Paul Tighe coloca desta maneira: “Se desistirmos, então estamos deixando a internet para os trolls. Estamos deixando-a para os valentões”.
Enquanto alguns podem pensar que a Igreja deva se ausentar das “novas mídias”, muitos podem se perguntar que bem tudo isso faz. Ver uma passagem da Escritura no Facebook de alguém realmente pode ajudar a infundir uma alma, com a abundância de graças reais, até mesmo a graça santificante? Parece imprudente apenas fechar essa porta. As obras da Providência são misteriosas, e o Criador ama usar causas instrumentais para atingir seus objetivos. Longe deste teólogo declarar a Internet uma opção banida do manual de estratégias de Deus.
O Santo Padre oferece uma maneira útil de definir nossa presença católica na web, à luz do seguinte objetivo: construir uma cultura de encontro. “Assim”, diz Papa Francisco, “o desafio que hoje se apresenta, é aprender de novo a conversar, não nos limitando a produzir e consumir informação”. Encontros evangélicos genuínos demandam relacionamentos autênticos e trocas verdadeiras. Então, essa é nossa meta: usar a web para nutrir esses encontros, que, motivados e dirigidos pela graça de Deus, podem gerar frutos em inúmeras vidas.
Mas, a quem podemos recorrer como um exemplo de como fazer isso? As inovações das “novas mídias” são, por definição, sem precedentes. Entretanto, acredito que devemos apelar para a vida e ensinamento de Fulton Sheen. Ao minar o exemplo de sua vida e ensino, podemos deduzir alguns princípios para guiar nossa “pregação virtual”.
1) Relacionamentos – Na época em que seu programa parou de ir ao ar, em 1957, o arcebispo Sheen tinha uma audiência de 30 milhões de pessoas. As pessoas amavam sua abordagem do Evangelho, pois parece que ele conversava com elas. Sheen nunca usou um teleprompter ou cartões idiotas. Ele era professor, então ele fazia o que amava fazer – ele ensinava. Ele ensinava a audiência, e respondiam como seus alunos. Sheen conseguiu construir, rompendo as barreiras dos microfones e das telas, conexões pessoais com seu público, o mesmo verdadeiro relacionamento de um professor com seus alunos. Nas redes sociais, temos de achar uma maneira de trazer as pessoas para nossas pequenas “transmissões” – nossos likes, postagens e compartilhamentos – e construir verdadeiros relacionamentos com nossos amigos e seguidores. Sheen não usava seus programas como proselitismo; ele deixava para o público concluir que suas palavras deveriam atraí-los para Alguém Mais, de quem eles precisavam em suas vidas. Nas próprias palavras de Sheen: “Há uma necessidade de tomar posse de almas sofridas como Pedro, incrédulas como Tomé e místicas como João, e levá-las às lágrimas, a se ajoelharem ou a descansarem no Sagrado Coração [de Jesus]”.
2) Autenticidade – O que quer que possa ser dito sobre Fulton Sheen, não se pode dizer que lhe faltava estilo. Todos conhecem sua batina e capa episcopal (chamada Ferriola). Sheen apareceu na televisão vestindo trajes da tradição. Seu vestuário mandava uma mensagem clara: meu trabalho é verdadeiro, assim como minhas palavras. Mas o programa era também surpreendentemente simples. Seus únicos adereços eram um pedaço de giz e um quadro-negro. Essa combinação de nobre simplicidade deve guiar nossas escolhas estéticas do “Evangelho virtual”, o qual pode enviar uma forte mensagem, sem nem proferir palavras. As imagens que compartilhamos devem ser surpreendentes e belas. Nossos designs devem ser claramente inspirados por nossas tradições, e devemos evitar formas de arte e representações descontínuas ou incompatíveis com nosso trabalho. A Igreja – mesmo na Internet – deveria se sentir como a Igreja.
3) Matéria – A escritora Dorothy Sayers escreve: “É inútil oferecer o cristianismo como uma aspiração vagamente idealista de tipo simples e consolador; ele é, pelo contrário, uma doutrina sólida, robusta, minuciosa e complexa, impregnada de um realismo enérgico e intransigente. E é fatal imaginar que todo mundo sabe muito bem o que o cristianismo é, e que basta incentivar sua prática”. O arcebispo Fulton Sheen era um professor de filosofia. Ele era um homem mergulhado em Aristóteles e Platão, de fato, produto de anos de estudo na prestigiada Universidade Católica de Leuven, na Bélgica. Seu ensino e sua pregação tirou o melhor de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, e usou de sua sabedoria para compor uma abordagem direta do Evangelho. Como ele diz: “Pregar e dar palestras são impossíveis sem muito estudo e muitas leituras. Essa talvez seja uma das fraquezas do púlpito moderno…”. O arcebispo não media palavras, mas trabalhou incansavelmente para mostrar a plenitude do ensino católico. Em uma sociedade que mal conhece o significado por trás da palavra “cristão”, temos que empreender uma explicação encarnada da fé. O novo paganismo requer que ensinemos as verdades eternas da fé como se fossem completamente novas. Fulton Sheen não minou ou ocultou a tradição; ele expôs sua genialidade.
4) Originalidade – George Orwell acredita que a primeira cura para remediar o estado decaído da linguagem é “nunca usar uma metáfora, comparação ou outra frase feita, que você esteja acostumado a ver escrita”. O mesmo vale para nossa presença nas redes sociais. Acredito que poucas pessoas estejam realmente interessadas em ver “Jo 3, 16” numa postagem – elas acham já saber o que significa. E (para elas) isso é entediante. Sheen era um gênio criativo. Ele amava usar histórias, metáforas e exemplos. Eles fizeram o que foi seu ensinamento, e capturaram milhões de corações. É claro que nem todo discípulo é um gênio criativo, mas todos podem filtrar o que compartilham. Se você encontra algum conteúdo banal ou melancólico, por que você iria oferecê-lo a outros?
5) Cristocêntrico – O arcebispo Sheen preparou todos os seus sermões na presença do Santíssimo Sacramento. Em suas palavras: “Um amante sempre trabalha melhor quando está na presença de seu Amado”. As mais brilhantes ideias vêm do encontro face-a-face com Deus, porque a oração é própria obra de Deus. Sozinhos, não iremos conseguir construir uma cultura cristã no século XXI através da artrite causada pela digitação frenética ou através do café consumido nos estudos madrugada adentro. Cristo atrai homens e mulheres para Si, para que participemos de Sua obra. A graça de Deus alimentou e estimulou a pregação do arcebispo Sheen, tomando seus talentos naturais e moldando-os a gerar frutos sobrenaturais. O mistério do nosso Batismo, o mistério da nossa vocação cristã, é que Deus irá fazer o mesmo através de nós… mesmo via Internet.
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Autor: Pe. Patrick Mary Briscoe
Frade dominicano, estudou filosofia e literatura francesa na Universidade de Santa Maria, em Minnesota. Foi ordenado sacerdote em 2016 e serviu à Paróquia São Pio V, em Providence, Rhode Island.
Fonte: Catholic Exchange
Traduzido por Gabriel Dias – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.