A parábola do andarilho: como ir devagar e aproveitar a jornada


Dois dos meus passatempos favoritos ao ar livre são correr e caminhar. Como gosto de contar para todo mundo quando encontro algo bom (uma trilha escondida, uma nova hamburgueria, um santo desconhecido), costumo falar muito sobre eles. Mas quando meu pároco, Padre George, sugeriu que eu diminuísse a velocidade e tentasse andar (acho que é mais a velocidade dele), eu disse a mim mesma: “É uma boa ideia fazer o que seu pároco lhe diz!”

Então, no fim de semana seguinte, deixei meus habituais sapatos de trilha no carro, calcei um par de sandálias confortáveis, joguei um pouco de carne seca e biscoitos na minha mochila e dei um passeio na adorável e antiga trilha dos pomares até o meio do Parque Regional de Briones. Às vezes era sombreada, às vezes ensolarada, e nessa época do ano estava cheia de coisas adoráveis para ver, cheirar e ouvir. Apreciei as minúsculas flores roxas de ervilhaca em companhia encaracolada com a extravagantemente dourada papoula da Califórnia; eu segui o grito de um falcão em pleno vôo através de um prado; me pendurei em galhos de árvores convidativos e afundei os dedos dos pés na lama abaixo deles; e descobri um labirinto encantador que um casal que conheci me disse que existe há muito tempo. Adicionei minha própria pegada ao caminho bem desgastado e desfrutei de um copo d’água e um lanche no meio do parque antes de voltar.

Tenho certeza de que provavelmente teria perdido a maioria dessas experiências se tivesse corrido ou caminhado em ritmo de trilha, em vez de ir devagar, como sugeriu o Padre George.

Acho que a palavra que eu usaria para esse tipo específico de caminhada é “passeio”. Passeei pelas trilhas naquele dia e gostei!

Em “The Mountain Trail and Its Message”, Albert W. Palmer conta sobre uma conversa que supostamente teve com o grande naturalista John Muir, na qual Muir sugere:

“[A palavra ‘saunter‘* é] uma palavra bonita. Lá atrás, na Idade Média, as pessoas costumavam ir em peregrinação à Terra Santa, e quando as pessoas nas aldeias pelas quais passavam perguntavam para onde estavam indo, elas respondiam: ‘A la sainte terre‘, ‘para a Terra Santa’. E assim eles ficaram conhecidos como sainte-terre-ers ou saunterers.

Acontece que eu também gosto de um bom passeio – embora, neste caso, meu destino não seja “a” Terra Santa, mas sim estar totalmente na presença da criação sagrada ao meu redor. É tão revigorante fazer um passeio errante e meditativo por onde quer que eu esteja, com a própria experiência como fim. É no caminho que as soluções para os problemas se materializam, a criatividade flui e minha alma se inspira.

Agora, vamos aplicar isso à vida. Aqueles que “correm” ou “marcham” pela vida correm ao longo de uma trilha ou caminho que designaram para si mesmos, medindo o sucesso ou o fracasso pelos tempos parciais metafóricos e a quilometragem de dinheiro, realizações ou apetites satisfeitos. Há sempre uma meta e, muitas vezes, sucesso ou fracasso objetivo.

Quão melhor é arranjar tempo para passear! Quão mais recompensador é desacelerar e medir a vida não por realizações e conquistas, mas pela bondade, amor e todas as coisas generosamente dadas a nós por nosso Senhor – desacelerar e deixar a beleza de uma amizade florescente prender nossa alma, ouvir o sussurro das árvores e as canções de nosso povo,  colher as florzinhas perfumadas da vida, do amor e da bondade, e carregá-las conosco.

Como disse Jesus, “bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem!” (Mt 13,16). Ou, nas palavras de nosso amigo Palmer: “Essas são as recompensas peculiares do homem que aprendeu o segredo do andarilho!”

*N.T.: saunter, em português, quer dizer passeio.

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Autor: Megan Arteaga

Megan Arteaga é a Coordenadora do Ministério Juvenil em uma pequena paróquia na área da Baía de São Francisco.

Fonte: BustedHalo

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