Nascida na festa da Anunciação em 1347, Santa Catarina de Sena se tornou uma forte voz da Igreja, uma luz brilhante em um dos momentos mais turbulentos da história cristã. Ela deu seus 33 anos de vida em serviço a Deus, durante o caos do Grande Cisma do Oriente (dos dois papas eleitos), peste bubônica, realocação do papa da França, e conflitos políticos na sua nativa Itália. Com uma sabedoria inspirada por Deus, ela proveu um senso de confiança e certeza que influenciou papas, nobres e cristãos.
Piedade na juventude
Aos 6 anos, Catarina teve uma visão na qual o Senhor fez o sinal da Cruz acima dela. A partir desse momento, ela foi agraciada com dons de Deus e sua jornada espiritual foi firmada. Quando ela tinha 12 anos, seus parentes queriam que ela começasse a procurar um marido. Mas Catarina já estava apaixonada e tinha se entregado a Jesus. Ela evitou os seus pretendentes e até cortou o seu cabelo para ser menos atraente.
Desde pequena, ela buscou momentos de oração, meditação e solidão; nunca uma freira, entrou para a Terceira Ordem Dominicana. Em 1366, ela recebeu outra visão, na qual Jesus colocava um anel em seu dedo, que apenas ela conseguia ver, um símbolo de sua aliança eterna com Cristo. Eventualmente, ela foi chamada, de sua vida de solidão e oração, a compartilhar o dom da sua fé com os outros. Sua santidade logo se tornou conhecida não só em Sena, mas em toda a Toscana. E, crescentemente, as pessoas a procuravam para direção espiritual.
Catarina tinha um especial amor pela Eucaristia. No seu livro “Santa Catarina de Sena: Sua Vida e Tempo”, C.M. Antony descreve a sua experiência eucarística: “Quando Catarina avançou para receber a Santa Comunhão, seu rosto estava brilhando e banhado de lágrimas e gotas de suor. Depois de receber Nosso Senhor, ela sentiu um grande êxtase e, quando se recuperou, não conseguiu falar durante todo o dia”.
Depois, foi explicado que, “no momento da Comunhão, seus sentidos foram retirados totalmente das coisas materiais, as quais ela interiormente percebeu ser, junto com os prazeres intelectuais e naturais, ‘nada além de vazio e poeira’. Então, ela implorou ao seu Esposo Divino que pudesse, dali em diante, apenas agradá-lo e possuí-lo; que Ele tirasse a sua vontade e lhe entregasse a Dele. Isso Ele fez imediatamente, prometendo a ela que, a partir daquele momento, nenhum evento exterior traria dor ao seu coração, mudaria a sua intenção ou incomodaria a sua paz”. O completo abandono à Eucaristia sustentou Catarina em todas as coisas.
Vida pública
Nos seus 20 anos, Catarina foi chamada a interceder na crise do século 14 que ocorria na Itália, na Igreja e especialmente no papado. Em 1309, o Papa Clemente V (1305-1314) decidiu se mudar de Roma para Avignon, França, onde a Santa Sé permaneceu por 70 anos. Não apenas todos os papas de Avignon foram franceses, mas também a maioria viera do Colégio de Cardeais. Essa situação não foi muito bem recebida por muitos católicos fora da França. Também, a ausência de papa em Roma contribuiu à desordem política e religiosa em toda a Itália, situação que fez os papas permanecerem na França.
Em Roma, havia lutas internas na nobreza. Da mesma forma como, em vários estados papais, houve conflitos entre trabalhadores e seus empregados. Em algumas instâncias, esses grupos contratavam mercenários para atacar outros; os mercenários trabalhavam para quem pagasse mais e, quando desempregados, assaltavam as pessoas que viviam no campo. O papa Gregório XI (1371-1378) tentou governar da França, enviando embaixadores, mas eles, muitas vezes, agravaram a situação. Alguns italianos ficaram ao lado do papa, e outros contra ele. A crise em Florença foi especialmente severa e o papa acabou interditando Florença. Catarina usou a sua influência para limitar a hostilidade e foi solicitada pela resistência antipapal em Florença para interceder ao papa em seu nome.
E foi em 1375 que Catarina recebeu o santo estigma. Essas marcas do sofrimento de Cristo não estavam visíveis para outros até a sua morte. “Mas, a seu pedido, Nosso Senhor fez as marcas visíveis apenas a ela, e… as marcas se tornaram muito visíveis após sua morte, como verifica-se pelas suas mãos e pés incorruptos” (“Os incorruptíveis”, Joan Carroll Cruz).
Influência no papado
Em 1376, Catarina foi a Avignon e buscou a atenção do Papa Gregório XI. Os Florentinos agora viraram as costas a ela; ela estava sozinha tentando convencer o Santo Padre a trazer paz aos estados papais e, mais importante, a mover o papado à Roma. Enquanto Catarina considerou o Papa como Vigário de Cristo, ela não hesitou em apontar suas deficiências. Em uma carta encorajando Gregório XI a retornar o papado a Roma, ela escreveu: “O lobo está carregando para longe suas ovelhas, e não tem ninguém para ajudá-las… as ovelhas famintas esperam sua vinda para ocupar e possuir o lugar do seu antecessor, Apóstolo Paulo. Pois, vós, como Vigário de Cristo, deveríeis descansar na vossa própria casa. Venhas, então, não se atrase mais; que vós sejais confortado e não sinta medo por nada que possa acontecer, já que Deus estará com vós”. (“Santa Catarina de Sena, Como Vista em Suas Cartas”, Vida D. Scudder).
Gregório viu alguns obstáculos para essa mudança. Seus cardeais não apoiavam a ação; o papa temia uma tentativa de assassinato no trajeto, e o caos tomava lugar não só em Roma, mas toda a Itália permaneceu em séria preocupação. A abordagem direta de Catarina ao papa não era uma prática comum, e apenas a sua conhecida santidade tornou tal abordagem aceitável.
Papa Gregório, em 1377, muito pela influência de Catarina, retornou a Roma. Um de seus primeiros atos foi enviar Catarina a Florença, como um esforço para trazer paz entre todas as facções conflitantes. Essa missão de paz não foi bem sucedida até que Urbano VI, um italiano, foi eleito papa em 1378. Infelizmente, o fim de uma crise foi seguido de outra.
Defendendo o Papa
Os cardeais que elegeram Urbano rapidamente se arrependeram de sua decisão. Eles perceberam que ele era um reformador fervoroso, um homem arrogante que eliminou os confortos a que tinham se acostumado. Os cardeais deixaram Roma e se reuniram em Anagni, na Itália, onde pediram que Urbano renunciasse ao cargo, dizendo que sua escolha teria ocorrido devido a ameaças dos romanos por um papa italiano. O devidamente eleito papa Urbano se recusou e os cardeais elegeram outro papa, Clemente VII, que retornou a Avignon. A Igreja agora tinha dois papas. Catarina chamou os cardeais de “demônios encarnados” e apoiou Urbano, a quem ela considerava o papa legítimo. Urbano requisitou que Catarina fosse a Roma e pediu a ela ajuda para encontrar uma forma de sair desse dilema, desse cisma. Ela rezou e jejuou continuamente no ano seguinte por uma solução harmoniosa. Mas Deus tinha outros planos; em 29 de abril de 1380, ela morreu devido a um AVC. Catarina deu a sua vida a Deus e à Santa Igreja Católica.
Honrando Santa Catarina de Sena
A Igreja conferiu várias honras à Santa Catarina de Sena. Canonizada em 1461 pelo Papa Pio II (1458-1464), a sua bula de canonização diz: “Ela assistiu aos desafortunados e oprimidos, consolou os pecadores e atraiu-os à penitência pela ternura de seu discurso, ela deu conselhos com alegria… Ela acalmou disputas, apaziguou grande número de violências e acabou com inimizades sangrentas. Dois pontífices romanos a estimaram com tanta grandeza que a encarregaram de grandes negociações e concederam-lhe um grande número de favores espirituais”. Catarina é uma das quatro mulheres chamadas Doutoras da Igreja; seu livro “O Diálogo” é um clássico espiritual. Ela é co-patrona de Roma, patrona da Itália e co-patrona da Europa, além de milhares de Igrejas Católicas com seu nome.
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Autor: D.D. Emmons
Fonte: Teaching Catholic Kids
Traduzido por Maria Augusta Viegas – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Tradução.