Santa Madre Teresa de Calcutá foi, e ainda é, uma pessoa estranha na concepção do mundo moderno. Ela não se escondia atrás de filtros, não tinha um equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, nem interesse pelo seu próprio bem-estar. Servia os mais pobres dentre os pobres da Índia e entregou sua vida para ajudar aqueles que passavam mais necessidade, de forma que, assim que chegavam calçados como doação para ela e suas irmãs, ela sempre escolhia o que havia de pior para si para caminhar pelas ruas escaldantes de Calcutá. Como resultado, seus dedos do pé eram todos desfigurados.
Sua humildade ia exatamente em direção contrária ao mantra relativista atual de “posso fazer tudo o que quiser”. Depois de ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 1979, ela refreou seu orgulho limpando os barracos em seu convento de Calcutá para que seu ego não se inflasse.
Santa Teresa alcançou o prêmio eterno em 1997, apenas alguns anos antes de as mídias sociais começarem a existir. Ela, um fenômeno mundial de misericórdia e justiça social, não dividiu seu tempo ou sua vida com os fenômenos mundiais do Facebook, Twitter e Instagram. Fico pensando se Madre Teresa e essas mídias sociais tivessem coexistido… eles entrariam em choque? Ou teriam se beneficiado um do outro?
Acredito que a primeira opção seria mais provável. Até onde sei, não existe atualmente uma única conta pessoal de um membro das Missionárias da Caridade (MC) nas mídias sociais. Só posso imaginar que Madre Teresa, com seus dedos do pé desfigurados envoltos em sapatos igualmente destruídos, provavelmente deixaria os aplicativos de seu celular em paz (se ela aceitasse ter um, para início de conversa). Parece que essa santa dos tempos modernos não teria outro conselho para nos dar a esse respeito senão: “Você não precisa disso para ser santo”.
As mídias sociais prendem nossa atenção e aumentam muito nosso nível de distração. Quando isso acontece, torna nossa vida de oração desorientada e aleatória, pois a mente não está sintonizada em uma conexão espiritual com Nosso Senhor, mas sim com o constante “zumbido” das distrações digitais. Em vez de contemplar “como posso amar meu Senhor hoje?” ou “O que posso fazer para servir ao meu vizinho”, pensamos “o que posso fazer para ter uns bons tweets?”.
E é aqui que Madre Teresa entraria em ação.
Muitos de nós, contudo, não conseguimos nos desligar das mídias sociais. Felizmente, os escritos de Santa Teresa oferecem auxílio a todos os que sofrem com vícios digitais.
Ela escreveu em sua Regra:
“As irmãs devem passar 1 dia em cada semana, 1 semana em cada mês, 1 mês em cada ano, e 1 ano a cada 6 anos na Casa-Mãe, onde, em contemplação e penitência, juntamente de solicitude, poderá alcançar a força espiritual que deve possuir no serviço aos pobres”.
Madre Teresa: Venha, Seja minha Luz.
Você pode imaginar como seriam nossas vidas se tomássemos essa pequena parte da Regra das Missionárias da Caridade e a aplicássemos no uso de nossas mídias sociais?
Há uma grande necessidade de desapego do mundo digital a fim de unirmo-nos mais perfeitamente ao âmbito espiritual em que encontramos a Deus. Uma pequena forma de fazermos isso é utilizando a fórmula de Madre Teresa para “retirar-se”. Poderíamos passar 1 dia em cada semana, 1 semana em cada mês, 1 mês em cada ano e 1 ano a cada 6 anos distantes das mídias sociais, quando, em contemplação e penitência, possamos reunir as forças espirituais necessárias para proclamar o Evangelho no mundo real e, quando necessário, no digital. Essa regra também poderia ser aplicada a todas as tecnologias desnecessárias, incluindo games, compras online, vídeos de streaming e outros entretenimentos.
Somos os santos da era digital. Entretanto, os fundamentos de nosso crescimento espiritual repousam não no mundo digital, mas no real. Aqui, nossas raízes podem se aprofundar no terreno fértil da santidade, de modo que podemos crescer em meio aos fortes e inquebrantáveis bastiões das necessidades mundiais. Se seguirmos o conselho de Madre Teresa, essas raízes certamente nos ajudarão não só a defender nossas posições contra as armadilhas da modernidade, mas também a colher uma multiplicidade de frutos.
Se formos perguntar a amigos ou familiares, ou mesmo a estranhos, se em algum momento eles sentiram algum tipo de escuridão gerada pelo uso de mídias sociais, posso garantir que todas as pessoas responderiam com suas cabeças em sinal afirmativo. Os perigos do uso excessivo, da postagem incessante e da rolagem sem fim de páginas afetam nosso psicológico. Enquanto criamos contas em redes sociais para nos mantermos mais conectados uns com os outros, acabamos por distanciar-nos de nossas famílias, amigos e comunidades cada vez mais.
Quando sentimos aquela pontada de culpa ao olharmos para o reflexo de nossas telas, seria sábio perguntar a nós mesmos: “A santidade se parece com isso?”.
Se a resposta for “não”, então talvez devamos assumir o conselho de Madre Teresa e nos desconectarmos por um dia, uma semana, um mês, um ano… ou talvez para sempre.
Somos chamados a muito mais.
“Nós interferimos nos planos de Deus quando nos agarramos em coisas ou pessoas que não nos são adequadas. Seja rigoroso consigo mesmo, e depois seja rigoroso com aquilo que você está recebendo do exterior”.
Madre Teresa de Calcutá
Autor: T. J. Burdick
É autor de diversos livros e artigos sobre a fé católica. Escreve e dá palestras sobre como crescer em santidade em meio às distrações e dificuldades do mundo atual.
Fonte: Catholic Exchange
Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação e Formação, além de atualmente participante da coordenação do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.