Longe de ser um texto longínquo, fora da realidade, acima de nós, a Bíblia é uma coleção de livros que nos chama a nos aproximar, a escutar, a ver novamente e a agir corretamente. Algumas vezes, porém, eu vejo que os homens não sabem ler a Bíblia de maneira significativa. E isso é triste porque, na Escritura, nós não somente encontramos histórias que nos desafiam e nos ensinam, mas também porque, escondido no Antigo Testamento e revelado no Novo, Jesus está lá. Nossas vidas são destinadas a serem alcançadas pelo drama da Escritura, para serem mudadas por ela, e assim, alcançar aqueles à nossa volta com maior caridade.
Como estudamos a Bíblia? Tradicionalmente, a Igreja ensina que cada história bíblica tem quatro sentidos, ou quatro maneiras de se lê-las. Lembrar destes quatro sentidos pode adicionar profundidade às nossas experiências de estudo da Escritura, na Missa e em casa.
O sentido literal: Pessoas reais contaram histórias reais sobre eventos reais, de uma maneira que fizeram sentido à elas. Salomão realmente construiu um templo, e um dos profetas de fato escreveu sobre este acontecimento. Pessoas reais mantiveram esta história viva lendo-a, transmitindo-a e refletindo sobre o incrível modo como Salomão deu glória a Deus e sobre a condescendência de Deus ao descer para habitar na casa construída por Salomão.
O Espírito Santo também foi autor, então podemos ter a confiança de que os próximos três sentidos também estão presentes na Escritura:
O sentido alegórico: No caminho para Emaús, Jesus encontrou dois discípulos que não conseguiam compreender a Morte e Ressurreição de Cristo. Então, “começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras.” (Lc 24, 27). Tudo na Bíblia revela algo de Jesus. Jesus realmente disse que o Templo seria destruído e reconstruído, mas quando Ele falava, “Ele falava do templo de seu corpo.” (Jo 2, 21). A admiração que tivemos com os esforços de Salomão para dar glória a Deus, fornecendo-O uma casa, agora, ilumina Maria, que entregou sua vida ao serviço a Deus para lhe proporcionar um lar, e a condescendência de Deus que vimos no Antigo Testamento se torna um total kenosis: o auto-esvaziamento do Filho de Deus ao se tornar Homem.
O sentido moral: São Paulo diz a Timóteo que “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça.” (2Ti 3, 16). Em outra carta, São Paulo se utiliza da imagem do templo e diz “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3, 16). O Espírito Santo deseja que vivamos de uma maneira diferente: “Eu trato meu corpo como um templo?”, “Eu olho para as outras pessoas como se elas fossem templos?” – templos, lembre-se, são lugares de sacrifício, de reconciliação, e de reunir toda a criação em um microcosmo – e “O que seria diferente se eu o fizesse?” são questões que podem ajudar a descobrir o sentido moral do Templo de Salomão, por exemplo. Uma das regras de Santo Agostinho para estudar a Escritura era que qualquer verdadeira interpretação teria de levar a uma maior caridade. “Como meu coração está aprendendo a amar mais acertadamente nesta história?”.
O sentido anagógico: Moisés recorda no Monte Sinai que o tabernáculo deveria ser feito de acordo com o que ele viu em sua visão celestial: “Farão-me um santuário e habitarei no meio deles. Construireis o tabernáculo e todo o seu mobiliário exatamente segundo o modelo que vou mostrar-vos.” (Ex 25, 8-9). A Escritura nos leva ao Céu, e as histórias contidas nela apontam para realidades celestiais. Como São João descobre em sua visão do Céu: “Não vi nela, porém, templo algum, porque o Senhor Deus Dominador é o seu templo, assim como o Cordeiro.” (Ap 21, 22). O Templo de Salomão é uma preparação ao Céu. O prazer que os antigos israelitas tinham em seu templo é um prenúncio do prazer do Céu.
E assim é para cada história na Escritura, desde a Criação até Apocalipse. Quer estejamos ouvindo na Missa, nos juntando a um grupo de estudo, ou lendo sozinhos, a Palavra viva de Deus anseia atravessar a página e adentrar em nossa história. Homens por todos os tempos meditaram proveitosamente sobre as histórias dos que vieram antes. Você pode ter certeza de que, conforme você lê sobre José, no Gênesis, ele refletia sobre as histórias de Abraão, Isaac e Jacó, seu pai, seu avô e seu bisavô. Pode ter certeza de que Davi teve aqueles homens em seu pensamento, assim como as histórias de Moisés, Josué e os juízes de Israel, já que ele mesmo governou Israel. E pode ter certeza de que uma das coisas que tornou os maus reis de Israel e Judá tão ruins, é que eles nunca gastaram tempo meditando sobre essas histórias. Grandes reis, grandes líderes, grandes pais, e grandes homens encontraram forças nestas histórias; por que também não nós?
Comece pelo literal – entenda o que o texto significa – e depois se pergunte: “Onde Jesus está nesta história?”, “Como posso viver diferentemente agora por causa desta história?” e “O que isto está dizendo sobre nossa união final com Deus?”. Encontraremos Jesus de novas maneiras, encontraremos novos pontos a amadurecer, e nossos corações então aprenderão a viver na esperança, quando o fizermos.
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Autor: Joseph Gruber
Escritor do Blog “Those Catholic Men”. É onde jovens rapazes, que enfrentam problemas reais neste mundo tão rápido e digital, buscam direção, sabedoria e orientação. É onde maridos, pais, irmãos e amigos vão para se libertar da escravidão da Netflix, do álcool, da pornografia, das redes sociais e dos video games, encontrando fraternidade e a vida centrada em Cristo que tanto ansiavam.
Fonte: Blog Those Catholic Men
Traduzido por Gabriel Dias – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.