Partilhando da fé pascal de Maria

“Ele viu e acreditou”.

Por que a Bem-Aventurada Virgem Maria está notavelmente ausente em todas as narrativas evangélicas sobre a Ressurreição, ainda que ela seja aquela mais intimamente conectada ao corpo de Jesus? Ele foi concebido em seu ventre pelo poder do Espírito Santo e ela O gestou por nove meses. Deu-O à luz em uma manjedoura, viveu junto Dele por trinta anos em Nazaré, percorreu com Ele o caminho até o Calvário, testemunhou sua morte brutal e recebeu Seu corpo desfalecido para que o sepultasse. Por que ela não está entre as mulheres e discípulos que buscaram o corpo morto de Jesus?

A resposta é simples: Ela acreditou que seu Filho ressuscitaria também em seu corpo, e o fez fundamentada na Pessoa Divina que Ele é e nas palavras que lhe proferira. Ela não começa uma busca frenética pelo corpo morto de seu Filho, mas, tendo feito tudo o que deveria ao agir de acordo com Suas palavras e promessas, pacientemente esperou, em meio a uma confiante fé, na Ressurreição de seu Filho como cumprimento de Suas promessas a ela.

Maria acreditou nas palavras do Anjo na Anunciação a respeito do reino eterno de seu Filho: “Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo… E seu reino não terá fim” (Lc 1, 32.33). Ela acreditou nas divinas promessas, como confirmara Isabel: “Feliz é aquela que acreditou, pois será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1, 45). O próprio Jesus a confirmou em sua fé invencível: “Aquele que faz a vontade de meu Pai no céu, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 12, 50). Ouviu atentamente aquilo que Deus lhe dizia direta ou indiretamente através de pessoas e acontecimentos: “Ela guardava todas essas coisas, meditando sobre elas em seu coração” (Lc 2 ,19). Foi assim que nutriu aquela fé invencível sobre a qual São Paulo afirma que só nos vem através da escuta da palavra de Deus: “A fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo” (Rm 10, 17).

O discípulo amado viu muitas coisas antes de crer na Ressurreição de Jesus. Foi só depois de contemplar o túmulo vazio e as roupas com que fora enterrado que ele “viu e acreditou”. Nossa Senhora não precisa ver nenhum sepulcro vazio ou as roupas com que fora sepultado como evidência da Ressurreição de Jesus. Ela não precisa ver anjos ou ouvi-los dizer que seu Filho crucificado está vivo novamente. E ela definitivamente não precisa ouvir das outras mulheres que o Filho não está mais no túmulo. Nenhuma pessoa ou experiência de vida poderia separar as palavras de Deus de seu coração porque ela amorosamente agiu de acordo com elas, e pacientemente esperou que Deus realizasse Suas promessas a ela e a toda a humanidade, especialmente Sua promessa de ressuscitar depois de morrer no Calvário.

Nosso Salvador Ressuscitado, Jesus Cristo, convida-nos e desafia-nos a adentrarmos em uma inigualável felicidade ao acreditarmos na Sua Ressurreição por causa de Suas palavras a nós, e não por causa do que vemos ou experimentamos. Ele nos chama a essa beatitude quando disse a Tomé após a Ressurreição: “Felizes os que acreditaram sem terem visto” (Jo 20, 29). Nós O glorificamos mais quando, por causa de suas palavras, acreditamos Nele, em Sua Ressurreição e presença junto de nós.

Há muitas coisas que acreditamos existir hoje, mas as quais nunca vimos e talvez nunca vejamos. Crer nessas coisas também afeta a forma como vivemos. Por exemplo, quantos de nós já vimos o vírus da COVID-19? Com o que ele se parece? Como é constituído? Nós pessoalmente não sabemos, mas cremos que ele é real e pode estar presente. Essa fé nos move a tomarmos todas as precauções necessárias para evitar o contágio e a disseminação da doença. Nós acatamos lockwdowns, quarentenas e todo tipo de coisa por causa dessa crença.

Mas então por que, quando se trata da palavra de Deus e de Suas promessas para nós, começamos a duvidar e a questionar Suas palavras a nós com base naquilo que vemos ou não, experienciamos ou não? Ressuscitando Jesus dos mortos, Deus cumpriu todas as suas promessas para nós: “A promessa feita a nossos pais, Deus a tem cumprido diante de nós, seus filhos, ressuscitando Jesus dos mortos” (At 13, 32-33). Pela Ressurreição de Jesus, Deus provou que Ele mesmo e suas palavras são verdadeiros e confiáveis para além de qualquer dúvida. Como pessoas que vivenciam a Páscoa, a Ressurreição de Jesus exige que nós agora ouçamos Suas palavras com completa fé e confiança, e não as julguemos com base em nossas experiências presentes ou passadas na vida. Cultivamos aquela fé pascal segundo a qual Jesus está vivo e ressuscitado do túmulo ao ouvirmos suas palavras e agirmos de acordo com elas, com grande confiança que Ele verdadeiramente cumprirá as promessas feitas a nós.

Maria Madalena se senta no sepulcro e chora copiosamente. Todos os discípulos se foram e ela fica sozinha e desamparada porque o Homem em quem ela confiou e seguiu por todos esses anos está morto, e ela não pode nem mesmo encontrar o seu corpo. Viu a pedra movida para o lado, falou com os discípulos e falou sobre o pior cenário que ela poderia pensar: “Levaram o corpo do Senhor, e são sabemos onde o colocá-lo”. Inadvertidamente, falou com anjos e lhes disse as mesmas palavras. Nada que ela tivesse vivido ou experienciado fazia com que ela acreditasse na Ressurreição, até que Jesus dissesse seu nome: “Maria”. Ela recobrou a fé e recebeu um encargo: “Vá até meus irmãos e diga a eles que vou para meu Pai e vosso Pai” (Jo 20, 17).

Quem de nós não se encheria de assombro se ouvíssemos alguém chamando nosso nome enquanto estamos sozinhos em um cemitério? Mas nossa fé no Cristo ressuscitado é inflamada se a voz for a de Jesus. O Cristo ressuscitado está vivo e fala conosco, chama-nos pelo nome sempre e em todas as condições e lugares, mesmo em meio aos túmulos!

Acaso o vírus do Covid-19 não tornou nossas vidas e nosso mundo como um cemitério? Sentimo-nos tão isolados e desconectados uns dos outros dado o distanciamento social. Ouvimos e experienciamos tantas coisas no mundo por meio das mídias que é difícil sentir, em meio a tudo isso, a presença do Cristo ressuscitado. Tentamos evitar aquele profundo silêncio através de conversas sem-fim com qualquer pessoa sobre assuntos a respeito dos quais nos sentimos desesperançados. Pensamos nos piores cenários que podem acontecer conosco e os compartilhamos com os outros.

Mas quanto tempo gastamos com Deus, que está em comunhão conosco, vivo e habitando em nós? Quão sinceramente ouvimos Suas palavras na Escritura e na oração? Quanta segurança depositamos em Suas promessas? Como respondemos à gentil voz do Cristo ressuscitado, que nos chama pelo nome e nos convida a uma maior intimidade com Ele? Temos o hábito de nos desculparmos sobre não termos uma vida de oração por não termos tempo. Agora que temos bastante tempo por conta de lockdowns, quantos de nós estão gastando tempo de qualidade com Cristo, em oração? Acaso não estamos ocupados demais conversando com outras pessoas, que não Jesus, sobre estarmos perdendo nossa fé em Sua presença viva? Ainda temos consciência da missão que Ele nos confiou mesmo nesses momentos?

Nossa Senhora nos indica a forma correta de respondê-Lo em tempos como os nossos com a sua própria fé pascal: ouça e aja de acordo com as palavras de Deus com fé, e espere que Ele cumpra Suas promessas. Queremos aprender por ela como ponderar cada pequena coisa, pessoa e evento em nosso coração, até que sejamos capazes de ouvir a voz de Deus por detrás de todo o barulho dentro e fora de nós. Queremos aprender por ela como agir de acordo com Suas palavras em uma amorosa obediência. Queremos aprender por ela como esperar até que Ele cumpra Suas promessas.

Jesus está conosco, ainda que nos sintamos como que solitários em meio a um cemitério. Ele nos vê mesmo quando estamos como que com os olhos fixos em túmulos vazios, com a mente cheia de cenários ruins. Ele quer que levemos a esperança do Evangelho aos outros também.

Unidos à Virgem Maria e modelados pelo seu coração fiel, também podemos ouvir a voz Dele chamando-nos para uma verdadeira comunhão de vida entregue junto Dele, que verdadeiramente está ressuscitado do sepulcro e vivo. É essa comunhão com Nosso Senhor ressuscitado que nos faz, infalivelmente, estar em missão cheios de esperança por Ele no mundo de hoje, quando parecemos estar em meio a sepulcros.

Feliz Páscoa!

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Autor: Pe. Nnamdi Moneme, OVM

Pe. Nnamdi Moneme é um sacerdote da Igreja Católica e Oblata da Virgem Maria, hoje atuando como missionário das Filipinas. Ele trabalha em retiros da Congregação e na Casa de Formação para noviços e teólogos em Antipolo, Filipinas.

Fonte: Catholic Exchange

Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação e Formação, além de atualmente coordenador do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.

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