Vivemos numa sociedade com grande medo da doença e do sofrimento, como demonstram a reação ao coronavírus e a legalização do suicídio assistido em alguns estados americanos. Uma maneira de diminuir esse medo entre os católicos é torná-los mais conscientes de que existe um sacramento que pode proporcionar graças que permitem a uma pessoa doente ser curada ou estar preparada para morrer e estar com Deus, de acordo com a vontade do Senhor. Saber que o Sacramento da Unção dos Enfermos está disponível se ficarmos gravemente doentes deve dar-nos a confiança de que, aconteça o que acontecer, Deus pode nos dar as graças de que necessitamos.
A Unção dos Enfermos foi instituída por Jesus quando deu aos seus Apóstolos o poder de curar as pessoas. O Evangelho de S. Marcos diz-nos que os Apóstolos “ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos” (Mc 6,13). Na Igreja primitiva, o sacramento era administrado de forma semelhante à atual. Na sua epístola, S. Tiago escreveu: “Está alguém entre vós doente? Convoque os presbíteros da Igreja, e eles rezem sobre ele e unjam-no com óleo em nome do Senhor, e a oração da fé salvará o doente e o Senhor levantá-lo-á. Se ele tiver cometido algum pecado, ser-lhe-á perdoado” (Tg 5, 13 – 15).
A Igreja recomenda que os católicos recebam a Unção dos Enfermos quando estiverem em perigo de morte por doença ou velhice, ou antes de uma operação grave. Em cada uma destas situações, uma pessoa pode sentir medo ou ansiedade. A recepção do sacramento dar-lhe-á a cura espiritual, o aumento da fé, a paz e a força necessárias para suportar o sofrimento. O Catecismo da Igreja Católica ensina que: “Pela graça do sacramento, o doente recebe a força e o dom de se unir mais intimamente à Paixão de Cristo: de certo modo, é consagrado a dar fruto por configuração à Paixão redentora do Salvador” (parágrafo 1.521). Tal como os membros da Igreja rezam pelo doente, este ajuda os outros através do seu sofrimento. “Pela celebração do sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos, intercede em favor do doente, e este, por sua vez, pela graça deste sacramento, contribui para a santificação da Igreja e para o bem de todos os homens pelos quais a Igreja sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai” (Catecismo, 1522).
O sacramento pode ser recebido mais de uma vez, por exemplo, se o estado de saúde do doente se agravar. Se a pessoa não se recuperar, a Unção dos Enfermos prepará-la-á para estar com Deus. Se a pessoa estiver nos últimos momentos de sua vida, pode receber a Sagrada Comunhão como viático. Muitos padres dão o Perdão Apostólico a uma pessoa moribunda depois da unção e do viático. Esta oração proporciona uma indulgência plenária que elimina o castigo temporal do pecado.
A Igreja recomenda que os católicos se confessem antes de receberem a Unção dos Enfermos se tiverem cometido algum pecado mortal. A Unção não deve ser um substituto do sacramento da Penitência. No entanto, se não puderem confessar-se, os seus pecados podem ser perdoados através do sacramento da Unção dos Enfermos. Uma pessoa doente pode receber o sacramento em casa, num hospital, num lar de idosos ou em caso de acidente ou doença súbita, como um ataque cardíaco, no lugar em que a pessoa doente estiver. Também pode ser recebido na igreja, pois algumas paróquias oferecem a Unção dos Enfermos uma vez por mês no final da missa. A Unção dos Enfermos só pode ser administrada por padres e bispos. Tal como acontece com os outros sacramentos, é Jesus que dá as graças à pessoa através das palavras e ações do padre ou do bispo. Eu, particularmente, tenho testemunhado o efeito positivo deste sacramento em pessoas que amo: minha mãe recebeu a Unção dos Enfermos em mais de uma ocasião quando esteve hospitalizada devido a um problema cardíaco grave. Em cada uma das vezes foi curada e também cresceu na fé e na confiança em Jesus, chegando mesmo a ansiar pelo momento em que estaria com Ele no Céu. Recebeu a Unção dos Enfermos pela última vez alguns dias antes de morrer de pneumonia em 2008. Creio que Deus lhe deu a graça de morrer em paz, com a esperança da vida eterna. Um dos meus diretores espirituais, Padre Rooney, recebeu a Unção dos Enfermos quando teve um grave problema de saúde e voltou a recebê-la no dia em que faleceu. Tinha muita fé, uniu o seu sofrimento a Jesus e morreu em paz. Para além de proporcionar graças à pessoa doente, penso que o sacramento confere também consolação e paz à família e aos amigos da pessoa. Quando a minha mãe recebia a Unção dos Enfermos, sentia a paz de que ela estava a ser ajudada por Jesus e seria curada, e quando a recebia no fim da sua vida, confiava que ela estaria preparada para estar com Ele.
Por vezes, os familiares esperam para chamar um sacerdote até que o doente esteja a morrer. Não é bom adiar porque o padre pode não conseguir vir antes de a pessoa morrer ou a pessoa pode não estar consciente (embora ainda possa receber o sacramento). Como há tantos benefícios em receber a Unção dos Enfermos, é melhor não esperar demasiado tempo para a pedir para si ou para um familiar. Acredito ser uma obra de misericórdia para os católicos ajudarem qualquer católico que conheçam que esteja gravemente doente ou a morrer a receber a Unção dos Enfermos. A pessoa doente pode estar demasiado fraca para contactar o padre e a sua família pode não compreender ou não acreditar nas graças deste sacramento, não considerando necessário chamar um padre. Nestas circunstâncias, um familiar ou amigo pode falar com o sacerdote em nome do doente. Se a pessoa estiver no hospital, pode contactar o padre que é o capelão do hospital. Se o hospital não tiver um padre capelão, ou se o seu amigo ou familiar estiver em casa ou num lar de idosos, pode entrar em contato com o pároco da sua paróquia. Se ele não pertencer a nenhuma paróquia, pode buscar qualquer padre que conheça, pois a maioria dos padres fica feliz por poder levar a cura e a consolação de Jesus aos doentes através deste sacramento.
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Autor: Louise Merrie
Louise escreve artigos católicos em diversas revistas americanas e é fundadora da Comunidade de Maria, Mãe de Misericórdia, uma organização em que padres anciãos e leigos católicos se auxiliam mutuamente por meio da oração e da amizade na caminhada como discípulos de Jesus.
Fonte: Catholic Exchange
Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – Membro da Rede de Missão Campus Fidei, servindo no Núcleo de Comunicação e Formação, além de atualmente participante da coordenação do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília – DF.