O principal desafio da Bioética atual é resgatar os elementos antropológicos que colocam o homem diante de quem ele realmente é. As perguntas essenciais: ‘quem é o homem e qual seu lugar neste mundo?‘ devem direcionar os avanços e as pesquisas da Bioética. A antropologia vem nos iluminar quanto aos pontos de atenção de que devemos ter em relação a homem – a pessoa humana – e naturalmente nos ajudará a traçar caminhos para uma Bioética mais pessoal.
Compreender que o homem foi criado para o céu e não para esta vida (cf. Evangelium Vitae, 2) nos conduz a uma bioética mais mística e libertadora. É importante entender que esta mística significa desenvolver um horizonte de sentido para bioética. A mística é a união íntima do homem com Deus, quanto mais compreendemos a mística mais compreenderemos sobre esta união. Portanto, entender quem é o homem e para o que ele foi criado nos ajudará a entender e conduzir melhor as diretrizes da Bioética.
Vejamos, por exemplo, que as noções de doença, sofrimento e morte não podem ser absolutas e intoleráveis para a bioética. Devem antes de mais nada serem parceiras na compreensão da plenitude da vida do homem. Entender que estas situações difíceis, que nos surgem, tratam-se na verdade de dons, auxilia em nossa solidariedade diante da própria pessoa humana. O objetivo que antes era ‘cuidar da doença’ ou ‘curar o paciente’, passa a ser: ‘levar a dignidade àquele que sofre’ e elevar o coração daquele que sofre ao verdadeiro sentido do sofrimento humano (cf. Salvifici Doloris, 4).
sofrimento e morte não podem ser absolutas e
intoleráveis para a bioética
Em meios hospitalizados a dor desnorteia a vítima e a impõe ter que realizar um tratamento ou vários procedimentos. É neste momento em que a pessoa, com a uma visão para a eternidade, transforma seu sofrimento em virtudes, compaixão e solidariedade. A certeza de ser amada por Deus e o Espírito de Cristo geram a alegria e o bom humor necessários para passar pelas dificuldades. “Onde quer que a alegria esteja ausente, onde quer que desapareça o senso do humor, com certeza ali não estará o espírito de Jesus” (J. Ratzinger, Teoria de los principios teologicos).
Alguns sofrimentos, em certos pontos, não podem mais ser evitados, de tal forma que nos resta apenas aceitar e sofrer a dor. Longe do pensamento de que a felicidade esteja em livrar-se da dor, encontramos a verdadeira resposta no sermão da Montanha (cf. Mt 5) que nos ensina à luz de Cristo a saber suportar as perseguições e contrariedades.
Francisco Faus em sua obra ‘A paciência’ nos recorda que “é preciso dizer desde já que a impaciência, em si mesma, na sua essência mais íntima, consiste em não saber sofrer“. A mística que devemos buscar na bioética deve passar por esta capacidade de saber sofrer pacientemente. Todo o esforço para ajudar o homem deve principalmente ser um esforço para ajudar na salvação desta mesma pessoa. A verdadeira salvação não se dá apenas diante da superação sofrimento temporal, mas propriamente do sofrimento eterno da alma (cf. Salvifici Doloris, 14).
Referência Principal: Bioética na América Latina – Algumas questões desafiantes para o presente e para o futuro – Pe. Leo Pessini